Realidade

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A escuridão tomou Konoha, deixando um ar tão mórbido quanto a chuva que teimava a caiar. O céu noturno tomado por nuvens cinzas, deixando tudo ainda mais sombrio apenas realçava o quão deprimente a vila da folha vinha se tornando.
Alguns veriam isso como mal pressagio, um aviso de que algo muito ruim estava para acontecer. Os mais céticos diriam que era só mais uma chuva normal, para os esperançosos, restava esperar tudo passar. Quando não se pode fazer nada, resta esperar. Quando só se pode esperar, toma o desespero, a agonia, a inquietação. O sentimento ruim na barriga, acompanhado de suor gelado e pensamentos negativos. Sakura sabia que para uma medica ninja, aquele era um misto de sentimentos perigosos, que podiam custar a vida de alguém.

Mas o que podia fazer?

Nada. — A voz dentro de sua cabeça soou fria, cruel. — Ele vai morrer por sua causa.

Para alguém que carrega culpa, existe tortura pior que ser atormentada pela própria mente? Não a como fugir de algo que está dentro de você, ignorar é quase impossível, conviver com também. Você luta contra ou aceita, O que fazer quando seu pior inimigo é você mesmo? É uma pergunta recorrente, pouco difusa, quase cega. Eu entraria em desespero, talvez sentiria medo. É normal sentir medo de algo desconhecido e mais forte que você, soa ameaçador. A escuridão tende a esconder monstros, e os espelhos a  revelar eles.

— Eu fiz tudo que pude...  — A voz saiu baixa, embargada pelo choro, tomada de amargura. Quase travada pelo nó na garganta.

Não, Não fez. Se tivesse feito ele já estaria de pé. Sorrindo, gritando, como sempre.

Sakura abraçou as próprias pernas, se consolando.

Você é um fracasso, não pode ajudar nem ajudar o homem que te ama.

Aquilo se repetia dentro dela, como eco. Só que ao contrario, invés da voz ir sumindo, ela aumentava, cada vez mais alta. No tempo que passou ao lado dele, não pode fazer algo significativo. Que realmente o ajudasse a melhorar, e isso a consumia. Agora que ele estava longe, tudo era reduzido a zero. Sentia-se um fracasso como médica, principalmente como amiga. O peso de suas ações estavam sobre suas costas, toda a responsabilidade do caso também.

— Pelo menos eles estão fazendo algo que o ajude...

Cá estava ela, como no começo. Depositando suas esperanças em terceiros. Se derramando em lagrimas, se afundando no desespero. Só podia fazer isso, né? Chorar, sentir-se inútil. Era fraca, incompetente, era mais fácil admitir seus erros, fracassos. Reconhecer seus esforços se tornou algo impossível.

Você é fraca. Inútil. — Ela acabou de repetir a mesmo coisa para si, em outro looping.

Por mais que quisesse se consolar, dizer a si mesma que fez o que pode não tinha mais efeito. Restava aceitar, engolir a força a realidade.

— Eu fiz o meu máximo... eu fiz...

Dias sem dormir, passando noites em claro de plantão, lendo e estudando novos métodos medicinais. Tudo e todas as formas que pensou e fez para ajuda-lo tentando, pelo menos, amenizar um pouco da dor que era aliviante apenas para a rosada, ele continuava sofrendo. Gritando e chorando enquanto seu corpo cuspia sangue. Suas bandagens continuavam manchandas, e ela não conseguiu se quer parar isso definitivamente, ao menos os sangramentos que pensou serem internos. Perdeu horas, que juntando podiam ser dias, até semanas. Curando, usando todo seu chackra, até quase desmaiar. Mas nada funcionava, nada.

Era inútil.

— Não posso viver sem ele...

A agonia continua, cada vez mais forte. Era como se pressentisse a morte, como se soubesse que ela estava em seu encalço. Se quer realmente podia viver sem Naruto? Ela duvidava, nunca parou pra pensar. Uma vida sem ele era impossível, quase inimaginável. Pensar que não o teria mais gritando sempre em seu ouvido nos encontros com seus amigos, pensar que não teria mais ele a chamando para sair. Doía na alma, parecia rasgar a carne. Estava doendo muito. Não conseguia se imaginar aceitando uma vida sem ele. Naruto era alguém querido no mundo todo. Mas ninguém o amava como ela, era sentimento forte demais, estava além da própria Sakura. Ainda trancada em seu quarto, jogada em sua cama. Ela se viu decadente. Era torturante, pensar, que não muito tempo atrás, reuniu-se com ele para comer seu ramén favorito. Se soubesse que era a última vez teria terminado de comer o pote.

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