Silêncio

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Depois de horas e horas em cirurgias, check-ups em pacientes e pilhas de papéis para assinar. Ela sentiu que merecia descansar quando seu corpo relaxou no fuuton macio ao lado da cama do loiro. A rosada jogou esses pensamentos do hospital pra longe, ela iria fazer como planejou a semana toda, ir até a casa do Uzumaki, teriam uma conversa franca com ele momento ou outro, quando tivesse coragem. Sem mais mentiras, sem encenações. Sua mão tremeu, coragem, Shannaro! Você consegue.

Quando Sakura chegou, sentiu seu coração parar assim que pisou no tapete ao pé da porta. Escutou a voz dos dois, distantes, estavam rindo enquanto conversavam, pareciam se divertir. Ela travou, deveria mesmo bater na porta? Ela deu voltas, de um lado para o outro, várias vezes. Estava de frente para a porta do Uzumaki, indecisa se batia ou não. Estava tão determinada minutos atrás, que quando deu por si já estava com medo, receosa. Sua barriga embrulhou, o que iria falar? De repente, a porta se abriu. Naruto a encarava parado. Bom, agora era tarde demais para fugir. Por um segundo que se encararam, ficou parada perdido naquele mar que eram os olhos azuis dele.

Logo depois de entrar, ela viu que eles estavam na sala, comendo Lamén de porco. Minami ria muito, mas quando viu sua chefe mudou sua postura, parecia tensa. Sakura sentiu que o ar mudou assim ela chegou, ficou... estranho. Talvez, tenha atrapalhado algo? As coisas que ino falou vieram a cabeça, atormentando. Sakura jogou pra longe, a loira falava demais as vezes. Eles apenas estavam se tornando amigos, certo? Não tinha direito de sentir ciúmes. Naruto era livre para ficar com quem quiser, então por que ela estava tão incomodada?

Depois que Minami foi embora, restou apenas os dois e aquele silêncio incômodo que teimava em ficar entre eles. Ela não sabia o que dizer, queria ser amigável, receptiva. Queria demonstrar que ele podia falar com ela, ma como faria isso? Ela não sabia. Ficaram minutos em silêncio, quase horas. Era tão estranho estar assim com ele, com Naruto, que sempre foi barulhento. Sakura se perguntou em que momento as coisas ficaram assim entre eles.

Duas horas depois que chegou, eram quase oito da noite, ela deu uma outra doze do remédio a base de orquídeas. A seringa perfurou a nuca do loiro de leve, ele não reclamou. Ela viu aos poucos o líquido azul indo embora, aquilo estava sendo muito benéfico para o loiro. Enquanto fazia isso, ele conversou com a Haruno, fez perguntas sobre as orquídeas, como ela descobriu. Falou sobre como se sentia melhor depois de cada seringa. Mas esqueceu de citar o sangramento, talvez, Naruto não seja tão sincero sobre seu real estado quanto ela gostaria. Ela nunca soube desse acontecimento, acho que ninguém chegou se quer a sonhar com isso.

Então veio a hora de dormir, Sakura parou ao lado da cama dele. O loiro escovava os dentes. Ela passou a mão de leve pela fronha, lembrando-se de quando deitou aqui com ele. Suspirou, olhando para o fuuton aos seus pés. Seus erros a fizeram perder a chance de dormir com ele, suas escolhas levou-a até ali. Não na cama dele, mas ao lado, num fuuton no chão. Sakura se contentou sorrindo triste, não merecia nem isso. Não merecia nem ficar ao lado dele, depois do que fez. Não merecia nada além de desprezo. Seria mais fácil para ela conviver com o ódio dele, assim como ele estava, era torturante. Não demonstrava nada, rancor ou raiva, nem mesmo tristeza. Para Sakura, o Naruto que todos conhecia havia morrido, e foi ela quem matou. Dilacerou os sentimentos dele, que sempre foram puros e sinceros. Ela não merecia ele, A rosada sabia bem disso. Sua mente gritava que não era digna, mas seu coração dizia que devia lutar por ele. Torná-lo seu, como deveria ser desde o começo, como sempre foi, mas não valorizou. Ela só queria vê-lo sorrir de novo e convida-la para comer Lamén como antes, mas parece que ele comia com outra pessoa agora.

Reaparecendo, ele estranhou a rosada estar olhando para o teto, a garota já havia deitado. Claramente estava relaxante, devido a expressão dela, mas ele não disse nada. Por que deveria? Ele se perguntou, não era de sua conta o que ela pensava enquanto encarava seu teto. Talvez ela só estivesse preocupada com o hospital, não importava. Também se deitando, ele fitou o teto como ela fazia. Os dois não falavam nada, se perderam em seus próprios pensamentos.

Naruto começou a divagar, lentamente ele se perguntava por que merda aceitou isso. Ela estava bem ao seu lado, Sakura estava bem ali. Mesmo depois de tudo, ela continuava em sua vida, dando um jeito de entrar em seu espaço. Estava permitindo? Ele se perguntou, estava deixando Sakura se aproximar mesmo depois de tudo que ela fez? Ele se xingava mentalmente por ser idiota a esse ponto. Mas por outro lado, sentia seu coração acelerado desde que sentiu o cheiro doce do perfume dela. Ainda a amava? A pergunta que Shikamaru fez mais cedo voltou. Amava? Não sabia. Ele não sabia, estava confuso. Diria desnorteado. Sempre que pensava sobre sua cabeça ficava nublada e seus sentimentos turbulentos como furação. De uma coisa tinha certeza, não a odiava. Não conseguia, mesmo se tentasse. Ela estava ali, do seu lado. Ao mesmo tempo, tão longe. Podia estar junto com ele em sua cama, como ele sempre desejou. Mas ela não queria isso, nunca quis. Sakura Haruno nunca quis Naruto Uzumaki, isso era fato. Estava escrito em pergaminho e carimbado com celo oficial do Hokage. Mas ele tentou, tentou de todas as formas e jeitos conquista-lá. Criou expectativas quando descobriu que ela não tinha mais sentimentos por Sasuke, mas suas esperanças aumentaram naquela missão. No pais do arroz, os dois foram enviados para concluir juntos, ela iria em busca de alguns medicamentos e ele seria sua escolta. Passando a noite numa barraca montada na floresta do fogo, Sakura foi até a sua e algo aconteceu lá. Eles fizeram sexo, desferiram juras e gemidos um contra o outro. Foi intenso, a melhor sensação que poderia provar, por que era com ela. Quando voltaram, o loiro não entendeu o que eram, muito menos esperou ela lhe dizer. Sentia que nunca teria essa resposta se ficasse apenas esperando. Então foi até ela, lhe pediu em namoro. Agora ele se perguntava por que, por que fez isso? Se sentia um idiota, burro, ingênuo. Era tão óbvio agora que ele simplesmente riu sozinho, esquecendo que ela estava do seu lado vendo tudo. O que aconteceu naquela noite foi apenas carência da parte dela, jamais o amou como ele esperava, ou acreditava. No final tudo que aconteceu era culpa dele mesmo e suas expectativas que criou sozinho.

Sakura estava intrigada, se assustou quando escutou a risada dele. Do que ele estava rindo? Ela se perguntou, não tinha coragem para falar nada. Devia ser Minami, eles estavam se divertindo tanto quando chegou, o loiro estava lembrando dela. E se não? Ela fez careta, essas paranóias eram culpa de Ino, a loira maldita ficava em seu ouvido falando besteiras. Suspirou, não conseguiria dormir nem se quisesse. Sua cabeça estava repleta de pensamentos, coisas que não conseguia dizer. Era tão covarde. Ele estava bem ali, do seu lado. É só falar, parecia tão simples. Mas mesmo algo simples como falar se torna difícil quando se tem medo apertando o peito. Era insegura, covarde, sabia bem disso. Sua insegurança aumentava quando percebia que ele não fazia esforço nenhum para dirigir a palavra a ela, muito menos a olhava. Era tão desesperançoso, sabe, olhar para ele e ver que nem seu olhar de admiração tinha mais. Perdeu tudo, e era culpa dela. Perdeu o amor dele, mas era sua culpa, toda sua. Não merecia nada dele. Mas doía tanto saber disso, colher os frutos de suas atitudes era doloroso demais. Nesse momento, ela queria algo que nunca deu a ele verdadeiramente. Esperança. Se ele apenas lhe desse uma brecha, com toda certeza aproveitaria. Mas não tinha, não merecia uma. E não tinha direito nenhum de cobrar isso dela, nunca o deu. Ah, se arrependimento matasse, Sakura estaria morta a muito tempo. Seus erros pesavam, a realidade machucava, era difícil de entender e aceitar o peso de tudo. Como iria se redimir por todo mal que fez? Não sabia. Como iria chegar até ele? Também não sabia. Mas com toda certeza não iria desistir, devia isso a ele, que sempre lutou por seus sentimentos.

A chuva começou a cair lentamente lá fora, o céu ia sendo tomado por nuvens cinzas aos poucos. O barulho das gotas quando entravam em contato com o chão mostrava quão forte a chuva estava. Naruto desviou os olhos da janela assim que o vidro embaçou, Konoha passava por um época de muitas chuvas. Estava começando a esfriar, ele se virou na cama, ficando de costas para a rosada. Ele não viu, mas ela fez uma cara triste. Era difícil. Não, era impossível negar que havia algo de estranho entre os dois. Apenas um cego não veria. Para qualquer um que olhasse, eles eram dois estranhos dividindo o mesmo quarto. Era incômodo, desconfortável. O gelo não foi quebrado naquela noite, Sakura precisaria de muito mais que apenas simples palavras, que não foram ditas. No fundo, ela sempre soube que não seria tão simples, era notório. Que, quando ele acordasse, nada séria como antes. Tudo mudou junto com ele, a própria Sakura também, e mais tarde descobririam que o destino do mundo também mudou.

Tudo era apenas uma grande tragédia.

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