Pete não pretendia voltar naquele grupo. As pessoas ali eram legais, especialmente a doutora Nicholson. Mas algo dizia que não conseguiria se encaixar ali. Como sempre, ele era um covarde. Fugia das coisas que exigiam muito dele. E aquilo iria exigir tudo que tinha. Tentava ao máximo deixar seu passado no lugar onde deveria estar, esquecido para sempre. Isso nem sempre funcionava. Suas lembranças estavam lá de volta para assombrá-lo todos os dias. Aquele local iria trazer de volta o homem que já fora seu melhor segredo guardado e seu maior erro. Que também já foi seu grande amor e sua razão de acordar todos os dias. E que se tornou uma completo estranho por quem sonhou durante muito tempo.
Patrick estaria tão longe e tão perto ao mesmo tempo. Por mais que estivesse ao seu alcanço, sabia que nunca estaria em seus braços. Isso machucava seu coração e o deixava em pedaços. Se pudesse, voltaria ao passado e mudaria tudo. Não estaria lá quando seu pai chegasse. Não teria falado a verdade. Não entraria naquele carro. Porém, sabia que a culpa daquele dia não era dele. Nem de Patrick. Era apenas da pessoa deveria ter protegido-o de todos os males, mas que se tornou o causador deles.
Por causa dessas coisas, ele estava com vontade de fugir. Mais uma vez. Assim como havia fugido quando o ruivo disse que queria assumir o relacionamento ou quando teve que ir para longe. Covarde. Essa era a única definição que poderia ser atribuída a ele.
Planejava arrumar uma maneira de contar a Patrick, afinal, não poderia simplesmente desaparecer. Ainda mais depois de tantos anos. Não poderia perdê-lo de forma fácil assim.
Seu plano teve que ser adiantado ao receber uma ligação de Patrick na quarta-feira pedindo que se encontrassem. Foi impossível recusar, entretanto, quanto mais o horário se aproximava, mais ansioso ficava. Como iria escapar de Joe e Andy? O que iria sentir quando visse o ruivo? Eles estariam sozinhos? Iria ter dinheiro para pagar? Eram tantas questões.
Agora uma outra preocupação assombrava sua mente. Havia ficado tão preocupado com outras coisas que nem pensara no significado de "vou te buscar, aí podemos ir juntos". Ele não conseguiria entrar em um carro. Isso provavelmente só causaria problemas. Estava cada vez mais nervoso. Sentiu que ia explodir ao receber a mensagem dizendo que o outro estava próximo.
Joe estava cozinhando alguma coisa quando Pete passou em direção a porta.
- Está tudo bem? Vai a algum lugar? - perguntou, quase seguindo-o.
- Eu vou... sair com uma pessoa.
- Com quem? Preciso saber se vai estar seguro - Andy saiu do banheiro, indo na direção deles.
- Vocês agem como se eu fosse seu filho - revirou os olhos.
- Porque você é nosso filho!
- Nós temos tipo a mesma idade...
- Nós fomos pais jovens - começaram a rir.
- Mas falando sério agora, espero que se divirta bastante hoje. Você deveria conhecer pessoas novas, isso faz bem.
"Pessoas novas" era um conceito muito amplo. Teoricamente, Patrick e ele se conheciam desde a adolescência. Mas estavam afastados por tanto tempo que eram completos estranhos.
- Ele está certo. Espero que tenha uma ótima noite.
Era estranho como todos pareciam dizer que merecia ser feliz, quando ele não sentia que merecia.
- Obrigado, cara.
Saiu, sem olhar para trás. Sentia-se péssimo por não falar a verdade. Talvez pudesse tomar coragem e contar no dia seguinte. Seria uma boa opção.
Esperou por alguns minutos, parecendo que estava esperando há horas. Foi impossível conter o alívio ao ver Patrick andando em sua direção.
O ruivo estava ainda mais lindo, se é que isso era possível. Parecia radiar energia naquela rua escura. Seu sorriso poderia servir como iluminação até nas noites mais sombrias.
- Pete! - falou ao se aproximar.
- Heey! - respondeu - Você não trouxe seu carro?
- Sei que você não se sente muito confortável com carros, então escolhi um lugar próximo, para irmos andando.
Ele era perfeito. Sempre foi. Desde a primeira vez que se encontraram achava que era a pessoa mais perfeita do mundo. Agora tinha certeza.
- Não é perigoso para voltar ao seu apartamento sozinho?
- Posso pegar um táxi, algo assim. Não precisa se preocupar. Vamos?
Andaram em silêncio. Palavras não eram necessárias para eles. Entendiam um ao outro como ninguém.
Chegaram a um pequeno restaurante/bar. Sentaram-se em uma mesa distante do bar, o cheiro do álcool causava náuseas e memórias ruins no moreno.
A conversa fluiu perfeitamente, estava tudo indo bem, até o mais novo falar:
- Como está indo o grupo da doutora Nicholson?
Pete congelou. Não era capaz de responder. Talvez pudesse adiar a decepção que causaria, ocultando uma parte da verdade.
- As pessoas são bem legais. A doutora é um amor. Eles são bem compreensíveis e têm histórias interessantes.
- Que bom que está gostando... você merece ser feliz, Pete. Espero que isso ajude. Pelo menos vou saber que contribui com algo.
Aquilo fez com que toda a vontade que tinha de desistir acabasse. O ruivo poderia estar certo. Havia perdido sua família, seu grande amor e sua chance de um bom futuro. Mas ainda poderia melhorar e se tornar alguém melhor. Já passara por tanto, talvez fosse o momento de parar de ser um covarde e aceitar o que precisava.
Deu um sorriso fraco, ainda pensando naquelas palavras.
- Você é forte. Sei que é. Passou por diversas coisas e ainda está firme. Nunca deveria desistir. Pode até pensar que não é capaz, só que ambos sabemos que é mentira. Você é capaz.
Aquelas palavras foram suficientes para que desabasse em lágrimas. Odiava seus sentimentos idiotas. Queria levantar e sair correndo dali o mais rápido possível. Sumir da vida de todos e deixá-los serem felizes sem a sua presença desagradável. Bem, havia tentado isso antes e falhou. Segunda vez sempre dá mais sorte, não é? Não. Não poderia ir embora. Precisava ficar ali, viver o que tinha para viver. Não importava se jamais teria seu homem de volta. As coisas mudam. Precisava seguir em frente. Necessitava aceitar que Peterick estava acabado. Isso doía, cada vez que tentava, doía mais e mais. Seu maior desejo era de chorar até que seu cérebro desidratasse e todos seus neurônios deletassem aquelas lembranças. Ok, ele sabia que as coisas não funcionavam dessa maneira. Era apenas um desejo inalcançável. Tão inalcançável e doloroso como Patrick.
O mais baixo teve que exigir de si mesmo muito autocontrole para não abraça-lo. Queria poder simplesmente segurar sua mão por alguns segundos. Só... queria fazer com que se sentisse melhor. Precisava fazer isso se uma forma que não fosse como seu namorado.
Antes que pudessem falar qualquer coisa, uma mulher loira se aproximou deles.
- Olá, meninos - deu um sorriso encantador - eu e minha amiga gostamos bastante de vocês. Querem sentar conosco?
Apontou para uma mesa próxima, onde uma garota de cabelos coloridos sorria em sua direção.
- Eu não... curto mulheres - Patrick respondeu, encarando o colega com um olhar questionador.
O moreno precisava admitir que elas eram muito atraentes. Mas quem poderia sequer considerar sair com alguém quando tinha a perfeição sentada à sua frente?
- Vocês são legais e bonitas. Mas não estou interessado em ninguém agora.
Desviou o olhar, encarando a beleza ruiva que o acompanhava. Era mentira. Ele queria alguém. Uma pessoa impossível de ter.
- Oh - ela pareceu perceber - tenham uma ótima noite.
Saiu, deixando-os a sós novamente. O maior alto disse:
- Isso sempre acontece contigo? Comigo é muito raro.
- Não, não muito.
Ah, era uma grande mentira. Aquela foi apenas a primeira pessoa. Várias vieram em seguida. Resolveu que era melhor parar de contar quando o quinto rapaz se aproximou. Era um milagre que ainda estivesse solteiro.
O tempo passou rapidamente. Só notou que era tarde ao sentir seus olhos pesarem e os bocejos começarem.
- Já está cansado? - o ruivo sorriu.
- Não tenho dormido muito bem nos últimos meses. Claro que não posso reclamar do que Andy e Joe fazem por mim, mas digamos que eles não têm um sofá confortável.
- Você poderia passar a noite no meu apartamento, tem um quarto vago. Meu antigo colega teve que mudar para outro país.
Patrick geralmente pensava antes de falar. Porém, aquele não era o caso quando se tratava do moreno. Sempre agia sem pensar perto dele. Era como se sua razão desligasse e só conseguia agir de acordo com os sentimentos. Bem, menos se tivesse chances de perdê-lo. Dessa maneira, pensava a cada passo que dava. Não podia correr o risco de perder o que mais amava... o problema era que havia perdido isso há dez anos. Não iria aguentar afastá-lo novamente.
- Você não precisa aceitar se não quiser. Digo, se quiser, iria ser muito bom. Gosto de ajudar meus amigos e você é, uh... meu amigo. É, somos amigos, não somos? - completou, sentindo seu rosto todo esquentar.
- Claro que somos - respondeu, sentindo o clima ficar estranho.
A ideia de dormir na casa dele parecia um pouco desconfortável, porém, gostava de pensar numa cama. Seu corpo estava sedento por uma superfície macia em que coubesse perfeitamente, sem precisar deixar seus pés para fora. A proposta de passar mais tempo com o menor também parecia extremamente sedutora.
- Que se foda, vou contigo - sorriram.
Logo, deixaram o restaurante. A noite estava sombria, as únicas luzes vistas eram das casas e postes.
Pete não tinha medo de andar por ali durante a noite, mesmo que estivesse em uma área perigosa. Porém, por estar com Patrick, sentia um grande receio. Sinceramente não ligava de se colocar em perigo, contudo, não poderia sequer pensar na possibilidade de colocar o outro.
- Trick - sempre se sentia estranhamente nostálgico quando falava o apelido - Não acho que seja bom irmos andando.
- Não precisa se preocupar, vamos ficar bem.
- Talvez devêssemos pegar um táxi, algo assim. Essa região não é confiável.
- Mas...
- Eu sei - aproximou-se.
No mesmo instante se arrependeu. Aquela proximidade lhe trouxe muitas lembranças. Podia claramente sentir o suave perfume que exalava. Era extremamente irresistível.
- Vou ficar bem. Não precisa se preocupar.
Ah, aquilo foi um grande engano. Assim que o veículo começou a andar, sentiu o desespero crescer dentro de si. Logo começou a tremer e parecia que respirar era impossível.
O ruivo percebeu o que estava acontecendo. Não queria deixar o amigo mal, porém, precisava ter a certeza de como estava, então perguntou:
- Pete, como você está?
Quando seus olhares se encontraram, foi incapaz de conter o choro. Soluçando, respondeu:
- Me desculpe, Trick. Me desculpe...
Em um gesto inesperado para ambos, o menor puxou o outro contra si, passando os braços ao seu redor. Podia sentir sua camiseta sendo molhada pelas lágrimas, entretanto, não se importava. Queria cuidar dele, fazer com que ficasse bem. Sempre foi assim. Preocupava-se com ele mais do que tudo. Passou todos aqueles anos se preocupando, agora poderia se certificar que ficaria bem. Mesmo que nunca pudessem passar de meros amigos.
- Não precisa se preocupar. Está tudo bem. Está tudo bem...
Suas tentativas não estavam surgindo efeito, por isso, teve que ir para a única opção capaz de acalma-lo. Era arriscado, mas precisava tentar.
Em um tom baixo, começou a cantar 'Love of my life', apertando-o com mais força contra seu corpo. Conseguia sentir o olhar do motorista sobre eles. Isso não importava. O que realmente importava era que aos poucos, o mais alto parou de chorar.
Ao chegarem no prédio onde morava, queria poder passar mais tempo ali, já que ainda conseguia senti-lo tremer. No entanto, precisavam sair. A caminhada até o elevador foi silenciosa. Havia acontecido muita coisa nos últimos minutos, precisavam de um tempo para absorver.
Após alguns segundos, Pete tomou a coragem para dizer:
- Obrigado, Trick. De verdade.
- Só fiz o que precisava.
- Não teria conseguido sem você.
- Ei, claro que teria conseguido! - finalmente o fitou nos olhos - Você é forte. Mais do que imagina. Sei que pensa que isso não foi nada demais, mas foi muito importante. Cada pequeno passo é importante. Pode pensar que é covarde, como sempre pensou. Só que sei que não é. Você é muito mais do que acredita.
Aquelas palavras fizeram com que tivesse vontade de chorar. Contudo, além disso, uma frase se formou perfeitamente em sua mente. Não poderia falar. Eram as três palavras que tinham mudado sua vida há muitos anos. Naquele dia chuvoso, em um parque durante a noite, confessou seus sentimentos mais profundos e ganhou a melhor coisa que poderia pedir. Agora, poderia perder tudo que reconquistou. Isso iria assustar seu amigo, fazia tempo demais que não deviam se sentir daquela maneira. Ele queria muito sufocar aquela sensação, mas não conseguia. Bem, quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração? Ou quem irá dizer que existe razão?
Chegaram no andar, cortando o clima que havia de formado. No instante que seus pés tocaram o apartamento, o moreno não conseguiu esconder a surpresa. O lugar era gigante. No mínimo, três vezes maior que todo o apartamento de Andy e Joe. Só o sofá dali deveria ser maior do a sala de onde os amigos moravam. Precisava confessar que a decoração também era de tirar o fôlego. Ele tinha certeza que nunca conseguiria pagar o aluguel daquilo, nem se trabalhasse durante cinco anos para pagar um mês.
- Isso é... uau - falou, observando o local como uma criança.
- Está meio bagunçado, mas não tenho muito tempo para arrumar.
- Caralho, é muito incrível. Como paga isso?
- Durante a faculdade, vendi aquele carro que meus pais me deram e trabalhei usando a única coisa que sabia, a música, tocando em bares, essas coisas. Então consegui pagar um pouco do débito estudantil, assim não tive tantos problemas para economizar dinheiro agora. Mesmo sem meu colega, consegui ficar bem.
Estava tão surpreso que nem se sentiu mal por ser um fracassado total que não tinha emprego.
- O quarto é por aqui.
Guiou-o até lá, apenas avisando que o banheiro ficava na outra extremidade do corredor, próximo ao outro quarto.
Abriu o armário e pegou algumas roupas de cama, que pareciam terem sido colocadas ali para situações como aquela e saiu do local, dizendo que iria buscar algumas camisetas antigas que poderiam servir nele, caso quisesse se trocar.
Patrick voltou alguns segundos depois, segurando várias vestimentas.
- Olha, peguei isso para você. Não sei se vão ficar boas.
- Muito obrigado, Trick.
Passaram alguns segundos sorrindo, até que o clima foi cortado pela realização do que estava acontecendo. Não poderiam agir como se as coisas estivessem normal. Tudo ali era complicado demais para ser entendido. Seus sentimentos estavam confusos e nublados. Só tinham certeza que precisavam da presença um do outro. Não importava de qual maneira. Por mais que Peterick tivesse acabado há muito tempo, ainda poderiam ser amigos. Nada conseguiria impedi-los.
- Olha, se gostar daqui, pode quem sabe...uh, morar por um período.
E ali estava a sua boca agindo antes de sua mente mais uma vez.
- Digo, não quero te pressionar a fazer isso, nem algo assim. Seria legal... para você. Para mim tanto faz. Quer dizer, adoraria ter você por aqui. Somos amigos. De novo, é isso que amigos fazem, não é? Ajudam outros amigos. E isso ia ficar vazio mesmo, então não vejo problema em aceitar um amigo. Só se você quiser claro. Sem pressão alguma.
Droga, por que não conseguia agir normalmente perto dele? Antigamente costumava ser tão fácil. Não tinha medo do que aconteceria com suas palavras. Quando havia se tornado daquela maneira?
- Posso... pensar? É uma situação um pouco difícil.
- Claro.
Seu sorriso desapareceu ao notar o outro rapaz retirando a jaqueta.
- Você vai... uh, se trocar agora...?
O outro pareceu perceber o que havia feito e rapidamente se desculpou, ambos adquirindo uma cor avermelhada na face.
- Não se preocupe. Não há muito que já não tenha visto antes.
- Na verdade... - sussurrou, retirando a camiseta por completo.
O mais novo arregalou os olhos com a visão. Era possível alguém ser tão irresistivelmente gostoso daquela maneira? Lembrou-se da primeira vez que o viu daquele jeito. Felizmente não era mais um adolescente cheio de hormônios, apesar de ter a certeza de que não conseguiria tirar aquela imagem da sua mente. Ainda mais agora que tinha tatuagens que só o deixavam mais desejável.
Quando percebeu que estava encarando por muito tempo, começou a fitar seus pés, com a certeza de que seu rosto estava muito corado.
- Eu adquiri a maioria dessas tatuagens para esconder as cicatrizes do acidente.
- Elas ficaram muito boas em você - deu um sorriso triste.
Não queria que ele passasse por aquilo. Por que a merda da vida tinha que ser tão injusta? Sempre se perguntou o porquê de ter tudo enquanto o garoto tinha absolutamente nada.
- Obrigado, Patrick. Mais uma vez. Você está sempre me salvando.
Sorriram.
- Amigos são para isso.
- Amigos são para isso.
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Astronaut ●Peterick●
Fanfic»♡« Continuação de Everybody Wants Somebody »♡« Nem tudo termina em finais felizes. Na realidade não existem príncipes encantandos e felizes para sempre. Pete e Patrick tiveram que aprender isso da forma mais difícil. Dez anos após um trágico acont...