O clima estava levemente estranho. Com certeza não era assim que ambos haviam imaginado que seriam quando se encontrassem, sentados em uma cafeteria barata em um silêncio desconfortável.
Pete foi o primeiro a tentar falar algo, na esperança de criar uma conversa decente.
- Uh, como você está?
- Bem, eu acho. Um pouco cansado por causa do trabalho.
- Sério? Trabalha com quê?
- Sou... pediatra em um hospital pequeno.
Foi impossível conter seu espanto. De todas as pessoas do mundo, nunca esperava isso dele.
- Você...? Uau.
Um pequeno sorriu apareceu em seus lábios enquanto deu um pequeno gole em seu café.
- Depois que meu sobrinho nasceu, percebi que sabia lidar bem com crianças. Acabei me interessando por isso e no fim até que sou bom.
- Isso é muito legal.
Estava feliz por Patrick. Gostaria de ter sido como ele. Infelizmente, era um fracassado total. A única coisa era que se sentiu um pouco mal pelo fato de ter desistido da música. Era realmente bom naquilo.
- E você? Como foi Los Angeles?
- Diferente daqui... não foi fácil, em grande parte do tempo. As pessoas são bem diferentes.
- Por que voltou?
- Perdi o emprego. Não consegui arrumar outro, tive que vir morar com Andy e Joe. Eles estão me ajudando a conseguir estabilidade.
- Oh... espero que consiga.
- Obrigado.
Silêncio desconfortável.
- Você ainda tem contato com o Gerard e o Frank? - questionou.
Depois de se mudar, passou dois anos conversando com os amigos. Porém, depois de um tempo a relação terminou.
- Ah, sim. Eles estão bem. Casaram há uns três anos. Adotaram uma garotinha.
- Isso é ótimo! - sorriu verdadeiramente. Era uma boa sensação saber que seus amigos estavam felizes.
Patrick observou-o com atenção. Sentira tanta falta daquele sorriso. Imaginou quantas vezes perdeu sorrisos como aquele nos últimos anos. Gostaria de poder ter estado ao seu lado nesses momentos. E nos em que derramou lágrimas também.
A verdade era que ele nunca ficou triste com a separação. Obviamente passou noite e noites chorando. Porém, não se sentia mal por ele mesmo. Era mais uma preocupação com Pete. Sabia que não tinham terminado por uma briga boba ou algo assim. Foi porque não estava bem. Isso era preocupante. Poderiam estar longe e não serem mais um casal, contudo, não conseguia parar de se preocupar. Quem estaria lá para cuidar dele quando estivesse doente e cantar 'Love of my life'? Quem iria dançar com ele quando estivesse chovendo? Quem estaria lá para dizer que o amava e que tudo ficaria bem? Ele estava longe e sozinho. Era uma dor que não podia aguentar.
No começo, até pensava em perguntar para Frank sobre ele. Entretanto, decidiu que seria melhor deixar ir, assim como fez ao ver Joe na formatura.
Conseguia claramente se lembrar do dia do casamento de Gerard. Aquela lembrança o deixava tão culpado. Estava namorando um cara há dois anos, o único relacionamento que realmente funcionara. Enquanto observava os amigos no altar, pensou em como desejava aquilo para si. O problema era que só conseguia imaginar uma pessoa ao seu lado. Pete. Mesmo após tanto tempo, não conseguiu esquecer. Sentiu-se tão culpado que terminou o namoro. Desde então, não conseguiu mais ter algo sério. Era um sentimento tolo, sabia que nunca o teria de volta. Algumas coisas foram feitas para terem um fim.
- Patrick?! Está tudo bem?! - uma voz tirou-o de seus pensamentos.
- Estava apenas pensando... me desculpe. Disse algo?
- Falei que provavelmente sou o único que não tem jeito algum com crianças.
- Ah, não fale isso. Você era muito bom com meu sobrinho.
- Acho que esqueceu. Ficava muito tenso, com medo de deixar ele cair.
- Você nunca derrubou!
- Mas tinha medo.
Começaram a rir. Pareciam velhos amigos. Bem, de certa forma, eles eram.
- Como ele está?
- Fez dez anos há alguns meses. Estou me sentindo muito velho.
Ele observou o jeito que o ruivo passou a mão nos cabelos, sorrindo. Aquilo despertou várias lembranças, tanto boas quanto ruins. Mas principalmente boas. Adorava os momentos felizes que tiveram juntos.
- Uau, dez anos já?! Ele deve estar enorme.
- Quase mais alto que eu!
- Não consigo nem imaginar.
Novamente o clima se tornou estranho. Havia se passado muito tempo, não se conheciam mais. Porém, da mesma forma, se conheciam muito bem. Era confuso e amedrontador.
- É hoje, não é? O aniversário de dez anos daquele dia - O menor falou, evitando contato visual.
Pete congelou, surpreso. Com a testa franzida, sussurrou:
- Você... se lembra.
- Nunca poderia esquecer.
Era verdade, jamais se esqueceria de quando viu morrer uma parte do homem que amava.
- Foi por isso que estava naquele carro?
- Sim... - sentiu as lágrimas voltarem.
- Ei, não precisa se preocupar. Está tudo bem agora.
Estendeu a mão em sua direção, entretanto, rapidamente a recolheu. Eles não eram mais os mesmos. Tinham parado de terem o direito de tocar um ao outro anos atrás. Agora eram apenas conhecidos. Eram Pete e Patrick. Não mais - como Joe costumava dizer - Peterick.
- Eu... obrigado.
- Estou aqui para o que precisar.
Ele queria ter estado durante os últimos anos. Sabia que poderia te-lo ajudado, que poderiam ter sido felizes juntos. Infelizmente, a vida é dura e cruel. Nada é como os contos de fadas. Não há 'viveram felizes para sempre'. Só há dor, sofrimento, lágrimas e momentos sombrios.
O moreno estava à beira de desabar. Sentira tanta falta do outro. A culpa era toda sua. Tudo, desde o instante que se viram pela última vez, fora causado por ele.
- Me desculpe - sua voz estava trêmula e embargada pelo choro.
Esperou tanto para poder finalmente dizer aquilo. Tirou um peso enorme de suas costas.
- A culpa não é sua. Sei que foi demais para ti. Talvez não fosse para ser. Pode ser que devamos ser apenas amigos.
Doeu no coração do ruivo ter que dizer isso.
Doeu ainda mais ter que ouvir aquilo.
- É, você pode ter razão.
- Olha, no hospital em que trabalho, há um grupo de apoio, para pessoas que sofreram traumas. Se estiver interessado, posso te levar lá. É de graça e ajuda bastante gente. A doutora Nicholson é um amor.
- Vou pensar nisso.
Um celular tocou, cortando a conversa. O ruivo atendeu, com uma expressão preocupada.
- Precisam de mim? Oh... não acredito. Estou indo agora.
Desligou, observando o companheiro de café com uma expressão decepcionada.
- Houve uma emergência no hospital, vou ter que ir para lá. Por favor, me desculpe, queria poder ficar mais.
- Não tem problema.
Tirou um cartão do bolso e o entregou.
- Aqui está meu número, pode me ligar se quiser. Até mais, Pete.
- Te vejo por aí, Patrick.
Ele observou o rapaz se distanciando. Daquela vez era diferente. Não era um adeus. Era um até logo. Sabia que poderia voltar e serem bons amigos. Não precisava mais se sentir que estava cometendo o pior erro de sua vida. Por mais que a cena ainda fosse um tanto quanto melancólica, trazia a sensação de que tudo estava bem.
Aquilo trouxe lembranças de quando se despediram. Era como se ainda pudesse se escutar dizendo que precisam seguir caminhos separados e pudesse sentir o gosto de seus lábios. Quando percebeu, seu rosto estava banhado em lágrimas novamente. Conseguia sentir o olhar das pessoas sobre si, provavelmente um misto de pena e nojo. Era sempre assim.
Um dia ele sonhara que as pessoas o veriam com admiração. O que ganhou era o oposto. A última vez que alguém havia olhado para ele desta forma fora quando jogava futebol na escola. Sentia falta dessa época, tinha vários amigos, um namorado maravilhoso e era admirado por todos. Agora tinha dois amigos, não conseguia se manter em um relacionamento por mais que três semanas e todos o desprezam.
- Vai consumir mais alguma coisa? - um adolescente mau-humorado disse com uma expressão monótona.
- Pensei que as pessoas pudessem ficar aqui o tempo que quisessem.
- Elas podem. Desde que estejam consumindo algo. E não incomodando os outros.
Piscou os olhos rapidamente. Ele estava... incomodando os outros?
- Eu... eu...
- Ei, Zach, atenda o caixa para mim, resolvo isso - uma menina ruiva segurava um muffin nas mãos, falando calmamente para não derrubar.
O garoto assentiu e se retirou, sem mudar a expressão.
- Me desculpe, não quis incomodar. Já vou, só estou esperando um colega me buscar.
- Não ligue para o que ele disse. Pode ficar o quanto quiser. Aliás, trouxe isso, por conta da casa. Percebi que depois que seu... amigo saiu, ficou meio chateado, espero que isso te anime.
- O-Obrigado. Nem sei como agradecer.
- Não precisa.
Ela se distanciou, sorrindo.
Pete sentiu-se estranho, era a primeira vez em muito tempo que se preocupavam dessa forma com a maneira que estava se sentindo. Claro que não podia reclamar de como Andy e Joe o tratavam, porém, tinham suas próprias vidas e problemas para lidar.
Aquele bolinho poderia ser comum, contudo, tinha o sabor de ser importante, mesmo que para uma garota desconhecida. Era estranho, ele sabia.
Ficou ali por horas, sentado observando as pessoas passando. Era bom ver os diferentes indivíduos que conviviam em um mesmo lugar. Gostava de imaginar quais as suas histórias de vida. Provavelmente estavam todas erradas, mas era um bom passatempo. As pessoas eram fascinantes e imprevisíveis. Qualquer um que o visse ali nunca poderia imaginar tudo que passou.
Quando anoiteceu, decidiu finalmente ligar para Andy, sabendo que era o horário que saía do trabalho.
- Pete!
- Oi, Andy.
- Tudo bem, cara? Sua voz está diferente
- É que... peguei seu carro emprestado, mas agora não consigo voltar dirigindo. Será que poderia vir buscá-lo?
- Você dirigiu...? Por que? - parecia desacreditado.
- Hoje... - Não conseguiu terminar a frase, sendo tomado pelo choro.
A outra linha ficou em silêncio por alguns segundos, até que o outro pareceu entender:
- Merda. Eu esqueci, me desculpe. Só me mande o endereço e vou até aí. Merda, sinto muito.
Desligou, enviando o local ao amigo. Esperou pelo que pareceu uma eternidade, até o tatuado o encontrar.
- Você está bem? - analisou seu rosto com uma expressão preocupada.
- Sim. Não precisa se preocupar.
- Merda, me desculpe.
- Andy, é sério, tá tudo bem.
Pete entregou as chaves a ele e se levantou.
- Você ficou horas aqui sentado sozinho?
Bem, teoricamente sim. Havia passado alguns minutos acompanhado. Melhor ocultar essa parte. Não parecia ser uma boa opção falar sobre ter encontrado Patrick.
- Sim. Ganhei até um bolinho de graça - riu, tentando descontrair.
- O Joe está lá fora, se quiser posso pedir para que vá dirigindo e posso te acompanhar.
- Não, vocês tem que ir juntos. Aproveitem o tempo que têm. Vou dar uma volta na cidade e depois volto para o apartamento.
- Tem certeza? Não vai fazer algo idiota, vai?
- Não, pode confiar. Só preciso de um tempo para pensar.
Caminharam para fora, onde o rapaz de cabelos cacheados os esperava.
- Hey, Peeete.
- Oi, Joe.
- Você está melhor, cara?
- Estou...
Na verdade, ainda estava um pouco confuso com o tanto de coisas que ocorreram naquele dia. Porém, disso os amigos não precisavam saber.
Ali estava ele, novamente criando segredos. É, as estações mudam, as pessoas não.
- Vou dar uma volta na cidade. Depois volto para o apartamento.
- Tem certeza...? - buscou o olhar do namorado, com uma expressão insegura.
- Sim. Vou ficar bem, podem confiar.
- Nós nos preocupamos contigo e só queremos garantir que fique bem - O ruivo falou.
- Vocês me tratam como se fosse seu filho.
- Você meio que é.
Revirou os olhos, rindo.
- Podem confiar, estarei de volta antes que percebam.
- Tudo bem.
- Só... se cuida, mano - Joe disse, dando um leve tapa em suas costas.
- Prometo - sorriu, observando os amigos entrarem no veículo e saírem, relutantes.
Quando finalmente partiram por completo, começou a pensar sobre seu destino naquela noite. Antes que pudesse dar conta de seus atos, estava em um ônibus na direção de um pequeno e pacato bairro da cidade. Bem, pelo menos era assim que era dez anos atrás.
Era a hora de relembrar os velhos tempos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Astronaut ●Peterick●
Fanfiction»♡« Continuação de Everybody Wants Somebody »♡« Nem tudo termina em finais felizes. Na realidade não existem príncipes encantandos e felizes para sempre. Pete e Patrick tiveram que aprender isso da forma mais difícil. Dez anos após um trágico acont...