Capítulo 12

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Aviso: agressão, sangue

Pete estava cansado. Seus olhos doíam e estavam inchados. Nunca gostou de chorar. Ainda mais por um motivo tão idiota. Por que ficara tão abalado com o que ocorrera? O pior não era o cara com quem Patrick saiu. Era o estado em que estava. Trouxe lembranças de seu pai. Principalmente do dia em que arruinou sua vida. Não importava o quanto quisesse, as imagens estavam mais claras em sua mente do que nunca. Tentava respirar fundo e voltar a dormir, porém, era inútil. Tudo voltava. Queria conter seus pensamentos. Aquela dor estava se tornando insuportável. Sentia-se tão fraco. E doía tanto lutar contra seus sentimentos.
Até que chegou um momento em que desistiu. Derrotado, deixou que seus fantasmas do passado voltassem.
"

- Pete, daqui a alguns meses, você vai estar na faculdade! - o ruivo falou animadamente.
- Vou sentir sua falta enquanto estiver em 'Los Angeles babe' - disse a cidade em um tom engraçado.
Começaram a rir. Aqueles instantes eram perfeitos. Gostariam de poder passar mais tempo juntos, contudo, estavam tão atarefados que os minutos ao telefone eram extremamente preciosos.
- Ainda vou ficar mais um ano preso naquela escola.
- Pelo menos vai ter o Gerard.
Levantou-se foi até a janela, fitando o céu escuro.
- Reclamando o tempo todo que está longe do Frank!
- Você não vai reclamar que está longe de mim?
- Sério? Isso é uma pergunta real?! Vou sentir falta de você todos os dias com todas as minhas forças.
- Deixe de fazer drama.
- Sabe que eu te amo, não sabe?
- Claro que sei. Mas sabe algo mais incrível ainda?
- O que?
- Eu te amo mais, Patrick.
- Peter, com quem está falando? Quem é Patrick? - A voz de seu pai soou atrás dele.
Rapidamente desligou a ligação, por mais que soubesse que não poderia escapar.
- Quem é Patrick? - deu um passo dentro do quarto.
Oh, não. Aquilo não era possível. Estava sóbrio há meses. Não poderia ter acabado com tudo.
- Meu namorado - sussurrou, já sentindo as lágrimas escorrendo por suas bochechas.
- Tem um namorado?
- Sim.
Estava próximo o suficiente para que sentisse o odor do álcool quando gritava.
- Quanto tempo?
- O que?
- Por quanto tempo namora?
- Um ano.
O garoto estava com muito medo. Sua voz estava sendo sufocada pelo choro.
- E não pensou em me contar? Escondeu isso de mim?
- Eu...
- Fique quieto! Eu te amei, te dei tudo. O que recebi em troca foi apenas ingratidão. Você me jogou em um hospital para ficar trancado. Você me odeia.
- Não é verdade.
- Esconde as coisas de mim. Provavelmente seu namorado nem deve saber que existo. Ou então contou mentiras a ele sobre mim.
- Eu não...
- Fique calado! Não quero ouvir uma palavra. Quero conhecer Patrick.
- Está muito tarde, pai, melhor...
- Não!
Pegou em seu braço, puxando com força até a porta. Podia sentir os dedos marcando sua pele. Nunca se sentiu tão assustado. Era a primeira que o homem era violento daquela maneira. As palavras combinadas aos atos o destruíram.
- Vai me levar até ele! Agora! Pegue as chaves do seu carro. 
- Não...
- É uma ordem! Onde estão a merda das chaves?
Ele mostrou com o olhar e ainda sem solta-lo, o homem pegou o objeto sobre a mesa.
- Vamos!
Arrastou-o até o carro, abriu a porta do passageiro e o empurrou no banco.
- Não tente sair daí.
Ele queria muito tentar. Porém, seu corpo estava sem forças. Tudo que conseguia pensar era no medo que percorria todas suas células.
- Onde ele mora?
Silêncio.
- Onde seu namorado mora?
O único som ouvido era de seu choro.
Antes que pudesse pensar, ele pegou nos cabelos do filho e forçou a cabeça dele na direção do painel.
- Vai me dizer onde ele está ou vou fazer seus miolos saírem de tanto te bater contra isso aqui.
Relutante, falou um endereço qualquer. Não importava o que custasse, jamais poderia colocar Patrick em perigo.
Dirigia rapidamente e sem prudência. Afinal, estava intoxicado demais para pensar. O garoto não conseguia raciocinar. Sua mente estava nublada pelo desespero que o consumia. Era praticamente impossível respirar. O choro estava bagunçando todos seus sentidos. O pior era que conseguia sentir a instabilidade dos movimentos do homem.
A cada segundo seu coração estava mais acelerado. Tentava manter a calma, porém, era impossível. Seus pensamentos estavam focados demais no que acontecia ao seu redor. Nos carros que buzinavam, nos sons que os pneus faziam, nas mãos instáveis do outro.
Até que em momento, tudo simplesmente parou. Seus sentidos desapareceram, restando apenas o som de apito em seu ouvido. Sentiu uma dor em seus braços, contudo, não conseguia se mover. Sabia que tinham batido. Não conseguia fazer nada a respeito.
- Meu Deus, você está bem? Por favor, acorde - uma voz ao longe falou.
Não conseguiu reconhecer. Era um tom feminino. Não se lembrava de conhecer alguém que falasse daquela maneira.
- Por favor me diga que está vivo.
Finalmente conseguiu retomar um pouco de consciência.
- Oh, graças a Deus. Qual o seu nome?
Piscou várias vezes, tentando entender o que estava acontecendo. Conseguiu visualizar a mulher com quem falava. Estava do lado de fora, com o telefone na mão, desesperada.
- Qual o seu nome? Já chamei ajuda.
- Pete - respondeu de um jeito fraco.
Observou os próprios braços, notando os pequenos fragmentos de vidro que penetravam sua pele. Sangue banhava boa parte de seu corpo, inclusive em seu rosto, devido a um corte na sobrancelha. 
- Quer que ligue para alguém?
- Patrick - disse mais rápido que pensou que seria capaz.
- Sabe o número?
Fechou os olhos, tentando se concentrar. Após alguns segundos, conseguiu falar, mesmo que com dificuldade.
- O que digo?
Seu corpo estava começando a ficar pesado. Ela parecia cada vez mais distante.
- Por favor não desmaia.
- Diga para o Patrick que... eu amo ele. Por favor.
Então sua visão se escureceu e não pensou em mais nada. "
- Pete! Pete!
A voz parecia distante. Podia sentir alguém tocando nele. Porém, ainda estava preso em suas memórias. Era como se pudesse sentir a dor daquele dia.
- Pete! Por favor, acorde.
Aquilo fez com que despertasse, sentando na cama rapidamente. Sua respiração estava irregular, assim como seus batimentos.
- Está tudo bem? O que aconteceu?
A partir dali não conseguiu mais segurar as lágrimas. Passou anos sentindo que terminar havia sido a escolha certa. Agora, no entanto, começava a se questionar se realmente tinha sido. Por mais que muito tempo tivesse se passado, as questões voltavam a sua mente. Era um comportamento péssimo. Estava começando a questionar tudo que havia feito por dez anos.
Finalmente conseguiu dizer algumas palavras embargadas pelo choro.
- Me desculpe...
- Não tem pelo que se desculpar.
- Eu... quero me desculpar por ter terminado contigo. Você foi incrível e o que dei em troca foi ser um completo babaca.
O ruivo ficou em silêncio, apenas fitando-o. Depois de segundos, sussurrou:
- Posso sentar ao seu lado?
Apesar de confuso, moveu-se para deixar espaço na cama.
- Tinha muita coisa acontecendo com a gente naquela época. Ambos estávamos passando por diversos problemas. O que aconteceu com seu pai teve muito impacto na sua vida.
- Você lembra de quando terminamos?
- Como poderia esquecer?
Jamais seria capaz de esquecer do dia em que perdeu o amor da sua vida.
- Era o dia em que iria embora. Estava terminando de arrumar minhas coisas. Nós... estávamos no meu quarto, lembrando dos bons momentos que tivemos ali.
Não conseguiu mais falar. Estava totalmente tomado pelo choro.
- Lembro de estar sentado no chão. Aquele lugar parecia tão vazio. Quando cantei... saiu estranho. Algo parecia diferente. Não só no lugar, na gente. Você disse que me amava e que iria sentir minha falta. Então eu soube o que estava por vir - o ruivo completou, sua voz fraca devido às lágrimas que ameaçavam cair.
- Falei que merecia alguém melhor. Alguém que estivesse por perto. Não poderia te deixar preso a uma pessoa que estava quilômetros distante. Aquilo doeu. Mas sabia que era o certo.
Será que realmente sabia? Estava tão confuso. O passado e o presente se chocavam. Sentimentos passados se misturavam os presentes. Memórias antigas criavam novas. Sentia-se como um adolescente, porém, ao mesmo tempo, como um adulto. Sentia-se sozinho, acima de tudo. Estavam próximos, mas distantes. Juntos, mas sozinhos. Apaixonados, mas magoados. Curados, mas feridos. Ainda comparava o passado dele ao seu futuro.
- Eu te amava mais do que amei qualquer um. Ah, eu te amava tanto. E sabia que amava. A prova disso foi a razão pela qual terminou. Sei que estava falando a verdade. Conheço cada parte de você. Sei que não mentiu. Pude sentir no nosso último beijo. Você se lembra?
Assentiu, desviando o olhar. A imagem estava clara em sua mente.
- Foi estranho, sedento, doloroso e cheio de paixão. Ninguém conseguiria entender. Nossa relação era assim. Acho que ninguém nunca entendeu o porquê de ficarmos juntos. Nem nós mesmos. Só... aconteceu. Felizmente aconteceu.
- Aquela foi a nossa última vez. Foi doloroso. Não queria que acabasse. Mas as coisas têm um fim. Não podemos lutar contra isso. Aquele foi o nosso sim. Em um quarto totalmente vazio, em um silêncio total. Nós não precisávamos de palavras.
Da mesma forma que dez anos atrás, não precisaram falar. O som de seus soluços preenchiam o ar.
Patrick finalmente tomou a coragem para sussurrar:
- Aquela não foi nossa última vez juntos, não é?
- Aquilo foi um erro. Aquela noite nunca deveria ter acontecido. Nós seguimos em frente. Não podemos ficar presos ao passado.
- Exato. Somos pessoas melhores agora. Acho que essa conversa nos fez perceber que nosso relacionamento ficou no passado. Acabou horas antes de você entrar naquele avião.
Eles queriam acreditar naquelas palavras. Por que era tão difícil? Sabiam que precisavam superar um ao outro. Haviam conseguido superar. Bem, era o que achavam até meses antes. Agora suas realidades pareciam falsas. O lugar perfeito que construíram estava desmoronando, assim como a muralha que construíram ao redor de seus corações.
- Vamos esquecer daqueles momentos?  Oficialmente agora que conversamos sobre isso.
- Vamos. É a melhor opção.
Apesar de parecerem certos do que diziam, por dentro nunca estiveram tão hesitantes. Era como se o filme se repetisse novamente. A mesma história que ocorreu há anos estava se desenrolando.
O ruivo bocejou e secou algumas lágrimas em suas bochechas.
- Foi uma boa conversa. Acho melhor eu ir.
- Você pode... ficar aqui comigo? Estou com medo de sonhar de novo.
- Oh... claro.
Deitou ao seu lado, sorrindo ao observar sua expressão aliviada. Assim que o outro apagou as luzes, escutou sua voz em um tom baixo:
- Obrigado, Patrick. Você é um bom amigo.

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