Capítulo 11

34 6 16
                                    

O som do despertador fazia com que toda sua cabeça doesse. Era como se alguém estivesse martelando seu cérebro. Seus olhos doíam, provavelmente consequência da ressaca. Estava acostumado a beber daquela maneira, era estranho que estivesse se sentindo assim. Talvez fosse por ter passado alguns dias longe daquilo.
- Bom dia - um homem falou, entrando no quarto com apenas uma toalha ao redor da cintura - peguei isso de você e tomei um banho, espero que não se importe.
Ele se importava muito, porém, não tinha vontade o suficiente para falar.
Fitou o teto, implorando para que não lembrasse da noite anterior. Estava arrependido. Não de ter feito aquilo, sabia muito bem o que estava fazendo. Sim pela razão que fizera. Precisava esquecer de Pete. A bebida era a solução. O rapaz era apenas uma consequência.
- Foi muito bom. Deveríamos repetir qualquer dia.
Suspirou, encarando-o. Ele parecia ser um cara legal. Contudo, não era quem gostaria.
- Não estou muito bem para um relacionamento agora.
- Oh, então só gosta de sair com vários caras diferentes. Pensei que era diferente.
- Já tive dois namorados que me traíram, um que simplesmente só me usava para sexo, o relacionamento mais longo que tive foi de dois anos e terminei por ter sentimentos por outra pessoa que nem sequer sabe que existo. Ah, e o único que verdadeiramente amei foi embora há muito tempo. Realmente acha que me importo se você achou que eu era diferente?! Eu não dou a mínima.
O silêncio tomou conta do lugar. O único som ouvido era o dos movimentos que fazia para vestir as suas roupas.
- Acho que é melhor eu ir.
- Sim, é melhor.
- Posso perguntar uma coisa?
- Falaria não, mas sei que vai fazer de qualquer jeito.
- Por que seu ex mora aqui?
- Porque somos amigos.
- Amigos...?
- Sim, caralho, e não é da sua conta. Será que poderia sair do meu apartamento?
- Tudo bem. Você estava mais legal ontem à noite.
- Você também.
O rapaz saiu, sem dizer uma palavra a mais.
Patrick se sentia mal, não queria ter falado daquela forma. Só estava cansado. E se sentia culpado. O pior era que nem sabia a razão de se sentir assim. Havia aceitado que estava acabado entre eles. Talvez só precisasse provar a si mesmo. Seu plano foi considerado meio fracassado apenas. Poderia dizer que passou vários minutos sem pensar nele. Apesar de seu motivo principal para executar aqueles atos ter sido Pete.
Precisou tomar um banho, tirar o cheiro dele de sua pele. Nem sabia, em primeiro lugar, a razão de ter saído com alguém que parecia ter usado o vidro inteiro de perfume. Talvez seus sentimentos estivessem ficado adormecidos por causa do álcool. O Mark? Will? Qual era o nome dele? Não conseguia se lembrar. Aliás, nem sabia se havia perguntado. Tinha questões muito mais importantes para se preocupar naquele momento, precisava parar de pensar no rapaz. Necessitava descobrir um jeito de falar com Pete. Provavelmente havia magoado-o com suas ações. Queria tanto que se sentisse bem no apartamento, não poderia estragar tudo.
Depois de se arrumar, decidiu ir ao quarto do moreno, esperando que pudessem conversar. No entanto, assim que entrou, percebeu que estava dormindo. Sentiu-se estranho observando, mas não pôde evitar. Era simplesmente adorável a forma como estava abraçado a Bowie. Ambos dormiam profundamente, sem notar os passos do ruivo. Aquela cena parecia ter saído de um sonho. Seu eu de dezesseis anos com certeza havia desejado muito aquilo. A realidade era bem diferente do que esperava. Mas não poderia reclamar. Eles eram amigos. E isso, sim, era tudo que importava.

»●« »●«

- Heeey!
Patrick se virou para ver quem estava gritando na fila atrás dele, por mais que já soubesse a quem pertencia aquela voz.
- Nicole - sorriu.
Fizeram um rápido toque de mãos, que foi combinado muito tempo atrás.
- Bebendo café? Óculos escuros? Sem a voz angelical de sempre? Patrick Stumph, por que a ressaca?
Droga, ela era realmente boa naquilo.
- Tive uma noite péssima.
- Senhor, o seu café - o garoto da loja entregou um copo a ele.
A sensação do calor era agradável exceto por quando colocou na boca e sentiu sua língua queimar. A cafeína era ótima, contudo. Sua cabeça finalmente pareceu parar de estar nublada.
- O que teve de tão ruim? - questionou enquanto começavam a andar.
- Eu bebi.
- Isso consegui perceber.
- Saí com um cara.
- Oh, ele era bonito?
- Por que se importa? Nem sequer gosta de homens.
- Para de desviar o assunto.
- Até era bonito, mas era um completo babaca.
- O que ele disse?
- Que esperava que eu quisesse um relacionamento. O idiota perguntou a razão de eu morar com meu ex!
Ela apertou o botão do elevador e o encarou, tentando parecer simpática.
- Você sabe que... todos queremos perguntar isso, mas ninguém tem coragem, não é?
- O que...?
- Fala a verdade, por que você mora com o seu ex? 
- Nós somos amigos. Sabe? Amigos fazem isso.
- Superou mesmo o que rolou entre vocês?
- Óbvio que superei.
- Tudo bem. Acredito em você.
- Sério?
- Claro. Acho que merece a minha confiança. O que mais teve de ruim na sua noite?
- Pete ficou meio mal com tudo isso.
- Levou o cara ao seu apartamento? Faz isso com todos os caras? Espera... queria que Pete visse?! Patrick, seu homenzinho sujo, você não superou!
Entraram no elevador, o ruivo encarava o chão para evitar contato visual com a garota.
- Acreditei em ti! Ah, o Ray vai te matar.
- Não! Por favor, não fala para ele. Sabe que não é verdade.
- É impossível mentir para mim.
Ele sentiu suas bochechas esquentarem. A loira estava errada. Totalmente errada. Havia saído com o cara para não pensar mais Pete, não para chamar sua atenção. Tinha superado tudo que tiveram. Inclusive nem pensava na noite que passaram juntos. Bem, em grande parte do tempo.
- Se não tivesse superado, acha que teria saído com aquele idiota?!
- Oh... então sou um idiota agora?
Finalmente voltou sua atenção ao homem na sua frente, que usava o uniforme de enfermeiro.
- Ah, não, você trabalha aqui?!
- Positivo, doutor... Stumph - disse com total desprezo.
O mais baixo fechou os olhos e suspirou.
- Sabia que tinha algo errado em morar com o ex. Você é patético.
- Não tenho tempo para isso.
- Ah, mas eu tenho - a loira falou - seu idiota, você tem dez segundos para retirar o que disse.
- Vai me obrigar?
Aproximou-se dela, um claro erro. Antes que pudesse processar o que havia ocorrido, o rapaz estava com a mão no nariz atingido.
- Qual a porra do seu problema?
A porta abriu e Nicole deu um sorriso vencedor.
- Poderia te perguntar o mesmo. Ah, aproveite que está em um hospital e cuide disso daí.
Segurou a mão do amigo e saiu, rindo do que deixaram para trás.
- Realmente socou ele!
- O cara era um babaca. Mereceu totalmente.
- Pode ser punida! Agressão no local de trabalho.
- Fica tranquilo, bebê. A lei não me atinge.
Balançou a cabeça, rindo da postura da amiga.
- Então, acredita mesmo que Peterick está acabado?
- O Ray te contou?!
- Não dá para passar horas tirando o coração de alguém do peito sem contar os problemas do seu melhor amigo. E pare de desviar o assunto.
- Realmente acredito. Tudo está no passado.
- Você passou os últimos anos sonhando com ele, não passou?
- Sim. Mas agora percebo que foi uma perda de tempo. Só iria nos machucar mais.
- Então finalmente superou seu namoro de dez ano atrás?
- Falando assim nem parece que foi algo importante.
- Digo, vocês eram adolescentes. Os sentimentos eram confusos e tudo mais, talvez tenha sido menos do que acham.
- O que tivemos foi real.
- Entendo, só que... achei que amava uma garota depois de conhecê-la por duas horas quando tinha quinze anos, vai saber.
- Ele realmente me amava.
Os corredores do hospital estavam movimentados como sempre, fazendo com que tivessem que desviar de diversas pessoas passando apressadas.
- Acredito, só...
- Ele se jogou na frente da porra de uma arma por mim!
Todos os encararam. Aquelas não eram palavras adequadas para um médico.
- O que...? - ela repetiu, confusa.
- Vem aqui - entraram em quarto vazio.
- Quando ainda não estávamos namorando oficialmente, um homem entrou na cafeteria onde trabalhava e queria atirar no Gerard. Tentei argumentar e ele mirou em mim. O Pete... nos deu a chave para um depósito ou sei lá e o distraiu para que fôssemos para lá. A única coisa que ouvi foi o som do tiro. Fiquei com tanto medo. Mas ele errou. Eu não sei como foram suas histórias. Nunca tive muita certeza de coisas na minha vida. Mas sei que ele me amava. Talvez fosse tudo mesmo uma ilusão. Só que não conheço muitas pessoas que se jogariam na frente de armas por outras.
Ela o fitava com um misto de arrependimento e pena. Finalmente perecebeu que o que tiveram juntos foi mais do que qualquer namoro adolescente. Provavelmente era apenas amargurada demais para perceber que poderiam se amar.
Patrick parecia ter sido levado de volta no tempo. Todas as sensações daquele dia voltaram sobre ele naquele instante, tornando impossível segurar as lágrimas. O medo que sentira foi maior do que na maioria dos acontecimentos de sua vida. Exceto por outro que também envolvia Pete. A razão principal de seu medo tinha sido de perdê-lo. Não sabia como seria capaz de viver sem ele por perto. Aprendeu da pior maneira possível que iria sobreviver longe dele. Entretanto, agora parecia que aquele sentimento estava ali. Novamente necessitava dele.
- Eu... me perdoe. Não sabia.
- Tá tudo bem. Não poderia imaginar que fosse assim.
- Ele realmente parece ser um cara legal.
Sorriu, pensando no quão legal ele era. Havia sido seu maior suporte durante meses. Passaram por muito juntos. Quando se separaram, Pete decidiu deixar seu colar com ele, para que pudesse usar com alguém que valesse a pena. Permaneceu guardado em sua gaveta. As vezes, ao se sentir mal, gostava de pega-lo e pensar em como sempre que se estava para baixo, tinha o moreno para dizer que tudo ficaria bem. Seu amor podia ter acabado há muito tempo, porém, ainda era o que sustentava Patrick.

Astronaut ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora