Capítulo 7

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Quando acordou, Pete soube que estava fodido. Bem, fodido em mais de um sentido. As lembranças da noite anterior estavam claras em sua mente.  Seria difícil esquecer algo tão maravilhoso. Cada segundo estava marcado em sua pele. Cada som estava gravado em seus pensamentos.  O cheiro dele estava preso em seu corpo. Fechou os olhos, desejando que não tivesse passado de um sonho. No entanto, o peso contra seu braço indicava que havia sido muito real. Queria poder voltar no tempo e impedir que isso acontecesse. Agora era tarde demais e Patrick estava acordado ao seu lado.
Percebeu que a realidade tinha atingido-o quando disse:
- Merda...
Aquela havia sido uma das melhores noites da sua vida. Contudo, se sentia muito culpado. Sentia como se seus atos fossem sujos. Odiava a si mesmo.  O pior era o fato de que gostara do que aconteceu. Tinha sido tão melhor do que a última vez. Estavam diferentes. Mais velhos, melhores. Mas ainda eram os mesmos. Viciados um pelo outro. Sedentos um pelo outro. Sempre foi dessa maneira. Por mais que anos se passassem, eram os mesmos.
- Nós fodemos tudo, não foi? - sussurrou.
- É, definitivamente fizemos isso - deu um riso nervoso.
- O que vamos fazer agora?
- Fingir que nada aconteceu. Não é como se tivesse significado alguma coisa... é?
- Não. Não foi importante. Só aconteceu ontem e nunca mais vai se repetir.
- Claro.
Parecia a mesma história se repetindo. Ali estavam eles, novamente prometendo que tudo não passara de uma noite. Da última vez, acabaram passando muito tempo juntos. Contudo, seria diferente. Tinha que ser. Não podiam cometer os mesmos erros. Eram adultos, sabiam lidar com seus próprios sentimentos e desejos. Certo...?
- Legal. Legal. Muito legal.
Levantou-se da cama, colocando suas roupas rapidamente.
O moreno se recusava a olhar para qualquer lugar exceto o teto. Sua cabeça doía. Era impossível respirar. A culpa lhe sufocava.
- Espero que isso não faça com que desista de morar aqui.
Não respondeu, apenas continuou deitado, encarando o teto. Sentia-se extremamente culpado. Seus atos pareciam sujos e errados. Mas, ao mesmo tempo, eram tão bons. As consequências pesavam sobre ele, tirando seu ar.
- Preciso ir para o hospital agora. Você está bem?
- Claro.
- Até mais, Pete.
Não conseguiu responder, estava confuso demais para falar. No que sua vida estava se tornando? Sentia que havia perdido seu rumo, se é que já teve algum. Seus sentimentos o esmagavam, fazendo com que seus pensamentos ficassem confusos e nublados.

»●« »●«

Ao deixar o quarto, Patrick sentiu uma vontade enorme de chorar. Encostou-se na parede e as lágrimas desceram com intensidade por seu rosto angelical. Estava muito arrependido. Nunca deveria ter feito aquilo. Por mais que tenha sido bom. Bom até demais para que fosse real, não poderia confiar naquilo. Peterick estava acabado. Peterick estava acabado. Peterick estava acabado. Quanto mais repetia a frase em sua mente mais parecia mentira. Precisava separar seus sentimentos dos seus desejos. Cometeu um grande erro ao não fazer aquilo quando eram adolescentes. Não iria repetir.
Precisa urgentemente tomar um banho, porém, não conseguiria ficar nem mais um minuto naquela residência. Então pegou suas coisas e se dirigiu ao apartamento de Ray. Após algumas batidas, o rapaz atendeu, com uma aparência cansada.
- O que está fazendo aqui? Vamos sair daqui a vinte minutos só.
- Preciso de um banho - disse, adentrando o local.
- O que?!
- Um banho. Preciso de um banho.
- Você costumava ter um apartamento para isso.
Foi até o banheiro, sendo seguido pelo amigo.
- Não posso. Pete está lá.
- Espera, o que?!
O ruivo estava tão abalado que nem pensava direito em suas ações. Quando percebeu estava despido e entrando no chuveiro, ignorando o outro que estava de costas, tentando falar e ao mesmo tempo não vê-lo sem roupas.
- Patrick, que porra está acontecendo?
- Pete dormiu lá. Ele ainda está lá. Não sei o que fazer. Nós... acabamos com tudo. Eu fui um idiota. Merda.
Ele chorava, mas ninguém conseguia ver. As lágrimas se misturavam na água quente que escorria por seu corpo. Nem os diversos sabonetes conseguiram tirar a cheiro de Pete que estava preso à sua pele. Era como se ainda conseguisse sentir seus toques e sua voz em um tom baixo, sussurrando seu nome. Queria esquecer. Queria muito esquecer.
- Caralho, Patrick, estou de costas e consigo ouvir o ouvir o som da esponja que está esfregando, está tudo bem?
- Eu só queria... esquecer dele.
- Está tudo bem?
- Não! Eu e o Pete... - Não conseguiu terminar a frase. Estava abalado demais para isso.
- Eu queria tanto isso, Ray. Tanto! Passei anos sonhando com esse dia. Mas agora estou arrependido. Foi bom. Não, ignore isso. Foi incrível, esplêndido, maravilhoso. Só que agora as lembranças doem. Sinto como se fosse o mesmo o adolescente de quando nos conhecemos. Por que não consigo esquecer dele?
O outro estava em silêncio, muito perplexo para formar uma frase. Não gostou nem um pouco de ver o colega daquela maneira.
- Senti tanta falta de Pete... queria ele mais do que tudo... por que então me sinto mal?
- É complexo. Mais do que posso compreender. Vocês tiveram uma história juntas. É difícil esquecer. Principalmente quando foi algo tão importante para ambos. Depois de anos e anos, vocês se encontram e os sentimentos são complicados. Sei que não ajudo muito com isso. Mas não há razão para se sentir mal. Já está no passado. É um novo dia. O que quer que tenham feito ontem, acabou. Você não sente nada por ele... sente?
Em vez de responder a pergunta, o mais baixo apenas disse:
- Já te contei como ele e eu nos conhecemos? Foi em uma festa. Uma droga de uma festa. Estava cansado e Gerard tinha saído com Frank e simplesmente me abandonado lá. Procurei um lugar livre e encontrei Pete em um quarto sem querer. Foi estranho, achei que ele era apenas mais um jogador idiota. Bem, o ponto é que nós nos beijamos. Foi bom. Ah, como foi. Não consegui tirá-lo da minha mente. Até outra festa. Decidimos que iríamos manter um relacionamento sem sentimentos. O resto você sabe. Ele foi a pessoa que mais amei, etc, etc. Então, por causa do merda do pai dele, teve que ir. É tudo culpa daquele babaca viciado. Ele passou meses, porra, meses em uma clínica para, dois dias depois de sair, arruinar a vida do filho. Arruinar a minha vida!
- Patrick, você precisa se acalmar. Essas coisas já passaram. Você está bem. Ok? Deixe isso no passado. Deixa a noite anterior no passado. Deixe os sentimentos no passado. Hoje é um novo dia. Vocês ainda podem ser amigos. O que aconteceu não mudou as coisas. Entende?
Respirou fundo e pensou melhor. O rapaz estava certo. Deveria esquecer. Era melhor.
- Peterick acabou - sussurrou.
- O que?!
- Peterick... era assim que nossos amigos costumavam nos chamar quando éramos um casal. Isso acabou.
Ambos sorriram, sentindo vitoriosos de maneiras diferentes.
- Peterick acabou - Ray repetiu.
- E agora de uma vez por todas.

Astronaut ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora