Capítulo 16

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Aviso: bebidas alcoólicas, alcoolismo
Melhor prepararem seus coraçãozinhos

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Pete estava nervoso. Fazia muito tempo que não ia a um encontro com alguém próximo de seus amigos. Em Los Angeles era impossível, então sempre arrumava um jeito de encontrar pessoas por conta própria. Mas agora a pressão era maior. Qualquer erro que fizesse poderia refletir na relação dela com Joe. Era pressão demais.
Pensou em como nada daquilo seria importante quando era adolescente. Sabia que era incrível e que as garotas adorariam sair com ele. Poderia se considerar um sucesso. Bem, até que conheceu alguém que realmente fez com que as coisas ficassem difíceis. Não era simples como um encontro com Patrick. Tudo era misterioso e a promessa de não sentir algo direcionava cada ação deles. Todos os momentos se tornavam mais importantes e prazerosos. Era uma pena que aquilo tivesse acabado cedo demais.
- Peter? - uma voz doce o tirou de seus pensamentos.
Levantou-se, encontrando uma mulher um pouco mais baixa que ele e com um sorriso simpático.
- Pode me chamar de Pete - sorriu em resposta.
- Claire. Pode me chamar de... Claire.
Soltou um leve riso. Por alguma razão, ela lembrava alguém para ele. Os cabelos ruivos curtos e a pele pálida pareciam se encaixar como uma imagem nublada de algum conhecido. Não conseguia desvendar quem era.
Ela se sentou, analisando o cardápio com atenção. O restaurante que escolheram era simples e aconchegante, não muito sofisticado e bastante moderno. Praticamente perfeito.
Após fazerem os pedidos, ela sorriu calorosamente e disse:
- Então, Pete, me fale mais sobre você. Oh, tipo, como conheceu o Joe?
- Ah, nós estávamos os dois no time de futebol na escola.
- Você joga?
- Faz um tempo que não jogo. Mas em um geral sim. Artilheiro do time por dois anos consecutivos.
- Isso é muito legal. Mas então o que faz hoje?
- Estou... desempregado. Infelizmente.
- Oh. Provavelmente vai conseguir algo logo, um cara incrível assim.
Desviou o olhar, não sabendo como lidar com o elogio.
- O Joe já estava com o Andy quando se conheceram, não é?
- Ah, sim.
- Eles são um casal muito fofo. Queria encontrar alguém para ser daquela maneira comigo. Talvez você possa ser essa pessoa.
- Realmente espero que seja.
A noite continuou de maneira muito agradável. Fazia muito tempo que não tinha um encontro bom como aquele. Claire era uma pessoa engraçada e sempre sabia fatos estranhos e interessantes para falar sobre qualquer assunto. Além de ser extremamente encantadora. Era praticamente perfeita se comparada a ele, era o que pensava. Ainda mais estando nervoso. Ela, no entanto, pensava de maneira diferente, achava-o mais incrível do que Joe havia falado. E ainda era mais bonito do que tinha imaginado. Conseguia perceber que estava um pouco nervoso, porém, nada que atrapalhasse o quão agradável a noite estava sendo.
Quando o jantar acabou, sentiam que passaram menos tempo juntos do que deveriam, Claire então sugeriu:
- Você está de carro? Moro aqui perto, estou a pé. Pode me levar até em casa se quiser.
- Ah, na verdade, não tenho carro - respondeu constrangido.
- Se quiser andar comigo até lá, pode ser também.
- Iria adorar.
Tudo parecia estar finalmente caminhando para o lugar certo. Talvez ela fosse mesmo o final feliz que sempre sonhou.
A caminhada foi lenta e prazerosa. Aproveitavam cada segundo ao lado. No entanto, o rapaz ainda sentia como se algo estivesse fora do lugar. Toda vez que a fitava, sentia que se parecia com outra pessoa. Era uma sensação estranha e que lhe causava uma grande agonia, principalmente por não se lembrar de quem se tratava. Tudo se tornava confuso e nublado em sua mente.
Quando ela o convidou para seu apartamento e começou a beijá-lo, decifrou a imagem que estava em sua mente durante todo aquele tempo.
Olhos azuis. Patrick. Cabelos loiros avermelhados. Patrick. Pele pálida. Patrick. Bochechas rosadas. Patrick. Patrick. Patrick. Uma boca contra a sua. Patrick. Mãos percorrendo seu corpo. Patrick. Lábios contra seu pescoço. Patrick!
Finalmente abriu os olhos, falando sem poder se controlar.
- Eu te amo, Patrick!
- O que? - ela se afastou, confusa.
- Me desculpe, eu... preciso realmente ir. A noite foi ótima, de verdade. Você é engraçada, bonita, muito legal. Mas meu coração pertence a outra pessoa. Me desculpe, mesmo. Realmente espero que encontre alguém que te faça feliz. Me desculpe, preciso ir.
Saiu, quase correndo, deixando a mulher extremamente confusa para trás.
Sua mente estava muito agitada. Não sabia como lidar com os sentimentos recém-descobertos. Bem, a verdade era que sempre sentira que estavam ali, porém, agora o segredo estava solta. Poderia se permitir sentir finalmente. Queria ir para seu apartamento e beija-lo como se não houvesse amanhã. Queria declarar o que sentia. Mas sabia que as coisas não eram tão fáceis. Se confessasse poderia perdê-lo como amigo. Não queria isso em hipótese alguma. Então decidiu que precisava de conselhos. Só depois poderia agir de qualquer maneira.
Estava tão concentrado em seus pensamentos que chegou mais rápido a residência dos amigos que pensou ser possível. Quando Joe atendeu o interfone, parecia muito confuso, mas logo o deixou subir. Cada segundo no pequeno elevador aumentava sua ansiedade. Não via a hora de estar livre dali. Assim que a porta abriu, Bowie correu aos seus pés. Pegou-o no colo, recebendo várias lambidas felizes no rosto.
- Pete, você não deveria estar em um encontro?
- É, mas saí.
- Por que?
- Ah, porque eu amo o Patrick.
Continuava acariciando o filhote, sem se preocupar em respondê-lo.
- Você o que?!
Ignorou-o mais uma vez. Sentia falta do seu pequeno companheiro e queria poder abraçá-lo por quanto tempo pudesse. Ainda por mais por estar tão assustado com o futuro.
- Pare de fugir do assunto.
Suspirou, sabendo que estava errado ao tomar aquelas atitudes.
- Estava com a Claire e quando ela me beijou percebi que tinha sentimentos por ele.
Finalmente adentrou no local, indo se sentar no sofá. Mesmo após meses, ainda continuava a odiar aquele lugar desconfortável.
- O que está fazendo aqui então?
- Não sabia como agir.
- Fale para ele.
- Não posso! E se perdê-lo?! Jamais poderia aguentar ficar sem ele.
- Pete, é o Patrick. Aquele que esteve ao seu lado por tanta coisa, que te ajudou, que te fez feliz, que te amou. Ele seria capaz de enfrentar o mundo todo para te deixar bem. Nunca ter parado de pensar em ti mesmo após uma década só reforça isso. Cara, é o Patrick, é praticamente impossível perdê-lo.
Sorriu, acreditando naquelas palavras. Fazia sentido. Eles passaram tanto tempo separados, poderia aguentar mais um pouco. E talvez ganhasse de volta o que tinha antes. Bem, não seria o mesmo, tinha certeza. Tudo estava diferente. Inclusive o amor que sentia. Estava mais maduro, mais forte. Poderia aguentar qualquer coisa por ele. Até mesmo se colocar na frente de uma arma. 
- Vai falar com ele?
- Vou.
- Está esperando o quê?
- Eu não...
- Pete? - Andy apareceu, com a aparência de que havia acabado de sair do banho - Não deveria estar em um encontro?
- Deveria. Mas ele ama o Patrick, então não deu muito certo.
- Ele o que?
- Nada demais, sabe?
- Porra, você está me dizendo que Peterick vai voltar?
Os dois rapazes se encararam, surpresos demais para falar algo imediato.
- Você... realmente ouviu ele dizer Peterick pela primeira vez em... todo esse tempo?!
- Ah, me apaixonei pelo homem certo!
Joe se jogou nos braços do outro, rindo de sua expressão confusa. 
- Espera, você está levando o Bowie de volta? - disse, observando o cachorro que animadamente se aninhava nos braços tatuados.
- Claro. Senti falta do meu bebê. Olha, ele cresceu! Daqui a pouco vai estar tão grande que não vou conseguir segura-lo...
- Por que parece que está prestes a chorar?
- Eu só senti muita falta desse carinha. E talvez se estiver com esse filhote muito fofo quando falar com o Patrick, ele não diga que sou uma aberração por ama-lo por tantos anos.
- Sabe que nunca diria isso.
- Talvez.
O ruivo revirou os olhos e começou a pegar as coisas do animal, entregando-os para o amigo.
- Bem, acho que é isso. Agora vou enfrentar meu maior medo.
- Adeus, Peter. Estou feliz que finalmente vamos ter a casa só para nós.
Joe deu um sorriso malicioso e desceu a mão lentamente até a bunda do namorado, que ficou vermelho e o empurrou levemente para o lado, fazendo com que começasse a rir.
- Obrigado, gente, amo vocês de verdade.
Abraçou-os com força, dando um sorriso.
- Nós também te amamos. Agora deixa de frescura e vai atrás do seu homem, Pete.
Foi exatamente o que fez.

»●« »●«

Ao chegar no apartamento, pensou estar sozinho, afinal, acreditava que o ruivo estaria trabalhando naquele momento. No entanto, assim que abriu a porta, escutou um som num tom baixo, parecia um choro.
- Patrick? - chamou, retirando a coleira do filhote, que rapidamente correu para a cozinha após cheirar o ambiente.
- Patrick?
Assim que o viu, seu mundo pareceu cair aos pedaços. Estava sentado no chão, com uma aparência péssima. A camisa estava desabotoada em alguns lugares, seus pés estavam descalços, o cabelo - agora estranhamente loiro - estava bagunçado e seu rosto estava inchado e vermelho por causa do choro.
- Oi, carinha - fez carinho em Bowie que animadamente pulava em suas pernas e cheirava a garrafa quase vazia de tequila ao seu lado.
- O que aconteceu?
A voz de Pete estava quebradiça e fraca. Tinha perdido todas suas estruturas.
- Ah, eu pedi demissão no hospital.
Finalmente fitou-o, soltando uma risada.
- Sou um idiota, sabe? Joguei tudo que conquistei fora. Pulei dois anos na faculdade, consegui um ótimo emprego. Desperdicei por estar exausto. Literalmente exausto. Realmente gostava do que fazia. Mas não aguento mais. Meu corpo não aguenta mais. Adoro crianças e cuidar delas e conhecer histórias incríveis e tudo relacionado a isso. Só que minha verdadeira paixão é a música. Não posso continuar mentindo e me deixando exausto com algo que amo tanto quanto deveria. Então simplesmente desisti.
Deu uma pausa, bebeu um gole da garrafa e continuou.
- Não foi a única coisa idiota que fiz. Olha meu cabelo! Sabe a razão disso? Você! Queria chamar a sua atenção. Pensei que se estivesse diferente talvez tivesse algum interesse em mim. E sabe pôr que?
Começou a rir, bebendo um pouco mais.
- Porque naquele dia quando disse que tinha um encontro, percebi que não queria aquilo. Queria que estivesse comigo. Porque estou apaixonado por você. Ou talvez eu só esteja realmente bêbado.
Era como se o chão tivesse sido tirado de sob seus pés. Não conseguia respirar, nem pensar direito. Patrick estava apaixonado por ele. A forma que contou tinha sido péssima. Era como se seu maior sonho e seu maior pesadelo estivessem acontecendo ao mesmo tempo.
- Não vai dizer o quão patético sou por sentir isso por tanto tempo? Não vai dizer que tem nojo de mim? 
Como poderia dizer aquilo se sentia o mesmo? Jamais pensaria naquelas coisas, ainda mais quando seus sentimentos estavam tão confusos quanto naquele momento.
- Não - sussurrou - Temos que conversar outra hora. Agora você precisa ir descansar e ficar sóbrio.
Pete ajudou-o a se levantar, com muita dificuldade. Assim que firmou seus pés no chão, tentou desesperadamente beijá-lo, porém, foi afastado.
- Não quer me beijar? - deu um sorriso.
Ah, ele queria, como queria. Mas não naquelas condições. Queria que tivesse certeza do que estava fazendo. Sabia que não estava pensando.
- Você está bêbado. Não sabe o que quer.
- Sei sim. Quero você.
- Não, Patrick, não! Está incapaz de pensar direito agora. Vamos conversar melhor amanhã.
Aquilo foi suficiente para irritar o mais baixo que o empurrou com força para longe e pegou a tequila novamente.
- Não quero falar com você. Nunca mais. Sou idiota demais por pensar que teríamos algo.
O coração do moreno estava destruído em milhões de pedaços. Estava muito magoado. Mais do que já pensou que poderia estar. As lágrimas rolavam por suas bochechas, por mais que tentasse contê-las.
- Vou para o meu quarto, não tente falar comigo. Ah, o Bowie vai também. Quero deixá-lo seguro.
Pegou o pequeno animal no colo, que não estava mais tão animado. Parecia perceber que o clima não estava bom.
Entrou no local e fechou a porta, se jogando na cama. O filhote deitou sobre seu braço, lambendo seu rosto tristemente. É mentira o que dizem sobre não terem sentimentos. Podia não entender o que estava acontecendo, contudo, sabia que precisava consolar seu dono.
Começou a fazer carinho nele, sussurrando como uma forma de consolar a si mesmo.
- Nós vamos ficar bem, Bowie. Nós vamos ficar bem.

Astronaut ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora