Capítulo 20

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Aquele era um dia importante. Por isso Pete não conseguia conter a empolgação. Depois de pensar muito naquilo, eles haviam decidido aproveitar a visita de Melanie a Chicago e fazer uma festa com seus amigos. Também era uma oportunidade de se despedir de seu apartamento, tinham decidido por um menor.
O fato de não ter dormido naquela noite só o deixava mais ansioso. Apesar de estar bem melhor agora, ainda tinha problemas. O grupo de apoio estava ajudando muito, precisava confessar. Quando conseguissem se estabilizar, ele iria procurar um tratamento mais adequado. Tinha passado tempo demais se sentindo mal, então queria ficar o melhor possível. A presença do namorado ajudava muito, porém, não podia se apoiar totalmente nisso. Também não queria esperar muito, então, planejava salvar uma pequena quantia do seu salário para isso.
Mas aquela noite havia sido péssima. Apenas se lembrava de acordar gritando e Patrick tentando acalmá-lo. Se pensasse demais, conseguia se lembrar claramente da sensação do seu coração acelerado e da falta de ar. Porém, conseguia se lembrar dos braços ao seu redor e da voz que sussurrava "Love of my life" enquanto seu choro ecoava pelo lugar.
Por mais que se sentisse mal por ter deixado o outro acordado por sua causa, sabia que era porque o amava e que não era um problema. Ainda sim, sentia-se um pouco culpado. O problema que o mais baixo conseguia enxergar aquilo em seu rosto muito bem.
- Ei, meu amor, o que está te incomodando? - questionou, mesmo que soubesse a resposta.
- Não precisa se preocupar.
- Você sabe que vou me preocupar de qualquer jeito.
- Eu... só estou preocupado com hoje e contigo.
- Por que deveria estar preocupado comigo?
- Porque passou a noite acordado comigo.
- Eu já passei muitas noites acordado com você, nunca te vi reclamando.
Revirou os olhos e o abraçou, encostando a cabeça em seu ombro.
- Isso é diferente. Foi tenso.
- Sabe que não ligo para isso.
- Sei. Mas é impossível me fazer parar de ficar preocupado.
- Hoje é um dia especial, não pense nessas coisas. Tente se animar.
Depositou um beijo na testa dele e sorriu.
- Eu te amo, vai dar tudo certo, ok? Confie em mim.
Suspirou, finalmente cedendo.
- Então, vamos arrumar tudo porque esse apartamento não vai se arrumar sozinho. E Bowie parece não estar com muita vontade de arrumar... - apontou para o animal que dormia profundamente em sua cama.
Depois de rir por alguns segundos, iniciaram as tarefas do dia.  
Apesar do clima animado e das músicas que eram cantadas pelo ruivo, ficaram exaustados. Quando terminaram, era uma hora antes dos convidados chegarem.
Pete queria se arrumar, porém, não tinha vontade de sair da cama por alguns minutos. Sabia que aquela noite precisava estar perfeita, havia esperado tanto tempo, não poderia perder a oportunidade. Estava tão cansado que adormeceu, sem sequer perceber.
Quando acordou, ouviu vozes diferentes. Elas despertavam nele um lembrança antiga. Mas logo conseguiu reconhecer. Rapidamente se levantou e correu até a sala. Eles haviam chegado.
- Frank - sussurrou, vendo o amigo.
Estava muito diferente, obviamente. Anos haviam se passado, claro que estaria diferente. Contudo, ainda via nele seu grande companheiro de time.
O abraço foi apertado e se tornou impossível conter as lágrimas. Parecia irreal. Não conseguia acreditar que estava ali novamente. Era como um filme se repetindo em sua mente.
- Quanto tempo...
- Senti tanto a sua falta - o mais alto falou.
- Não tem noção do quanto quis meu melhor amigo de volta.
- Agora você tem.
Eles não conseguiam parar de chorar. Haviam passado por tanto tempo separados que a realização daquele momento parecia impossível.
Finalmente se recuperaram e o moreno se dirigiu a Gerard, abraçando-o por longos segundos.
- Senti tanto a falta de vocês...
As lembranças voltaram a sua mente e foi impossível não sorrir.
- Ok, acabou de estoque de lágrimas para hoje, melhor pararmos - Frank comentou, causando risadas.
- Então, como está a vida de vocês?
- Nós... nos casamos há uns anos e, depois de muita dificuldade, adotamos uma garotinha. Espera, olha aqui.
O mais alto pegou o celular e mostrou fotos dela.
- Ela adora jogar futebol. Vocês iriam se dar bem.
- Eu adoraria conhecê-la, de verdade.
- Ela ouviu muito sobre ti, não se assuste se tiver muitas perguntas.
Começaram a rir, contudo, foram interrompidos por batidas na porta.
- Cara, como vocês estão velhos.
Joe entrou correndo no apartamento, jogando no chão o pacote de refrigerante que carregava. Andy estava logo atrás, carregando outro engradado. Todos sabiam que Patrick estava fazendo tratamento para não consumir mais bebidas alcoólicas e, mesmo que quisessem tomar, sabiam que seria melhor para o amigo.
- Bowie! - gritou, vendo o filhote correr na sua direção e lamber seus cachos - Você está tão grande!
Eles riram observando a cena. Porém, foram sobressaltados por alguém gritando:
- Não acredito que começaram a festa sem mim!
Melanie deu um grande sorriso, exibindo o espaço entre seus dentes que a deixava tão adorável. Estava praticamente a mesma. Usava roupas em tons pastéis e tinha o cabelo com uma metade loura e outra negra.
Quando a abraçou, sentiu um alívio enorme. Todos eram seus amigos, mas ela era sua grande amiga, aquela com a qual tentaram tornar sua namorada, quem descobriu sobre seu namoro e a pessoa que mais o ajudou no ano que passaram juntos.  
- Ainda namorando em segredo?
- Não vou mentir que sim.
- Vocês nunca aprendem mesmo...
Entraram no local e começaram a conversar. Novos acontecimentos se cruzam com antigos enquanto conversam. Lembraram de momentos antigos e piadas internas jamais esquecidas. Sentiam-se tão leves que pareciam flutuar. Era impossível negar que sentiram saudades daqueles momentos. Mesmo que não fossem os mesmos adolescentes, ainda tinha uma magia em estar com seus amigos. Muitas coisas haviam mudado naqueles anos, mais do que poderiam contar, só que sabiam que teriam sempre um ao outro se precisassem.
Foram interrompidos por batidas na porta e Patrick decidiu abrir.
- Caralho, você é literalmente meu vizinho e conseguiu chegar atrasado.
Ray revirou os olhos e apontou para a garota atrás de si.
- Tudo culpa dela.
Ele sorriu e deu passagem.
- Galera, esses são Ray e Nicole. Gerard e Franko, que já conheceram, Andy e Joe de quem falei, Melanie e por último e com certeza não menos importante, Pete, meu namorado.
- Ah, sinceramente não achei que fossem ficar juntos... mas depois do cachorro meio que perdi as esperanças - o rapaz falou, dando um sorriso.
- Eu sempre acreditei -  a mulher ergueu as sobrancelhas.
Ele passou o braço ao redor da cintura do mais alto, dizendo:
- Eu também não queria acreditar. Mas tem algumas coisas que simplesmente foram feitas de um jeito. Nós somos assim. Feitos um para o outro.
- Isso é muito fofo, vou vomitar - a de cabelo colorido falou, causando risadas.
- Nós vamos nos dar bem - o outro médico disse, exagerando um sorriso para ela.
- Nem adianta tentar, você é o único hétero daqui...
- Sorte minha - a loira piscou para ele e foi sentar ao lado da outra garota. Mel não conseguia reagir, sentia-se totalmente hiponitizada por tamanha beleza.
- Quando vocês duas pararem de se comer com o olhar nós podemos continuar nossa noite... 
Reviraram os olhos, sem deixar de rir.
Tudo estava fodidamente perfeito. Finalmente. Estavam onde deveriam estar. Aquele era o verdadeiro lar de Pete. Quando voltou para Chicago, não esperava encontrar qualquer um deles. Queria se isolar de seu passado e só viver normalmente. Mas havia entrado naquele carro. E reencontrado Patrick. No começo, tinha sido péssimo. As dúvidas que sempre rondaram seus pensamentos estavam de volta. O que exatamente sentia pelo ruivo? O que deveria sentir? Raiva? Tristeza? Saudades? Não fazia ideia. Depois da fatídica noite, as coisas só haviam se tornado mais complicadas. Tudo tinha sido bom demais, não poderia negar. A sensação de tê-lo para si, mesmo que por alguns segundos, foi como peças de um quebra-cabeça se ajeitando. Então, novamente sentiu como se tudo estivesse desmoranando. Porém, agora estava no lugar em que sonhara desde a adolescência. Parecia que estava no paraíso. Merecia aquilo após tudo da sua vida. Merecia o seu paraíso.
- Nós sentimos a sua falta no hospital, como vai a carreira musical?
- Caminhando...
- Espera, acho que vi um vídeo seu na internet - Mel falou.
- Sério?
- Você postou algum recentemente?
- Faz alguns dias, mas não acompanhei muito bem.
- Se fosse você, entraria na sua conta para ver.
Ansiosamente esperou enquanto carregava até que finalmente abriu.
- Isso é... uh, eu não consigo ler números tão grandes. Eu, uh... Pete?
Não conseguia acreditar nos seus próprios olhos. Mostrou o celular para o namorado que encarou a tela incrédulo.
- Isso é... dois milhões e alguma coisa...? Não tenho certeza. Joe?
- Caralho, o Patrick está famoso! - gritou, pulando no amigo.
- Meu amigo está famoso!
Gerard se juntou a ele, esmagando-o em um abraço.
Ele não conseguia acreditar. Havia desistido, por isso não sabia da repercussão. Preferiu não se torturar e saiu da conta. Mesmo com a quantidade de seguidores, teve medo de não dar certo e acabar desistindo.
- Isso está mesmo acontecendo?
- Sim!
- Você merece, meu amor. Você merece isso.
Sorriu enquanto recebia um abraço do namorado.
- Eu não entendo... passei tanto tempo nisso e nada tão grande aconteceu.
- Talvez uma pessoa com muitos seguidores tenha repostado seu vídeo, é uma possibilidade.
No mesmo instante, olhou para a garota de cabelo colorido.
- Você...?
- Talvez - deu um sorriso, exibindo seus dentes.
- Não acredito! Mel, obrigado, obrigado, obrigado!
Praticamente se jogou em cima dela.
- Eu te amo, cara, isso não foi nada.
Não conseguia parar de sorrir, sentia suas bochechas doerem, porém, era incapaz de parar.
- Patrick, seus amigos são incríveis, deveria ter conhecido eles antes - Ray sussurrou - Vocês se conheceram como?
- Hora da história, crianças - Joe berrou.
- Eu era apenas um jovem perdido e confuso no começo do ensino médio quando vi, no horizonte, como uma luz no fim do túnel um garoto falando sobre futebol. Soube que havia encontrado meu lugar. Nós viramos muito amigos, entramos no time da escola juntos, éramos considerados os artilheiros. Quer dizer, mais ele do que eu.
- O Pete é muito bom em futebol, tipo, muito bom mesmo - o ruivo interrompeu Pierre.
- Nós sabemos - a loira revirou os olhos - você mencionou isso diversas vezes. Sempre que alguma criança dizia que gostava de jogar, você citava seu amigo que era ótimo nisso.
- Oh...
Ele sentiu suas bochechas se esquentarem e escondeu o rosto no pescoço de Pete.
- Como sabe que não está falando de mim?
- Frank, ele não parecia triste quando falava sobre ti.
- Faz sentido.
- Ok, agora minha vez - Gerard gritou - Eu conheci o Pat...
- Não me chame assim!
- Continuando... nós tínhamos seis anos e éramos duas crianças meio sozinhas. Nós viramos amigos, mas logo eu tive que me mudar de volta para o Canadá por dois anos e quando voltei, descobri que nossos pais trabalharam juntos e voltamos a nos aproximar. Desde então, ele é meu melhor amigo. E já aguentei muita coisa dele.
- Você aguentou?! Eu que fiquei de vela, que aguentei você apaixonado, que fui deixado sozinho numa festa enquanto você enfiava sua língua na garganta do Frank!
- Como se naquela festa em específico você não estivesse enfiando a língua na garganta do Pete.
Ficou totalmente corado, fazendo todos rirem.
- Porra, vocês tem histórias interessantes e eu só comecei a conversar com o Pete porque ele era um dos únicos caras no time que não era um babaca.
- E eu porque a gente trabalhava junto e queria pegar o Joe - Andy completou a fala do noivo.
- Verdade!
- Queria eu ter uma amizade assim. Vocês têm sorte.
- Eu tenho muita.
Pete depositou um beijo na bochecha do ruivo.
- Ew, que fofos. Agora parem de me lembrar que eu vou morrer sozinho - Ray disse, segurando Bowie no colo.
- Ei, me dá o cachorro - Joe disse.
- Não! Eu que trouxe ele.
- Eu que cuidei dele!
Continuaram discutindo como crianças, causando risadas em todos.
É, tudo estava perfeito.

»●« »●«

O apartamento estava uma bagunça quando os amigos saíram. Pete sentiu seus músculos reclamando ao pensar em limpar aquilo. Mas o sorriso no seu rosto prevalecia. Sentia como se seu coração fosse explodir.
Ele fitava o pôster na parede do quarto quando sentiu braços ao redor de sua cintura, delicadamente puxando-o para trás.
- No que está pensando, meu amor?
- Senti falta disso. De vocês. Ficava extremamente solitário em Los Angeles, só conversava com Joe e Andy por telefone algumas vezes. Então, me sentia muito sozinho. Mas agora tenho vocês. Não poderia estar mais feliz.
- Isso é ótimo. Gosto de te ver assim.
- Eu te amo, sabia?
- Sempre soube. Só que tem uma coisa que sei também?
- O que?
- Que eu te amo muito, muito mais.
- Não teria tanta certeza desse fato...
- Tenho. Ninguém te ama mais do que eu.
- Mas eu te amo mais do que me ama.
- Melhor pararmos com isso, nunca vai ter fim.
- Que bom que aceitou sua derrota.
Revirou os olhos e puxou o mais alto até a cama.
- Jamais imaginei que isso estaria acontecendo.
- Também não.
- Eu já chorei muitas vezes nesse apartamento sonhando que estivesse ao meu lado. Vou sentir falta daqui.
- Mesmo que não tenha passado tanto tempo neste lugar, vou sentir muita falta.
- É... só que as coisas vão melhorar agora. Vamos começar novamente. Uma vida nova. Finalmente, depois de tudo que aconteceu.
- Sim. Obrigado, Patrick.
O ruivo depositou um beijo em seus lábios e sorriu.
- Obrigado, Pete.

Astronaut ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora