Capítulo 8

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Pete só notou que havia caído no sono ao acordar com o som de seu celular. Atendeu, ainda muito sonolento para processar informações complexas. Sua cabeça doeu ao escutar o grito de Andy do outro lado da linha:
- Porra, Pete, onde você está? Estamos preocupados para caralho. Imagina como foi legal chegar em casa e não te encontrar? Ainda mais depois de não responder nossas mensagens e ligações.
- Eu acabei dormindo, me desculpe.
- Dormindo onde?
Esfregou os olhos, tentando pensar em como responder aquilo. Foi impossível devido ao seu estado sonolento.
- Posso explicar quando chegar aí?
- Você quer nos matar, não é? Acha que temos coração para aguentar você sumindo por horas?! Joe, nunca mais vamos adotar outro garoto de vinte e oito anos.
- Você planejava adotar outro?! - surgiu uma voz um pouco distante.
- Esse não é o ponto. Pete, você está bem?
- Estou. Não precisa se preocupar.
- Acho que é um pouco tarde para isso.
Deu um pequeno sorriso e se despediu dos amigos.
Seu corpo reclamou ao tentar se mover. Consequências da noite cansativa e de ter passado diversas horas dormindo. Até pensar parecia uma tarefa impossível.
Vestiu suas roupas e arrumou o quarto, lembrando com culpa do que ocorrera horas atrás. Tentou afastar seus pensamentos, porém, ainda era real demais. Doloroso demais.
Talvez não fosse mesmo uma boa ideia morar ali. Mas... a ideia de ficar em um lugar confortável como aquele era um tanto quanto irresistível. Além disso, haviam decidido que não aconteceria mais nada entre eles. Eram adultos, poderiam lidar com aquela situação sem problemas. Estavam oferecendo um Palácio para morar, sem ter que pagar um centavo por enquanto, e pensava em recusar para não ter que encontrar um homem? Era besteira. Agora só precisava encontrar um jeito de não magoar alguém com aquilo. Isso sim era difícil.

»●« »●«

Ele sentia como se fosse um adolescente que tivesse feito muita merda e tinha que se explicar para os pais, o que, de certa forma, foi o que aconteceu.
Vendo os amigos sentados no pequeno sofá com uma expressão preocupada, sentiu-se pior pelo que fez.
- Por onde começo? - murmurou, andando de um lado para o outro.
- Que tal pela parte em que foi em um encontro com um estranho e sumiu por quase vinte e quatro horas?!
- Primeiro, tenho que contar o que aconteceu há algumas semanas. No dia em que peguei o carro do Andy, sabem?
- Sim.
- Então, pensei que podia dirigir. Mas estava errado. Enfim, acabei me desesperando e um desconhecido me ajudou a sair. Nós conversamos por um tempo naquele dia e...
- Foi com esse desconhecido que você saiu?
- Sim e não.
- O que...?
- Esse desconhecido é na verdade... - abaixou o tom de voz - o Patrick.
- Quem?
- Patrick.
Eles o fitaram surpresos.
- Você foi em um encontro com... o Patrick? - Joe sussurrou.
- Não foi um encontro! Nós saímos para conversar. Principalmente sobre o grupo de apoio que ele me levou no hospital onde trabalha.
- Espera, que porra está acontecendo?! Grupo de apoio?! Por que ele trabalha em um hospital?!
- Porque ele é médico - respondeu como se fosse óbvio.
- Continuando... Ele me convidou para dormir em um quarto vago no apartamento dele e aceitei. Acabei dormindo além da conta, foi só isso.
- Você... só dormiu?
- Sim. Quer dizer, na maior parte do tempo.
- Por favor, me diz que vocês ficaram conversando ou comendo ou vendo um filme ou qualquer coisa menos o que estou pensando - o rapaz de cabelos cacheados fechou os olhos - Por favor, não me diga que vocês...
- Sim, Joe, nós dormimos juntos.
Andy inspirou e fitou o garoto.
- Peter, me dê três motivos para não arrancar sua cabeça agora mesmo.
- Vocês me amam. Vocês são ótimos amigos. E eu sou um idiota, sei disso, por favor, não me matem?
- Por isso eu quero um cachorro - falou para o namorado.
- Mas cachorros destroem as coisas.
- E humanos destroem a nossa vida!
- Bom ponto. Vamos vender o Pete para comprar várias coisas para o nosso futuro cachorro?
- Não estão realmente bravos comigo... estão? Nem decepcionados ou alguma coisa assim.
- Não estamos. Cara, você tem quase trinta anos já sabe muito bem o que fazer com a sua vida. Não podemos interferir nisso. Só ficamos preocupados. Estivemos todo o tempo em que ficaram juntos. Eu atendi suas ligações quando se mudou para L.A. e começava a chorar de madrugada lembrando dele. Eu conversei com Gerard sobre o quanto Patrick sentia sua falta. Só não quero que isso machuque mais vocês. Podemos não conversar mais com ele há anos, mas já foi nosso amigo. Não queremos que ele se magoe também.
Aquele discurso foi suficiente para que Pete desabasse no choro mais uma vez. Sentou ao lado deles no pequeno sofá e deixou que seus soluços ecoassem pelo local.
- Nós fomos idiotas, sei disso. Prometo que não vai mais se repetir. Foi um erro. Um grande erro. Prometo, ok? Prometo que nunca mais vai acontecer.
- Tem certeza?
- Sim. Dessa vez vai ser diferente. Nós somos adultos, como vocês disseram. Podemos lidar com nossos desejos. 
- Tudo bem. Confio que vai fazer o que for melhor para ambos - Andy sorriu.
- Ah, tem mais uma coisa que preciso contar a vocês... Patrick disse que eu poderia morar no quarto vago do apartamento dele por um tempo. Eu realmente gosto de ficar aqui com vocês. Só não quero mais incomodar. E... lá tem uma cama grande e confortável. Mas lá não tem meus melhores amigos. Não sei o que fazer...
Toda a certeza que tinha a respeito de se mudar sumiu com as palavras do amigo.
- Isso é uma grande decisão. Precisa pensar bem antes de fazer qualquer coisa.
- Eu... - deixou a frase morrer, voltando a chorar.
- Aconteceu mais alguma coisa?
- Não. Eu só... amo vocês demais. Foram os únicos que ficaram comigo quando mais precisei. Sei que sou um pé no saco as vezes, mas eu realmente amo vocês. Me desculpem por ter mentido. Me desculpem.
- Ei, está tudo bem. Não precisa se desculpar. Nós também te amamos, Pete - disse o ruivo e então puxou ambos para um abraço.
Pareciam uma família. Bem, não só pareciam. Eram uma família. Mesmo que pequena e diferente de todas as outras, eram uma família que se amava acima de tudo.

Astronaut ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora