Capítulo 19

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- Querido! - a mulher gritou assim que a porta abriu.
Jogou-se nos braços do rapaz e o apertou com força.
- Senti tanto sua falta!
- Mas... nos vimos semana passada, mamãe.
- Estou falando dessa sensação de vocês dois entrando por essa porta. Faz muito tempo.
Ela abraçou o outro demoradamente.
- Senti tanta falta dos meus meninos...
- Onde está o papai? - o ruivo questionou.
- No jardim, mexendo nas plantas. Por mais que eu fale, ele não aceita que tem que descansar. Talvez se um médico falar, aceite melhor.
Deu um sorriso falso, pensando que teria de contar a eles sobre sua nova carreira.
- Vou encontrá-lo.
- Ótimo. Pete, querido, pode me ajudar na cozinha?
- Claro.
Os minutos passaram rapidamente enquanto cozinhavam. A mulher perguntou sobre seus anos em Los Angeles e sobre sua volta. Estranhamente, conseguia se sentir confortável falando aquilo com ela. Felizmente não tocou no relacionamento deles ou no acidente. Ele não estava com vontade de chorar nos vegetais.
Logo que terminaram, os dois homens entraram no local e todos sentaram-se.
- Conseguiu algum emprego, Pete? - ela questionou.
- Ah, sim, vou trabalhar de gerente na cafeteria do Billie Joe.
- Isso é ótimo! Agora vai ficar mais fácil para vocês pagarem o aluguel.  
Aquela era uma oportunidade que não poderia perder. Era agora ou nunca. Seu momento de fala sobre aquilo passaria rapidamente e sabia que demoraria para criar coragem novamente.
- Na verdade, nós, uh, estamos pensando em nos mudar.
- Oh...
- Agora que estou... investindo na carreira musical e saí do hospital, o aluguel está ficando um pouco caro. Então, decidimos que poderíamos ficar em um lugar menor já que, uh, só precisamos de um quarto agora que... voltamos a namorar.
Ela se levantou da cadeira e jogou seus talheres na mesa, gritando na direção do marido.
- Nós vamos para o Caribe!
Os dois garotos ficaram extremamente confusos com a reação dela
- Você perdeu! - fez uma dancinha estranha de comemoração.
- O que... está acontecendo?
Ela deu um grande sorriso e voltou a se sentar.
- Nós apostamos que vocês voltariam a namorar. Quem ganhasse escolheria para onde vamos viajar. Eu ganhei.
- Droga, Patrick, você sempre me faz perder essas apostas.
Revirou os olhos, claramente se lembrando do dia que estava gravado em sua mente para sempre.
- Do que... ele está falando? Isso já aconteceu muitas vezes antes? - Pete perguntou, notando que havia uma certa referência que pareciam entender.
-  Oh, sim... tem uma vez bastante especial - riu.
-  Vocês se lembram?
-  Claro que sim. Aquele dia foi... especial.
- Eu vou explodir se ninguém me contar.
- Tudo bem... - riram.
- Há muito tempo atrás, o Patrick foi em uma festa. Nós apostamos se ele iria... ficar com alguém. Então, voltou para casa com uma grande marca roxa no pescoço. Creio que se lembre disso.
- Oh... - sentiu seu rosto se esquentar.
Por mais que tivesse passado mais de um ano convivendo com eles naquela época e os conhecesse há mais de dez anos, ainda era estranho pensar que já havia sido "o garoto que deixou um chupão no filho deles". Mas sabia que essa visão tinha sido destruída, afinal, eles tinham sido quem mais presenciara o amor que sentiam um pelo outro.
- Eu... não sei o que falar.
- Só não me faça perder mais apostas daqui em diante - o homem disse, fazendo com que começassem a rir.
As coisas estavam perfeitas. Era como um sonho. Tudo que Pete sempre sonhou estava se realizando. Tinha um namorado maravilhoso. Não, mais que isso. Tinha o namorado perfeito. Literalmente o cara dos seus sonhos. O amor da sua vida finalmente estava ao seu lado. Também tinha os melhores amigos que poderia desejar, sogros incríveis e um cachorro extremamente fofo. Agora tinha um emprego no seu lugar preferido do mundo.
Era tão bom estar ali, sentia-se em casa. Aquele lugar havia sido como seu lar por meses. Era seu canto seguro, ao se sentir sozinho quando seu pai estava na clínica. Apenas ia para lá e passava a noite deitado ao lado de Patrick. Eram as únicas noites em que dormia bem de verdade. Amava sentir os dedos do outro passando por seu cabelo e escutar os batimentos de seu coração quando deitava em seu peito. Podia se sentir realmente seguro.
O moreno sentiu a mão do outro sobre a sua levemente e foi impossível de conter um grande sorriso.
- Sempre soube que tinham sido feitos um para o outro. Era inegável que são perfeitos juntos - a mulher comentou.
- Eu sei disso - o mais novo falou - ele é perfeito para mim.
- Vocês são muito fofos, que inveja. 
Começaram a rir e voltaram para a refeição. É, as coisas estavam realmente perfeitas.

»●« »●«

Pete suspirou enquanto subia as escadas lentamente, em direção ao quarto que tanto o marcou. Lembrava dos inúmeros dias que havia passado ali. Conversando com seus amigos e seu namorado, rindo de piadas estranhas como se não houvesse amanhã. Ou quando ficava assustado e sozinho durante a madrugada e corria para lá, simplesmente ficava deitado escutando Patrick cantar. Os momentos que teve ali jamais poderiam ser esquecidos.
Sentiu alguém apertar sua mão levemente e olhou para o outro.
- Como está se sentindo? - questionou, enquanto adentravam no local, ficando um pouco trás.
- Estranho.
De fato, era estranho estar de volta ali depois de tantos anos e tantas mudanças. Mesmo assim, ainda havia um certo sentimento de que as coisas estavam parecidas. Era acolhedor.
Observou todo seu redor. O quarto não havia mudado muito. Pequenos detalhes talvez, só que nunca tinham tirado os móveis antigos.
- Sente saudades daqui?
- Como poderia não sentir? Passei os melhores momentos aqui. Ao seu lado.
- Não, acho que eu que passei ao seu lado.
Revirou os olhos, sentindo o ruivo passar os braços ao redor de sua cintura.
- Não acredita quantas vezes imaginei esse momento. Você entrando por aquela porta e dizendo que me amava, que precisávamos ficar juntos e que jamais poderia me deixar. Isso nunca aconteceu.
- Eu também imaginei isso tantas vezes. Conseguia ver me claramente entrando em um avião e correndo para cá. Você daria um grande sorriso e eu te beijaria até ficarmos sem ar. Diria o quanto te amava, o quão perfeito éramos um para o outro e passaríamos o resto de nossas vidas juntos. Isso nunca aconteceu.
Finalmente se virou para fitá-lo.
- Não importa mais, Pete. Eu tenho você agora. Nada mais importa. Só isso.
Ele o beijou. Foi lento, carinhoso e cheio de paixão. Esperaram aquele momento por anos. A forma como seus movimentos eram harmônicos e o jeito que seus lábios se encaixavam perfeitamente só mostrava o quão bom juntos eram juntos.
O beijo acabou rápido demais. Contudo, não tinham que se preocupar. Tinham todo o tempo do mundo.
O ruivo fitou seus olhos profundamente e declarou:
- Eu te amo. Eu te amo tanto que fisicamente dói. Eu te amo mais do que jamais poderia expressar. Eu te amo como amei dez anos no passado e como te amo agora. Eu te amei quando me pediu em namoro na frente de dezenas de pessoas e te amo agora, nesse quarto que nos traz tantas lembranças. Eu simplesmente te amo. E amo cada parte de você. Seu sorriso, seu rosto, seus olhos, sua voz, seu corpo, seu jeito. Cada coisa te faz perfeito de uma maneira única. Mesmo que saiba que não se acha suficiente ou bom, sei que é. Você é realmente bom em jogar futebol, sabia? Ah, eu te amo tanto.
Pete não sabia o que responder. Certamente não esperava aquelas palavras. Sentia as lágrimas quentes escorrendo por seu rosto, mas não conseguia se mover para secá-las. Estava totalmente focado nos olhos azuis esverdeados que o fitavam com amor. Então, ficou em silêncio, pois sabia que amava Patrick. E tinha certeza que haviam sido realmente feitos um para o outro.

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