A última coisa que Pete queria naquele dia era sair da cama. Seu corpo inteiro doía. Mas sua mente desmotivada era o pior. Depois de meses, havia finalmente conseguido um emprego. Tinha sido no momento certo, afinal, trabalhar com música era caro e, ambos desempregados, usavam suas reservas para manter o apartamento. O problema foi que no seu primeiro dia, ficou doente. Não conseguiu sequer ficar em pé por três dias. Agora sofria as consequência de ter ficado doente ao ponto de sentir como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Isso seria possivelmente menos doloroso.
Quando Patrick entrou no quarto, não fez esforço para fitá-lo, apenas continuou deitado, encarando o teto.
- Está tudo bem?
- O que você acha?
Escutou a risada do ruivo, seguida por um movimento na cama.
- Precisa se animar!
- Nós estamos fodidos, Trick. A culpa é minha.
- Ei, ei, não quero esse tipo de atitude aqui - passou os braços ao redor de seu tronco - Além disso, tenho possíveis novidades.
- Quais?
- Não sei se devo te contar...
- Patrick!
Finalmente se moveu para olhá-lo.
- Tudo bem... você esqueceu seu celular no banheiro, estavam te ligando, gritei para que atendesse, mas sua resposta foi apenas um grunhido estranho.
- É, me lembro disso.
- Então atendi. Era o Billie Joe.
Franziu a testa.
- Como?
- Ele achou estranho que eu atendi e perguntou de você. Disse que queria te encontrar o quanto antes, que precisava conversar sobre algo importante.
- O que isso significa?
- Não faço ideia.
- E no que isso me ajuda? Agora vou explodir de ansiedade. Muito obrigado.
- Pode deixar eu terminar? Você vai encontrá-lo amanhã na cafeteria.
- É muito longe.
- Consegue se mexer?
- Não?!
- Então, como quer que seja antes?
Pensou por alguns segundos, suspirando.
- Você está certo.
- Sempre estou.
Fechou os olhos, tossindo com força.
- Parece que estou fadado a cuidar de você, não é?
- Sim. Agora canta para mim.
- Qual a palavra mágica?
- Você parece uma criança.
- Palavra. Mágica.
- Por favor?
Sorriu, acariciando seus cabelos levemente.
Era totalmente apaixonado por ele, não podia negar. Mesmo com o rosto cansado, as olheiras das noites mal dormidas e a pele mais pálida que o normal, continuava mais lindo que tudo. Ah, era completamente apaixonado por aquele homem. Nem sequer sabia como foi capaz de passar tantos anos longe dele.
- Mais uma coisa.
- O que?
- Sorriso.
- Sério?
- Não vou cantar até ver um lindo sorriso nesse rostinho.
O moreno inspirou, se aproximando mais do outro
- Você tem um cheiro bom.
- Eu tomei banho. Deveria fazer isso às vezes.
- Só se me ajudar.
- Tudo por você, meu amor.
Depositou um beijo em sua testa, contente em ver o outro sorrindo.
- Eu te amo, Trick.
- Eu te amo mais, muito mais.
Começou a cantar "Love of my life". Era como da primeira vez. Mas era tão diferente. Eram os mesmos, seus sentimentos não. Naquela época, não sabiam o quanto se amavam ou o quão destinados um para o outro eram. Agora tinham total consciência. Peterick tinha nascido naquele momento. E assim continuava por muito tempo.»●« »●«
Pete não conseguia parar de se mexer. A ansiedade o consumia lentamente. O tempo parecia se arrastar. Havia testado dezenas de combinações roupas, porém, não conseguia escolher. Como deveria se vestir para encontrar seu chefe de dez anos atrás? Estava mais inquieto que o normal. Não sabia como agir.
Quando adentrou no local, foi impossível conter um sorriso. Várias coisas haviam mudado, porém, a essência continuava a mesma. Ao se aproximar do balcão, recebeu um sorriso da atendente.
- Boa tarde, senhor, o que deseja?
- Eu, uh, gostaria de falar com Billie Joe.
Sentia que estava mais nervoso do que deveria estar.
Uma expressão preocupada se formou na face dela enquanto perguntava:
- Oh, tem algo errado?
- Não, não, desculpe se te preocupei. Sou o Pete, amigo dele.
- Ah... então finalmente estou conhecendo o famoso Pete.
- Famoso...?
- Aquela foto - apontou para uma parede - me fez questionar bastante sobre quem era de verdade.
Uma foto dele... era praticamente inacreditável. Tinha sido tão importante assim?
- Pode ir até a sala dele, suponho que saiba onde fica.
- Ah, sim.
Deu mais um sorriso e foi em direção ao local. Era estranho voltar ali depois de tantos anos. Novamente aquele estranho sentimento de estar em casa. Aquele era seu lugar, tinha certeza.
Bateu na porta, esperou alguns segundos e finalmente abriu após ouvir a voz do ex-chefe.
- Pete! - o homem gritou.
Estava diferente. Mais velho, obviamente. Podia ver as mudanças do tempo em seu rosto.
Ele o abraçou com força, trazendo novamente aquela agradável sensação.
- Você está um homem! Nem parece aquele garoto que conheci. Bem, tirando o seu sorriso, que ainda é o mesmo.
- Tem algumas coisas que nunca mudam.
- Tipo você e o Patrick...?
Deu um breve sorriso enquanto se sentava.
- É, isso mudou muito.
- Fiquei surpreso quando ele atendeu seu celular.
- Voltei para Chicago, acabamos nos encontrando, viramos colegas de apartamento... e agora voltamos a namorar.
- Sempre soube que seriam o casal perfeito.
- E temos um cachorro!
- Sério?!
Mostrou uma foto, fazendo o homem dar um grande sorriso.
- Estou orgulhoso de vocês. Parecem estar tão bem. No que estão trabalhando?
- Ele está investindo em uma carreira musical e estou... investindo em tentar encontrar um emprego.
- Oh... bem, tenho novidades então. O que acha de ser o novo gerente daqui?
- Como... assim?
- Esse lugar já me trouxe muitas coisas. Tudo está melhor do que nunca. Cansei de ficar aqui mais do que o necessário. Quero passar um tempo fora e preciso de alguém para cuidar desse lugar. Quando soube que estava de volta, pensei que seria uma ótima opção. Conhece aqui melhor do que qualquer um.
- Mas... não tenho experiência nisso, não seria a melhor escolha.
Por mais que quisesse muito aceitar, não poderia correr o risco de estragar tudo.
- Deixe disso, vai fazer um treinamento por alguns meses, aprender como funciona trabalhar dessa maneira.
- Não... sou a melhor escolha.
- Você não precisa ter medo de me decepcionar, Pete. Conheço seu jeito. Sei que pode funcionar bem aqui. Confie em mim.
- Eu...
- Pode pensar por um tempo, se quiser.
- Tudo bem. Obrigado.
- Ok, agora enquanto pensa, que tal dar uma volta? Algumas coisas mudaram por aqui.
- Claro.
Caminharam até a porta, saindo no corredor que tão bem conheciam.
O rapaz pensava no que estava acontecendo, sua mente trabalhava fervorosamente com os últimos acontecimentos, tentando tomar uma decisão.
- Creio que conheça esse depósito.
Deu um sorrio triste, lembrando daquela noite inesquecível.
- O que fez aquele dia foi muito corajoso.
- Não pensei em ninguém, de verdade. Só no Patrick. Parece que estava tentando ajudar a todos, só que fiquei apenas preocupado com o garoto que amava.
Era estranho admitir aquilo depois de tantos anos. Ainda conseguia se lembrar claramente do momento em que percebeu aqueles sentimentos.
- Isso não importa. Você fez aquilo, a motivação é só uma parte. O mundo precisa de pessoas como você que fariam qualquer coisa por aqueles que amam.
Aquilo fazia sentido. Havia feito muito pelo seu namorado, precisava reconhecer. Só estava ali por sua causa.
- Pete? - o mais velho falou, fazendo-o perceber que estava perdido em pensamentos - Falando no Patrick, tem como eu encontrá-lo?
- Ah, ele deve estar me esperando lá fora.
- Por que não me disse antes?! Vamos encontrá-lo.
Ele saiu quase correndo, sendo seguido pelo mais novo.
- Patrick! - gritou ao avistar o ruivo - Você está muito diferente!
- Billie Joe!
Abraçou o rapaz, agindo completamente como um pai e analisando seu rosto.
- Você está um homão! - disse, fazendo-o revirar os olhos.
- Venha aqui, vou te apresentar para os funcionários.
Arrastou-o para o balcão e falou animadamente:
- Galera, esses são Pete e Patrick. Pete e Patrick, essa é a galera.
Todos sorriram, demonstrando ter ouvido sobre eles.
- Espera, Michael, tira uma foto nossa, quero colocar junto com a outra. O melhor casal do milênio merece destaque.
- Vai realmente nos colocar como um casal? Não tem medo do que pode acontecer?
Ele parou por alguns segundos, fitando o menino de cabelos escuros.
- Pete, esse é um lugar para todos se sentirem bem e serem quem são. Desde... aquele dia, pensei muito nisso. Pessoas como aquele homem não são bem-vindos aqui. Se alguém tiver problema com isso, é só sair. O café é meu e aqui todos tem o direito de amar. E se reclamarem coloco fotos minhas beijando caras. Tenho muitas, só para constar.
Foi incapaz de conter um sorriso.
- Você é incrível. Poucas pessoas tem essa coragem.
- Vocês que me fizeram assim. Devo agradecer. Ok, agora chega de papo, vamos aos negócios. Tira logo essa foto.
Entregou seu celular ao garoto e se juntou aos rapazes. Eles deram grandes sorrisos, mostrando o quão felizes estavam com o momento.
- Podem ficar mais um pouco? - questionou.
- Na verdade, meus pais estão nos esperando para jantar, se não tiver problema.
- Oh, claro. Como eles estão?
- Bem. Meu pai teve um... ataque cardíaco há algumas semanas, mas já está bem.
- Que bom que está melhor. Seus pais são incríveis, garoto. Já que precisam ir, vai pensar naquilo, Pete? Já tem o meu número, pode me ligar quando souber. Só tente ser rápido, por favor.
Abraçou-os demoradamente.
- Muito obrigado, meninos.
- Obrigado você, Billie.
Eles se despediram do resto dos funcionários e saíram.
Pete sentia como se estivesse nas nuvens. As coisas pareciam estar se encaixando tão perfeitamente.
Aquilo trazia lembranças tão boas. A maioria das boas que tinha de sua adolescência, quando podia sair com o namorado perfeito e não tinha seu pai sendo um babaca alcoólatra. Não sentia mais tanta falta daquela época. Tinha tudo que sempre desejou. Não poderia estar mais feliz.
- Amor? - Patrick chamou, arrancando-o de seus pensamentos - Sobre o que o Billie estava falando quando disse para ligar de volta?
- Ele me ofereceu o cargo de gerente.
- Sério?!
- Não sei se vou aceitar.
- Isso é uma oportunidade única. Precisa aceitar.
- Eu... não quero decepcionar o homem que foi como um pai para mim.
- Justamente por isso não vai decepciona-lo. Essa é uma oportunidade que não pode desperdiçar. É tudo que sonhou.
- Tenho medo do que vai acontecer porque esse lugar me faz tão bem, é o único que sentia que era meu lar, perto do homem que era mais pai para mim do que meu verdadeiro pai jamais foi.
- Não tem porquê em se preocupar. Você não vai estragar as coisas. Pete, é sua chance. Estou orgulhoso que tenha sido escolhido para isso.
Talvez o namorado estivesse certo. Não poderia desperdiçar aquilo. Passou os últimos meses sonhando com uma oportunidade como aquela. Novamente estava sendo um covarde. Não, não deixaria as coisas acontecerem daquela maneira. Precisava acreditar em si mesmo. Precisava acreditar que uma parte dele ainda conseguiria ser aquele jogador vitorioso, que acreditava conseguir o que quisesse. Necessitava acreditar um pouco em si mesmo. E aquele emprego era tudo que havia sonhado.
- Eu... vou aceitar.
- Isso é ótimo - deu um abraço nele - estou orgulhoso de você.
- Agora vamos a esse jantar logo? Sinto falta do que sua mãe cozinha.
- Eu também. Ela é incrível.
- É bom estar de volta - respirou fundo e deu um sorriso.
- E é melhor ainda ter você de volta.
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Astronaut ●Peterick●
Fiksi Penggemar»♡« Continuação de Everybody Wants Somebody »♡« Nem tudo termina em finais felizes. Na realidade não existem príncipes encantandos e felizes para sempre. Pete e Patrick tiveram que aprender isso da forma mais difícil. Dez anos após um trágico acont...