Camila
Já faz oito meses que fugi da fortaleza no México onde fui mantida contra minha vontade por nove anos. Estou livre. Levo uma vida "normal", fazendo coisas normais com gente normal. Não fui mais atacada, ameaçada nem seguida por ninguém que ainda queira me matar. Tenho uma "melhor amiga", Dahlia. Tenho a coisa mais parecida com uma mãe que já conheci, Dina Gregory. O que mais eu poderia querer? Parece egoísmo desejar qualquer outra coisa. Mas, apesar de tudo o que tenho, algo não mudou: continuo vivendo uma mentira.
Deixei amigos na Califórnia: Charlie, Lea, Alex e... Bri... Não, espera, quero dizer Brandi. Meu ex-namorado, Matt, era abusivo, por isso voltei para o Arizona. Ele me perseguiu por muito tempo depois que terminamos. Consegui uma ordem judicial para mantê-lo afastado, mas não funcionou. Ele atirou em mim há oito meses, mas não posso provar porque não cheguei a vê-lo. E tenho muito medo de denunciá-lo à polícia.
Claro que tudo isso é mentira.
São os pedaços da minha vida que acobertam o que realmente aconteceu comigo. Os pretextos para eu ter desaparecido aos 14 anos e ter ido parar em um hospital da Califórnia com um ferimento a bala. Jamais vou poder contar a Dina, Dahlia ou ao meu namorado, Eric, o que aconteceu de verdade: que fui levada para o México pela péssima versão de mãe que eu tinha, para morar com um chefão do tráfico. Jamais vou poder contar que fugi daquele lugar depois de nove anos e matei o homem que me manteve prisioneira por toda a minha adolescência. Quer dizer, claro que eu poderia contar a alguém, mas, se fizesse isso, só estaria pondo Shawn em perigo.
Shawn.
Não, nunca vou poder contar que um assassino me ajudou a fugir, ou que testemunhei Shawn matando várias pessoas, inclusive a esposa de um empresário famoso e importante de Los Angeles. Nunca vou poder contar que, depois de tudo pelo que passei, depois de tudo o que vi, o que mais quero é fazer as malas e voltar para aquela vida perigosa. A vida com Shawn.
Até hoje, falar o nome dele me acalma. Às vezes, quando estou acordada na cama à noite, murmuro seu nome só para ouvi-lo, porque preciso. Preciso dele. Não consigo tirá-lo da cabeça. Já tentei. Porra, e como tentei. Mas, não importa o que eu faça, continuo vivendo cada dia da minha vida pensando nele. Se está me vigiando. Se pensa em mim tanto quanto penso nele. Se ainda está vivo.
Pressiono o travesseiro contra a cabeça e fecho os olhos, imaginando Shawn. Às vezes, é só assim que consigo gozar.
Eric aperta minhas coxas com as mãos e me imobiliza na cama, com o rosto enfiado no meio das minhas pernas. Arqueio o quadril contra ele, roçando de leve contra sua língua frenética, até que ele faça meu corpo todo enrijecer e minhas coxas tremerem ao redor da sua cabeça.
— Meu Deus... — Estremeço enquanto gozo, então deixo os braços caírem entre as pernas, afundando os dedos no cabelo preto de Eric. — Caramba...
Sinto os lábios de Eric tocando minha barriga um pouco acima da pélvis.
Olho para o teto como sempre faço depois de um orgasmo, pois a culpa que sinto me deixa com vergonha de olhar para Eric. Ele é um cara superlegal. Meu namorado sexy de 27 anos, cabelo preto e olhos azuis, gentil, encantador, engraçado e perfeito. Perfeito para mim se eu nunca tivesse conhecido Shawn Mendes.
Estou arruinada pelo resto da vida.
Enxugo as gotas de suor da testa e Eric sobe pela cama, deitando-se ao meu lado.
— Você sempre faz isso — diz ele, brincando, enquanto cutuca minhas costelas com os nós dos dedos.
Como sinto muitas cócegas, eu me encolho e me viro para encará-lo. Sorrio com ternura e passo um dedo por seu cabelo.