Camila
Assim que entro no bar, sou engolida pela escuridão. O espaço é iluminado apenas por velas espalhadas ao acaso por todo o ambiente: nas mesas, ao longo das paredes e acima da lareira de pedra no meio do estabelecimento. O bar está tão cheio que a maioria das pessoas se esbarra ao ir e vir, e não há um só lugar vazio até onde minha vista alcança. Passo por uma mesa cheia de pessoas conversando animadamente e abro caminho devagar em meio à multidão. Estou bem-vestida demais para este lugar, apesar da pouquíssima roupa. Devo ser uma das únicas garotas mais arrumadas e tentando andar de salto alto, no escuro, por um lugar onde claramente jamais estive. Pareço uma turista que está na cidade para um fim de semana de diversão. Exatamente o que eu queria aparentar. André Costa adora festas. E adora garotas. Mas, ao que tudo indica, ele investe nas que são novas na cidade, e que parecem idiotas.
Vou direto para o balcão e peço uma cerveja Dos Equis, mostrando para o barman jovem e bonito meu documento falso e sorrindo com olhos brilhantes.
O barman olha para mim e para a minha identidade.
— Acho que você já tem idade. — Ele sorri para mim e me devolve a carteira. Eu a guardo na minha bolsinha preta.
— Há quanto tempo está em Nova Orleans? — pergunta ele, tirando a tampa da minha cerveja e deixando a garrafa na minha frente. Ele é sexy, tem cabelo preto curto, arrepiado na frente, e olhos azul-escuros que me fitam de sua carinha redonda de bebê.
Fico vermelha e baixo a cabeça, tomando um gole rápido.
— É tão óbvio assim? — pergunto, fechando os olhos por um momento.
O sorriso dele se alarga, e noto que seu olhar desce do meu rosto para os meus seios. Mas ele não olha demais.
É bastante óbvio para nós dois que sou apenas uma turista, por isso ele nem se dá ao trabalho de responder à minha pergunta.
Estendo uma nota de dez para pagar a bebida, mas ele dispensa o gesto.
— Esta é por minha conta. Aproveite a viagem.
— Obrigada.
Pego a garrafa do balcão no momento em que duas garotas, provavelmente já na quinta cerveja, abrem caminho pelo salão aos empurrões e quase me derrubam. Mal consigo segurar a cerveja, que derrama enquanto tento equilibrá-la.
— Cuidado, porra — digo, mas nenhuma das duas bêbadas me ouve na barulheira do local.
Quando dou as costas para elas e o balcão, começo a examinar o bar, bebericando a cerveja e movendo o quadril bem devagar enquanto ando, como se só estivesse curtindo a música e não procurando alguém. Passo pela lareira de pedra e vou para os fundos, onde o espaço se divide. Há outro balcão à minha direita, com mais algumas mesas e nenhuma porta. O lado esquerdo parece levar a uma espécie de pátio. Vou para a esquerda, mas vejo André Costa sentado a uma mesa em um canto escuro da área sem saída, acompanhado por garotas e mais dois homens, todos bebendo e conversando.
As duas garotas que estão com eles são deslumbrantes, muito mais bonitas do que eu. De início, fico preocupada quanto à minha capacidade de chamar a atenção dele, mas então lembro o que Izel, a irmã maligna de Javier Ruiz, me ensinou muito tempo atrás:
— Você não tem jeito. Uma puta americana sem salvação — disse Izel naquele dia, forçando um pente pelo meu cabelo embaraçado só para me ouvir gemer de dor. —Não sei por que Javier mantém você aqui. Você parece uma virgenzinha idiota, só que é uma piranha.
Ela puxou o pente com mais força, curvando tanto meu pescoço para trás que gritei de dor. Mas eu não disse nada. Tinha medo dela, naquela época, medo do que faria comigo se eu respondesse. Já bastavam as maldades que ela fazia só por me detestar, quando estávamos a sós e eu não tinha a proteção de Javier.