Camila
Minhas mãos estão apertadas nos cantos do banco de couro vermelho onde estou sentada. Não tiro os olhos do espelho retrovisor nem paro de pensar na possibilidade de ser quem estou pensando e de que vai acontecer o que imagino. Não consigo ver o passageiro nem o motorista através dos vidros escuros da SUV.
— Tem certeza? — pergunto.
Fredrik liga a seta e nós viramos à esquerda na esquina seguinte. Ele mantém o carro abaixo do limite de velocidade e parece evitar que os ocupantes do veículo de trás saibam que ele está ciente da presença deles. Só espero que ele esteja errado.
— Eles estão nos seguindo desde que saímos da academia — explica Fredrik, e meu coração afunda. — Estavam nos espionando, estacionados no terreno do outro lado da rua.
— Então foi por isso que você decidiu tomar café.
Fredrik assente e vira à direita no semáforo seguinte.
Estou me torturando por dentro. Eu me sinto insignificante e inexperiente por não ter sido esperta o bastante para notar essas coisas. Não observei direito ao meu redor para saber que estávamos sendo vigiados o tempo todo. Mas este não é o lugar nem o momento de ficar frustrada comigo mesma. Só espero que haja tempo para isso mais tarde.
— O que a gente vai fazer? — pergunto, nervosa.
Fredrik afunda o pé no acelerador, e de repente estamos a 80 quilômetros por hora em uma via de 55, seguindo direto para a rampa de acesso à rodovia. A SUV está bem próxima e continua no nosso encalço. Agarro o cinto de segurança, aperto-o com mais força e volto a me segurar no banco.
— Vamos despistar esses caras — responde Fredrik, aumentando a velocidade de 80 para 110 quilômetros por hora em poucos segundos ao pegarmos a estrada.
Estou me segurando, desesperada, com o coração na garganta, enquanto nosso carro costura loucamente, entra e sai do tráfego, corta outros veículos e até os ultrapassa pelo acostamento. Mas a SUV continua na nossa cola, abrindo espaço pelo mesmo caminho que fazemos. Buzinas ecoam barulhentas, furiosas conosco ao passarmos a toda a velocidade.
— SE SEGURA! — grita Fredrik.
No mesmo segundo, Fredrik faz uma curva brusca, passando da faixa do meio para a da direita, a poucos centímetros do para-choque da frente de um carrinho branco, e sou jogada contra a janela lateral. Ouço os pneus cantando, os nossos e os do carro branco, e então sou arremessada para o outro lado do assento quando ele endireita o veículo com um golpe do volante.
Desajeitada, me viro no banco da frente, com o cinto de segurança ainda preso ao corpo e tentando me segurar no lugar, vendo a SUV surgir de trás de um carro azul. O carro patina para a esquerda, tentando sair do caminho, e bate no carro branco que acabamos de ultrapassar. Os dois automóveis giram com violência no meio da rodovia, e o branco para com uma freada brusca na faixa da esquerda, quase batendo na barreira de concreto que separa uma pista da rodovia da outra. Os pneus soltam fumaça. O carro azul capota de lado. Solto um gemido e levo as mãos à boca.
A rodovia fica toda parada, do ponto do acidente para trás, todos menos nós e a SUV, que nos segue de perto. À frente, as pessoas, vendo o que está acontecendo, já abrem caminho para passarmos. Seguimos como foguetes a 140 quilômetros por hora, obrigando uma fila de carros a parar no acostamento.
Quanto mais nos afastamos do acidente, mais numerosos são os carros à nossa frente, e voltamos à mesma situação anterior, costurando em meio aos veículos, com buzinas tocando e meu corpo batendo na porta e na janela a cada virada mais brusca.