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Camila

— Se encostar em mim — digo para o guarda-costas de terno à porta da sala particular de Hamburg —, enfio suas bolas em um moedor de carne.

As narinas do segurança se dilatam e ele olha para Stephens.

— Você solicitou uma reunião com o sr. Hamburg — diz Stephens atrás de mim. — É claro que vamos revistá-la antes para verificar se está armada.

Droga!

Calma. Fique calma. Faça o que Karla faria.

Respiro fundo, encarando-os com desprezo e um ar ameaçador. Então jogo minha bolsinha preta no segurança. Ele pega a bolsa quando ela bate em seu peito.

— Acho que está bem claro que eu não conseguiria esconder uma arma em um vestido como este, a menos que a enfiasse na boceta — digo, olhando para Stephens. —Minha arma está na bolsa. Mas nem pense em tocar...

— Deixem a moça entrar — ordena da porta uma voz familiar.

É Hamburg, ainda balofo e grotesco como antes, usando um terno imenso que parece em vias de estourar se ele respirar fundo demais.

Abro um leve sorriso para o segurança, que me encara com olhos assassinos. Conheço esse olhar, até demais. O homem tira a pistola e me devolve a bolsa.

— Sr. Hamburg — diz Stephens —, eu deveria ficar na sala com o senhor. 

Hamburg balança a papada, rejeitando a sugestão.

— Não, vá cuidar do restaurante. Se essas pessoas tivessem vindo me matar, não seriam tão óbvias. Eu vou ficar bem.

— Pelo menos deixe Marion à porta — sugere Stephens, olhando para o guarda- costas.

— Sim — concorda Hamburg. — Você fica aqui. Não deixe ninguém interromper nossa... — diz ele, me olhando com frieza — reunião, a menos que eu peça. Se em algum momento você não ouvir minha voz por mais de um minuto, entre na sala. Como precaução, é claro.

Ele abre um sorrisinho para mim.

— É claro. — Imito Hamburg e sorrio também.

Ele dá um passo para o lado e me convida a entrar.

— Pensei que isso tivesse acabado, srta. Seyfried.

Hamburg fecha a porta.

— Sente-se — pede ele.

A sala é bem grande, com paredes lisas e arredondadas, sem cantos, de um lado a outro. Uma série de grandes quadros retratando o que parece ser cenas bíblicas rodeia uma grande lareira de pedra. Cada imagem é emoldurada em uma caixa de vidro, com luzes na parte de baixo. A sala é pouco iluminada, como o restaurante, e o cheiro é de incenso ou talvez de óleo aromático de almíscar e lavanda. Na parede à minha esquerda, há uma porta aberta que leva a outra sala, onde a luz cinza-azulada de várias telas de TV brilha nas paredes. Chego mais perto para me sentar na poltrona de couro com encosto alto diante da escrivaninha e espio dentro da saleta. É como eu imaginava. As telas mostram várias mesas do restaurante.

Hamburg fecha essa porta também.

— Não, está longe de acabar — respondo, enfim.

Cruzo as pernas e mantenho a postura ereta, o queixo levantado com ar confiante e os olhos em Hamburg, enquanto ele atravessa a sala na minha direção. Puxo a barra do vestido para cobrir completamente o punhal preso na coxa. Minha bolsa está no meu colo.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora