Shawn
Fredrik fecha a porta de correr feita de vidro.
— Ela não sabe nada sobre Niklas? — pergunta ele, como eu já previa.
— Não, mas vou ter que contar. Ela vai precisar ficar atenta o tempo todo. Agora mais do que nunca.
— Ela não pode ficar aqui por muito tempo — aconselha Fredrik, olhando, através do vidro, Camila sentada no sofá lá fora e nos observando. — Você também não.
— Eu sei. Quando Niklas descobrir que ela participou do assassinato no restaurante de Hamburg, vai saber na mesma hora que também estou envolvido nisso. Ele não é bobo. Se Camila está viva, Niklas vai saber que estou tentando ajudá-la.
— E como ele desconfia de que agora trabalho com você — acrescenta Fredrik—, ela corre tanto perigo perto de mim quanto de você.
— É verdade.
Fredrik balança a cabeça para mim, com um sorriso escondido no fundo dos olhos.
— Não entendo esse envolvimento. Respeito você como sempre, respeitei, Shawn, mas nunca vou entender a necessidade de um homem amar uma mulher.
— Eu não estou apaixonado por ela. Ela só é importante para mim.
— Talvez não — retruca ele, indo para a cozinha. — Mas parece que o amor e o envolvimento trazem as mesmas consequências, meu amigo. — Sigo Fredrik até a cozinha iluminada e ele abre um armário. — Mas estou do seu lado. O que você precisar que eu faça para ajudar, é só pedir. — Ele aponta para mim perto do armário, agora com um pão na mão.
A empregada de Fredrik entra na cozinha, roliça e mais velha do que nós dois juntos, exatamente o tipo de mulher que jamais o atrairia, e foi por isso que ele a contratou. Ela lhe pergunta em espanhol se pode voltar para casa e ver a família mais cedo hoje. Fredrik responde em espanhol, concordando. Ela assente respeitosamente e passa por mim na sala. De soslaio, eu a observo pegar uma bolsa volumosa de couro marrom do chão, perto da espreguiçadeira, e colocá-la no ombro. Depois ela vai até a porta, fechando-a devagar ao sair.
Camila está de pé nas sombras da sala quando desvio o olhar da porta. Nem ouvi a porta de vidro correr quando ela entrou, e pelo jeito Fredrik também não. Ela vai para a cozinha iluminada, de braços cruzados, os dedos delicados segurando seus bíceps femininos, mas bem-definidos. Ela é linda demais, mesmo quando está desgrenhada assim.
— Quanto tempo vocês planejavam me deixar lá fora? — pergunta ela, com um traço de irritação na voz.
— Ninguém disse que você precisava ficar lá, gata — responde Fredrik.
Ele gosta dela, isso é óbvio para mim, e ele deve saber. Mas também sabe que vou matá-lo. Ainda assim, minha confiança em Fredrik é maior do que minha preocupação de que ele volte para o lado sombrio e a machuque. Fredrik Gustavsson é uma fera do tipo mais carnal, que adora mulheres e sangue, mas tem limites e critérios, além de levar a lealdade, o respeito e a amizade muito a sério. Sua lealdade a mim é, afinal, o motivo para ele trair a Ordem todos os dias me ajudando.
Camila se aproxima de mim e me olha nos olhos, inclinando um pouco a cabeça para o lado. O cheiro de sua pele e o calor tênue que emana dela quase me fazem perder o controle. Tenho conseguido me conter bastante desde que a beijei no elevador.
Pretendo continuar assim.
Ela não diz nada, mas continua me encarando como se esperasse alguma coisa. Fico confuso. Ela inclina a cabeça para o outro lado e seu olhar se suaviza, embora eu não saiba ao certo por quê. Parece maliciosa e cheia de expectativa.