18

557 74 20
                                    

Camila

— Filho da puta! Eu não sei de nada! AHHH!

Abro a porta do escritório e ouço os gritos de André encherem o ambiente. Seus punhos estão presos aos braços da cadeira por duas correias de couro tão apertadas que as mãos mudam de cor quando ele tenta se soltar. Sangue escuro brilha em seus lábios, escorrendo pelo queixo e pelo pescoço.

Fredrik segura um alicate ensanguentado na mão enluvada de látex branco.

— Sua puta do caralho — ruge André para mim quando apareço sob a luz fraca. Seus olhos enfurecidos correm por nós três. Shawn está atrás de mim, agora. — Meu irmão vai achar vocês antes que saiam desta cidade. E vai matar vocês, caralho!

Fredrik solta algo do alicate em uma bandeja prateada na mesa ao lado. O objeto tilinta na superfície. Sempre muito calmo, muito sofisticado, e a imagem dele inclinado sobre um homem ensanguentado que é exatamente seu oposto me parece assustadora. É estranho que essas diferenças gritantes possam conviver no mesmo cômodo sem que se anulem.

— Quem é o seu irmão? — pergunta Fredrik, tranquilo.

— Vai se foder! — Junto com as palavras, André cospe sangue.

Calmo, Fredrik segura o queixo de André, encaixando os dedos com firmeza nas bochechas enquanto o látex branco fica vermelho. André luta para se desvencilhar, se agitando de um lado para outro, mas mal consegue mexer a cabeça, com a correia de couro tão apertada ao redor da testa.

— Não vou contar porra nenhuma! — grita André, engasgando com o sangue que escorre pela garganta. — Vai fundo! Arranque todos! Nada que um implante não dê jeito! — provoca ele. O modo como seu corpo se retorce e como ele afunda os dedos nas palmas das mãos, contudo, contam uma história muito diferente.

Fredrik saca o alicate e o prende em um dos dentes incisivos de André, que engasga e cospe um pouco mais. Percebo que está tentando falar, mas suas palavras são indecifráveis. Ele grita em meio a gemidos e grunhidos, abrindo e fechando os olhos pela dor e pela exaustão mental.

— Onde está Edgar Velazco? — pergunta Fredrik, ainda com o alicate segurando o dente de André.

André gargareja algo inaudível, mas que parece muito com "Vai se foder!". Os ossos da mão de Fredrik se tensionam quando ele começa a puxar. André grita de dor, agitando os punhos nas amarras, seu corpo todo enrijecendo e se contorcendo na cadeira. O dente sai depois de alguns movimentos do alicate para a frente e para trás que me provocam um embrulho no estômago, e os estalos do osso me fazem querer tapar os ouvidos até que acabe.

Estou enojada pela ação, mas indiferente ao propósito.

Um segundo depois, ouço mais um clink quando o segundo dente é jogado na bandeja de metal.

André ainda consegue repetir "Vai se foder" algumas vezes, mas as palavras saem entre lágrimas de raiva e ameaças de vingança.

— O nome do irmão dele é David — anuncio, dando um passo à frente. — E eu vi a cara dele.

Fredrik me olha, ainda com o alicate ensanguentado na mão.

— Como você sabe? — questiona Shawn ao meu lado.

André está em silêncio, uma prova involuntária da veracidade das minhas palavras. Era só um palpite, depois de observar o olhar de David quando André chamou o pai de babaca lá no bar. Eu mesma não tinha tanta certeza até agora.

— Ele estava com André no bar.

Shawn passa por mim e atravessa o galpão até o carro. O som da porta se fechando ecoa pelo ambiente, e então ele volta carregando sua maleta.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora