Shawn
A empregada de Fredrik volta para a casa bem cedo na manhã seguinte. Acordo assim que amanhece, e ela entra em casa quando estou tomando meu café no pátio dos fundos. Ela me vê através da porta de vidro ao passar pela sala, e então vem falar comigo no pátio.
— Gostaria de café da manhã, señor? — pergunta ela em espanhol.
Deixo a pasta com meu próximo serviço virada para baixo na mesinha de ferro batido.
— Obrigado, mas não vou comer — respondo, e depois aceno para Camila, que está andando pela sala, procurando por mim. — Mas ela vai.
— Eu vou o quê? — pergunta Camila ao passar pela porta de vidro aberta. Ela anda descalça pelo pátio de pedra, usando outra camiseta de Fredrik. Fico muito incomodado por ela ter que usar roupas dele em vez das minhas, mas a única roupa que tenho é a que estou usando, além de um short largo de corrida. O cabelo longo e castanho de Camila está despenteado, pois ela acaba de acordar e sair da cama.
Ela se senta no meu colo e eu encaixo a mão direita entre suas coxas.
— Café da manhã.
Camila boceja e estica os braços para o alto antes de apoiar a cabeça no meu ombro. Ponho a mão esquerda em sua cintura para mantê-la equilibrada no meu colo. O cheiro da pele e do cabelo recém-lavados de Camila acelera meu corpo todo.
Ela faz uma careta sutil, meio que rejeitando a ideia.
— É melhor você comer.
Levantando a cabeça do meu ombro, Camila olha para mim por um momento, pensativa, e depois dirige sua atenção para a empregada.
— Claro, eu gostaria de tomar café da manhã, se não for incômodo — diz, em espanhol.
Por um momento, a empregada parece surpresa por ouvir Camila falando seu idioma nativo, mas ela logo se recompõe, assente e volta para dentro da casa.
— Acho que a gente já adiou essa questão o suficiente — diz Camila. — Para onde é que vamos, Shawn? O que eu vou fazer?
Estou pensando exatamente nisso desde que descobri que ela veio para Los Angeles e fez o que fez. Olho para a piscina, perdido em pensamentos, minha última tentativa desesperada de organizar as respostas na cabeça. Mas elas continuam tão fragmentadas e bagunçadas quanto sempre estiveram. Todas, menos uma.
— Camila — digo, olhando novamente para ela —, você não pode voltar para casa. Eu sabia disso na primeira vez em que mandei você para o Arizona. A situação não estava nem de longe tão terrível quanto ficou depois, mas, agora que as coisas mudaram, você não pode mais voltar.
— Então vou ficar com você — rebate ela. Pela primeira vez na vida, não tenho coragem de protestar. Nem contra ela nem contra mim mesmo. A maior parte de mim, a parte humana e imperfeita, quer que Camila fique comigo, e nada vai me impedir de fazer isso dar certo.
Mas sei que não vai ser fácil.
— Sim — digo, passando a mão em sua coxa macia —, você vai ficar comigo, mas há muitas coisas que precisa entender.
Ela se levanta do meu colo e fica de pé na minha frente, com um braço na frente do corpo e o outro cotovelo apoiado nele. Distraída, ela passa as pontas dos dedos no rosto macio, fitando o que parece ser o nada. Então ela me olha e balança a cabeça com uma expressão perplexa.
— Eu esperava que você fosse resistir mais. Qual é a pegadinha? A despeito do que aconteceu entre a gente ontem à noite, ou do que está acontecendo desde que nos separamos, nunca pensei que você fosse concordar em me levar junto.