27

558 72 64
                                    

Camila

Terceiro dia

Estou recusando comida e água há quase 63 horas. Só sei disso porque Niklas fica me lembrando. Estou fraca, meu corpo e minha mente estão exaustos. Stephens não me bate desde que Niklas o impediu da outra vez. É só por causa de Niklas que ainda estou viva. Afinal, ainda não revelei nenhuma informação. Apenas que ele é um babaca traidor que não merece o ar que respira. Já disse a ele muitas e muitas vezes que vou morrer antes de entregar Shawn. Acho que ele sabe que é verdade, que eu não posso ser dobrada.

A não ser... Talvez por meus pensamentos.

Meus pensamentos são tudo o que tenho nesta prisão escura e úmida cujas paredes bloqueiam toda luz, à noite ou de dia, sem nenhuma janela e só uma porta de metal que não deixa passar nem uma nesga de luz por baixo. Aquela voz em minha cabeça, aquela à qual nunca damos ouvidos até que não sobre mais nada para silenciá-la, tem sido muito cruel comigo. Niklas tem razão e você sabe, a voz me diz. Já se passaram três dias, e se o que Niklas falou sobre Shawn saber onde você está for verdade, por que ele não apareceu? Por que, Camila, Shawn não se entregou por você e não contou a Niklas o que ele quer saber para salvar a sua vida?

Grito a plenos pulmões no espaço vazio e confinado, levando as mãos à cabeça. Lágrimas de raiva escorrem dos cantos dos olhos. Meu cabelo está encharcado de suor. Meu short e meu top preto parecem colados à pele. Meus joelhos nus estão arranhados, minhas pernas, cobertas de sujeira. Minhas costas ardem sempre que me posiciono do jeito errado e as crostas que estão se formando sobre os ferimentos racham e começam a sangrar de novo. Fico deitada no chão, de lado ou de barriga para baixo.

Ouço o eco da porta de metal raspando no chão ao se abrir atrás de mim, mas nem me dou ao trabalho de me virar para ver quem é.

— Se você não vai beber — ouço Niklas dizer, de pé ao meu lado —, então vou forçar a água na sua garganta.

Sou levantada do chão imundo de concreto para os braços dele e carregada para fora da sala. Não resisto. Não olho para ele enquanto sou carregada pelo corredor, mas a luz fluorescente do teto acima de mim é tão brilhante que faço uma careta e fecho os olhos. Em silêncio, aproveito o conforto do ar renovado que roça a minha pele. Sinto minhas pernas sobre os braços de Niklas, seu braço esquerdo segurando a minha nuca. Viramos à esquerda, depois à direita e descemos uma escada de metal.

Momentos depois, minha cabeça está sendo imersa em água e mantida ali. Meu instinto me trai e abro a boca para gritar, tragando ainda mais água para meus pulmões. Meu corpo se retorce com violência, meus braços se agitam sem controle, tentando se segurar na borda grossa de plástico do recipiente onde estou sendo enfiada. Mas estou fraca demais para tirar a cabeça da água, e Niklas me segura ali com facilidade. A água queima na minha garganta e nos meus pulmões mesmo depois que consigo fechar a boca e prender a respiração. E no instante em que penso que vou me afogar, que enfim vou morrer e ficar em paz, Niklas ergue minha cabeça e a segura. Meus instintos me traem mais uma vez e me fazem arfar em desespero por ar e tossir a água dos pulmões. Eu realmente preferiria morrer de uma vez e acabar logo com aquilo, mas meu corpo tem vontade própria, outra coisa que me vejo incapaz de controlar. Meu coração bate com tanta força que sinto meu peito roçando na borda de plástico do que reconheço ser um contêiner de 200 litros. 

Pingos caem do meu cabelo, da ponta do nariz, do queixo e dos cílios para a superfície da água, a poucos centímetros  do meu rosto. Plop. Plop. Plop-plop. É surreal como isso é a única coisa que ouço.

— Quem está trabalhando com o meu irmão? — A voz de Niklas é controlada.

Não digo nada.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora