Shawn
Dois dias depois...
Da tela do laptop, a imagem congelada do rosto suado e ensanguentado de Camila me encara. Assisti milhões de vezes ao vídeo em que Stephens aparece batendo nela e meu irmão tenta em vão fazê-la falar. É uma agonia ver Camila desse jeito, observar aquele homem, que logo estará morto, machucando-a. É uma agonia também não poder fazer nada a respeito.
Ainda não.
— Ela não vai falar — diz Fredrik, atrás de mim, com uma profunda preocupação com o bem-estar de Camila em suas palavras.
Ele está à porta do escritório da minha casa em Albuquerque, agora livre dos cadáveres depois que demos um jeito neles. Eu me recuso a abandonar esta casa. Se Stephens me quiser, pode mandar seus homens para cá à vontade. Meu irmão, por outro lado, quer informações primeiro, e todos eles sabem que não conseguirão isso de mim.
— Shawn — chama Fredrik de novo, com urgência e até certa súplica. — Você precisa fazer alguma coisa. A gente não pode ficar parado aqui. Eles vão matar Camila.
— Não tem nada que a gente possa fazer — repito, pois já expliquei isso para ele. E, por mais que me machuque fazer isso, explico tudo de novo. — Não faço ideia de onde ela esteja, Fredrik. Niklas não vai revelar a localização deles enquanto não obtiver a informação que quer. Conheço o meu irmão. Ele é esperto. Não vai arriscar me enfrentar. Não desse jeito. Vonnegut quer mais do que a minha cabeça, ele quer informações. Niklas vai tirar o que precisa de Camila, e depois me mandar outra mensagem me dizendo onde encontrá-la. Irei atrás dela, e ele sabe disso. E aí ele vai me pegar. Vai ter a mim e todas as informações sobre você, sobre a nossa operação e sobre os nossos contatos.
— E daí?!
Eu me levanto da cadeira da escrivaninha, fazendo-a deslizar pelo chão e bater na parede mais próxima.
— VOCÊ ACHA QUE EU ESTOU GOSTANDO DISSO PORRA? — Aponto para ele e depois para o chão.
Me acalmo, controlo a respiração e olho para meu reflexo impreciso nos meus sapatos pretos de verniz.
— Shawn, eu não entendo. Por que você não dá a eles o que querem?
Não entendo por que Fredrik, o mestre dos interrogadores, queira tanto que Camila fale, que sua preocupação com ela esteja me revelando outro lado dele.
Isso também me preocupa.
— Não é tão simples assim. — Levanto os olhos para ele. — Mesmo se eu contar a Niklas o que ele quer saber, Camila vai morrer. Aliás, ela vai morrer muito antes se eu ceder, se eu entregar você e todos os envolvidos na nossa operação. Quanto mais ela resistir, e quanto mais eu resistir, mais ela vai viver. Até eu pensar no que fazer.
Fredrik se apoia no batente da porta, cruzando os braços. Ele suspira.
— Mas já faz dois dias. Ela não vai aguentar muito mais tempo.
— Ela vai aguentar — digo, confiante.
Eu me viro e olho para o vídeo pausado na tela, as pontas dos meus dedos apoiadas na borda da escrivaninha.
— Então como a gente vai encontrá-la?
Olho para o rosto dela por um momento longo e tenso, então fecho o laptop.
— Eu vou encontrá-la.
Camila