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Camila

Estou mordendo o lábio por dois motivos: porque estou torcendo para que seja uma boa notícia e porque estou sexualmente frustrada. Shawn fala com Fredrik por menos de dois minutos, desliga e digita outro número. Quando consegue falar com Dina, ele me passa o celular.

Pego o aparelho e o encosto no ouvido.

— Dina?

— Camila, meu Deus, onde você está? O que está acontecendo? Eu estava sentada na sala vendo TV e um homem bateu na porta. Eu não ia deixar ele entrar, fiquei desconfiada na hora; estava quase pegando minha espingarda. Mas ele disse que queria falar de você. Ah, Camila, fiquei com tanto medo de que tivesse acontecido alguma coisa!— Ela finalmente respira.

— Você está bem? — pergunto, baixinho.

— Sim, sim, estou ótima. O melhor que eu poderia estar. Mas ele me falou que iríamos para a delegacia encontrar você. Até me mostrou um distintivo. Não acredito que caí nessa. O cavalheiro mentiu para mim. — Dina para de falar e abaixa a voz, como se estivesse sussurrando para ninguém ouvir. — Ele me levou para a casa de uma prostituta. O que está acontecendo? Camila...

— Vai ficar tudo bem, Dina, prometo. E não se preocupe. Seja lá quem more nessa casa, duvido que seja uma prostituta.

Os olhos de Shawn cruzam com os meus. Desvio o olhar.

— Onde você está? Quando vai voltar? Sei que você está metida em alguma encrenca, mas sempre pode me contar tudo.

Gostaria que isso fosse verdade. Mais do que tudo, neste momento. Mas a verdade maior é que não sei como responder às perguntas de Dina. Shawn deve ter percebido a fisionomia confusa no meu rosto, porque tirou o telefone da minha mão. 

— Sra. Gregory — diz ele ao telefone. — Aqui é Shawn Mendes. Preciso que a senhora me ouça com bastante atenção. — Ele espera alguns segundos e continua. — A senhora vai precisar ficar onde está pelos próximos dias. Vou levar Camila para vê-la em breve, e vamos explicar tudo, mas, até lá, precisa ficar escondida. Não, sinto muito, mas a senhora não pode voltar... Não, não é seguro lá. — Ele assente algumas vezes, e percebo, pelas leves rugas que se formam entre seus olhos, que ele não se sente à vontade falando com ela, como se alguém colocasse de repente um bebê no colo dele. — Sim... Não, me escute. — Ele perde a paciência, então vai direto ao assunto. — É uma questão de vida ou morte. Se a senhora sair ou ligar para qualquer conhecido, vai acabar morrendo.

Tenho um sobressalto e me encolho com essas palavras, não por serem verdade (isso eu já sabia), mas porque fico imaginando a reação de Dina a elas. Só posso imaginar o que ela deve estar pensando nesse momento, como deve estar apavorada. Apavorada por mim, não por si mesma, e isso faz doer ainda mais.

— Sim, ela está bem — afirma  mais uma vez para tranquilizá-la. — Só mais alguns dias. Eu vou levar Camila aí.

Falo com Dina por mais alguns minutos, contando o que posso, mas sem revelar demais, para acalmá-la. Claro que isso não está ajudando muito, considerando as circunstâncias. Nós desligamos e eu fico ali na sala, me sentindo muito diferente de como me sentia antes da ligação.

Acho que enfim caiu a ficha do tamanho da merda que fiz.

Antes, quando achava que era eu quem corria o maior perigo, e depois que disse para Eric e Dahlia saírem de Los Angeles, eu estava preocupada, mas não tanto assim. Os danos que causei afetam mais do que minha própria segurança. Sem querer, pus todas as pessoas que conheço e amo em perigo.

A realidade de tudo isso, dos meus atos e das consequências em efeito dominó, o fato de Shawn ter me deixado, de eu ter tentado levar uma vida normal e fracassado; não consigo mais. Não suporto mais nada disso. Cacete, até a dorzinha por ter encontrado Dahlia com Eric está começando a me incomodar. Não por causa de Eric, ou porque ele era meu "namorado", mas porque o que eles fizeram não me afetou como deveria ter afetado.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora