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Shawn

Fredrik está nos esperando à porta da garagem quando voltamos para o galpão. Entro no prédio, desligo o motor e Fredrik fecha o portão de aço.

Puxo o corpo inconsciente de André do banco de trás e o arrasto pelo chão de concreto, segurando as costas da camisa dele com firmeza.

Camila me segue.

— Presumo que tenha havido um problema — sugere Fredrik, provavelmente percebendo a animosidade entre mim e Camila, enquanto eu o ajudo a acomodar o rapaz na cadeira de dentista. Ele começa a amarrar André, primeiro pelo tórax.

— Não, problema nenhum — intervém Camila, com um pouco de raiva na voz, parando atrás de mim. — Só não aconteceu do jeito que foi planejado.

Eu a encaro.

— Entrar e sair. Era para ser simples assim, Camila. Você podia ter feito o cara mudar de ideia e seguir você até a escola.

Camila está ficando mais irritada. A raiva está nítida em seu rosto quando ela me olha de lado. Mas não importa. Ela precisa aprender a seguir minhas instruções.

Eu a seguro pelo pulso, pegando-a de surpresa, e a puxo com violência para perto de mim.

— Você tem ideia do que esse merda poderia ter feito com você?

Puxo Camila mais para perto, apertando seu pulso. Ela arregala os olhos de início, mas então os estreita com severidade, e minúsculas rugas de ódio sulcam o alto do seu nariz.

— Você não confia em mim para nada, Shawn — diz ela, em um tom gélido, forçando as palavras por entre os dentes cerrados. Ela tenta desvencilhar a mão, mas eu a aperto mais.

— Isso não tem nada a ver com confiança e sim com você seguir as minhas ordens, aprender a seguir instruções. Tem tudo a ver com disciplina, Camila. — Solto o pulso dela como se o jogasse no chão. Respiro fundo, tentando me recompor. Nem me lembro de quando foi a última vez que senti tanta raiva. — Eu sei que você quer fazer as coisas sozinha. Sei que é capaz, mas quanto mais você bate de frente comigo em relação a isso...

— Mais parecida com o seu irmão eu fico — interrompe ela, em um tom acusador. — Certo?

Fredrik aperta a última tira em volta dos tornozelos de André.

— Talvez fosse melhor vocês dois discutirem na outra sala — sugere ele, acenando para uma porta de madeira na parede oposta, abaixo de uma placa de metal desbotado onde se lê ESCRITÓRIO. — Eu cuido do resto.

Camila e eu só nos entreolhamos, sem ter mais nada a dizer, então ela baixa os braços e vai para o escritório. Eu a sigo e fecho a porta da sala, que tem um tamanho razoável. Uma lanterna de LED brilha em uma mesa de madeira encostada na parede. Há uma única cadeira dobrável de metal ao lado dela, afastada da mesa como se Fredrik já tivesse se sentado nela antes de chegarmos. A sala está empoeirada e cheira a mofo e algo químico que não sei identificar. Há uma única janela na parede do outro lado, coberta de poeira, contra a qual foi empurrado um arquivo alto de metal.

— Por que você fica me comparando com Niklas? — pergunta, desta vez sem aquele tom irritado. Ela parece mais magoada do que furiosa. Cruza os braços, segurando os bíceps com seus dedos delicados.

— Camila, eu... — Suspiro e me sento na cadeira ao lado da escrivaninha, com as pernas encolhidas. Jogo a cabeça um pouco para trás e volto a olhar para ela, de pé no meio da sala.

Começo a concluir o que eu ia dizer, mas ela se aproxima e fala antes que eu consiga.

— Desculpe — diz ela, quase em um suspiro. — Não estou tentando ir contra você, Shawn. Não tenho nenhum plano secreto de fazer as coisas do meu jeito só para provar que consigo. Desculpe. Eu estava improvisando, fazendo o que achava que seria o certo naquele momento. Só isso.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora