Camila
Poucos convidados circulam no corredor, e seus passos são fracos. Saltos altos. Sapatos elegantes. Vozes ricas fingindo estar intrigadas, dramatizando demais as coisas insignificantes da vida. Risadas artificiais. Música clássica — Bach, acho — vem do andar de baixo, tão nítida, elegante e sofisticada que me sinto em uma festa para a rainha da Inglaterra, e não sentada em um quarto escuro, com meu punhal favorito na mão. Eu o chamo de Pérola.
O cheiro deste quarto é o mesmo da última vez em que estive aqui: colônia demais, suor, pot-pourri velho e lencinhos umedecidos. Uma pesada mesa quadrada de mármore está do outro lado do quarto. Eu me lembro dessa mesa. Nunca vou esquecer o modo como Shawn me curvou sobre ela, ou o porco nojento que ficou olhando quando minha calcinha desceu até os tornozelos.
Está escuro lá fora, passou das nove da noite, e o luar que entra pela varanda atrás de mim inunda a maior parte do quarto. Fiz questão de deixar as portas abertas para sentir o ar noturno na pele. Está muito quente com estas roupas apertadas. Preto do pescoço para baixo. Botas, parecidas com as de Niklas, só que as minhas têm facas escondidas no couro. Uma arma está acomodada em um coldre na minha cintura, mas só está ali para o caso de eu precisar. Gosto do meu punhal.
Eu me sento em uma cadeira no centro do quarto espaçoso, fora da suave luz acinzentada que vem da varanda. Minha perna direita está cruzada sobre a esquerda. Minhas mãos repousam no colo, o cabo de pérola do meu punhal encaixado com firmeza na mão. Bato a fina lâmina de prata na minha coxa.
Já se passaram 26 minutos desde que me sentei. Mas sou paciente. Disciplinada. Tanto quanto consigo ser, acho. Prometi a Shawn que esperaria. Que ficaria sentada aqui, praticamente imóvel, até a hora certa. Eu disse que conseguiria, que aguentaria sem correr para o andar de baixo e resolver o assunto ali. E pretendo provar. Embora admita que é difícil.
Olho para Niklas, de pé em uma sombra perto das portas da varanda, com as mãos entrelaçadas. Ele sorri para mim, achando graça da minha crescente frustração.
Sorrio de volta e olho para a porta do outro lado do quarto.
Trinta e dois minutos.
Ouço as vozes dos dois seguranças sempre postados do lado de fora do quarto. Eles estão falando com Arthur Hamburg.
Segundos depois, a porta se abre e um clarão vindo do corredor inunda o quarto, mas não me alcança. E, com a mesma rapidez, a luz some quando o segurança fecha a porta depois que Hamburg entra. Ele não me nota ao passar pela grande cama e pela mesa de mármore.
— O que você achou do cabelo? — pergunto.
Hamburg fica imóvel na hora.
Eu me inclino para a frente na cadeira, entrando no alcance da luz.
— Preto retinto — digo, despreocupada. — Ainda me acha deslumbrante com qualquer peruca? — Uso a mão livre para tocar o penteado e exibi-lo.
As luzes do quarto se acendem quando Hamburg diz: Acender luzes.
— Como você entrou aqui? — pergunta ele, desesperado, seu olhar correndo pelo quarto em busca da resposta e de qualquer sinal de mais alguém.
Quando Hamburg nota Niklas e Shawn de pé perto da entrada da varanda, atrás de mim, com as armas nas mãos ao lado do corpo, ele chama os guarda-costas. Mas então uma forte pancada é ouvida do lado de fora. E depois outra. Hamburg para a centímetros da entrada, sem saber mais se é seguro abri-la.
Ele me olha de novo.
Sorrio e bato com a lâmina na minha perna mais uma vez.
A porta atrás dele se abre, e Fredrik está de pé ali, segurando dois colarinhos brancos. Ele arrasta os corpos dos seguranças pelo chão de mármore e os larga. As cabeças batem ruidosamente no mármore.