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Camila

Não falo com Shawn há horas. Três, pelo menos. Deixei que ele me despisse, me desse banho e cuidasse dos meus ferimentos. Eu o ouvi "se explicar", mas de uma maneira que só alguém tão travado para relacionamentos quanto Shawn Mendes poderia fazer. Não implorou para que eu falasse com ele, para que acabasse com o gelo. Ele só falou. Tão calmo quanto em qualquer outra conversa que já teve comigo, embora dessa vez o papo tenha sido bem unilateral. Mas detectei a preocupação em sua voz, ainda que ele a tenha disfarçado bem. Senti, quando me tocou enquanto escovava meu cabelo e limpava a sujeira das feridas nas minhas costas, que ele queria me tocar com mais carinho. Queria me puxar para perto e me abraçar. Mas eu sabia que ele não queria passar dos limites.

E foi esperto em não passar, porque levaria um soco na cara.

Ao anoitecer, embora exausta e ainda dolorida da cabeça aos pés, estou bem o suficiente para andar pela casa sozinha, mas com cuidado, porque minhas costas estão bem detonadas. Shawn me deixou sozinha no quarto da casa em Albuquerque. Eu precisava de um tempo para pensar em tudo o que aconteceu, pelo que ele e Niklas me fizeram passar. Precisava de tempo para refletir sobre os motivos. Eu estava cagando e andando para os motivos de Niklas ou para o papel que ele teve naquilo. Niklas não merece meu tempo, muito menos meus pensamentos. Shawn, por outro lado... Parte de mim quer se sentir traída, como se essa fosse a reação normal. Sinto que deveria me encolher no chão e chorar, esmurrar as paredes, chafurdar na autopiedade, também apenas porque essa tende a ser a reação esperada. Mas não sou assim. E não sou normal. E nada na minha vida ou na vida de Shawn chega perto de ser normal.

Sei que Shawn está se perguntando o que estou pensando. Ele se preocupa com o tamanho da raiva que sinto dele, se ela é tão profunda que eu nunca mais vou conseguir perdoá-lo. Sei que ele deve estar convencido de que meu silêncio é a única resposta que vou lhe dar.

Mas ele está enganado.

Ele entra no quarto para pegar algo em sua maleta, e eu o intercepto.

— Foi ideia de Niklas? — pergunto, da cama.

Torço muito para que tenha sido.

Shawn para diante da porta, de costas para mim. Em vez de abrir por completo, ele a fecha. Deixando a pasta preta que tirou da maleta na cômoda alta perto da porta, ele se aproxima de mim. Sua camisa preta está para fora da calça. As mangas compridas estão arregaçadas até os cotovelos, expondo a virilidade de seus antebraços e a força de suas mãos.

Desencosto os ombros da cabeceira e me sento na beirada da cama, pondo os pés no chão. Estou usando uma blusinha vermelha folgada e fina que não adere muito às minhas costas e um short de ginástica.

— Sim, tecnicamente, foi.

— Tecnicamente? — pergunto, franzindo o cenho.

Ele se senta ao meu lado, com os braços sobre as pernas e as mãos nos joelhos.

— Ninguém está isento dos testes. Niklas apenas teve que me lembrar disso, no seu caso. É uma questão de confiança...

— Você já não confiava em mim?

— Sim, confiava — assume ele, olhando para a frente. — Mas o que fizemos você passar era necessário, Camila. Você queria fazer parte. Eu queria que você fizesse parte. Para isso acontecer, teria que ser feito de acordo com as regras, ou sempre haveria um conflito com os outros membros. Meu juízo seria sempre questionado. Você estaria sempre sob suspeita. Ninguém está isento. Fredrik não estava. Aquele homem nosfundos do restaurante de Hamburg, que ajudou você a fugir. O homem que leva a sra. Gregory para os nossos abrigos.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora