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Camila

Levanto o rosto do peito de Shawn, fungando as malditas lágrimas que mais uma vez me traíram em um momento de fraqueza.

— Você vai me ajudar a matá-los?

Ele assente.

— Vou.

— Obrigada — digo, baixinho.

Fico na ponta dos pés e dou um beijo suave em sua boca.

Da porta de vidro atrás de nós, a empregada diz com uma voz fraca:

— O café está pronto.

Ela nos fita com seus olhos escuros e curiosos, sem dúvida por ter ouvido a discussão enquanto estava lá dentro.

— Marta faz uns ovos mexidos ótimos — comenta Fredrik, com um sorriso radiante, como se nada tivesse acontecido. — Frita em gordura de bacon. — Ele junta os dedos nos lábios e os beija. — Adoro comida americana.

Ele vai atrás de Marta.

— Se bem que parece que ovos mexidos em gordura de bacon é uma comida do Sul, não? — pergunta ele, olhando para nós enquanto o seguimos.

Shawn dá de ombros.

— Bem, Marta não é exatamente do Alabama — continua ele, ao entrarmos na cozinha. — Mas sabe cozinhar como se fosse.

Fredrik e Shawn continuam tagarelando sobre comida, provavelmente para me fazer esquecer o que aconteceu. Mas, nesse momento, nada mais me importa além do rosto de Dahlia e Eric na memória. Sei que estou sendo punida. Pela vida. Pelo destino. Não sei por quem ou pelo quê, só sei que faria qualquer coisa para devolver a vida aos meus amigos.

Nós três nos sentamos à mesa com tampo de vidro da cozinha e comemos. E acho quase engraçado Fredrik fazendo Marta provar a comida antes de nos servir, como se ele tivesse aprendido essa técnica paranoica no Manual de Shawn Mendes.

Durante o café, que dura muito tempo por causa da conversa, Fredrik acaba liberando Marta pelo resto do dia. Isso acontece logo depois que ele começa a falar em sueco com Shawn. Odeio não entender o que eles dizem, mas fica claro para mim que era por causa de Marta, e não por mim.

Marta pega a bolsa e se despede de nós, agradecendo a Fredrik por pagar um dia inteiro.

— Por que isso? — pergunto, depois que ela vai embora.

Apoio o garfo no prato ao terminar meu café.

— Temos muito o que conversar — explica Fredrik, tomando um gole de suco de laranja. — E ela não pode ouvir a conversa. — Ele aponta para mim e sorri. — E Marta, embora não pareça, ouve tudo o que acontece por aqui.

— Então por que vocês não continuaram conversando em sueco? — questiono.

— Você fala sueco? — rebate Shawn.

— Não.

— Bem, você tem que participar da conversa — diz ele, deixando o copo d'água na mesa.

Sorrio. Nesse momento, me sinto parte deles pela primeira vez. Dos dois. Nós três sentados à mesa, que minutos depois já está livre dos pratos e dos copos, substituídos por pastas e fotografias de serviços de execução. Para mim, é meio surreal discutir detalhes de interrogatórios e assassinatos tão casualmente, como se estivéssemos falando do tempo. Mas também, pela primeira vez na vida, sinto que pertenço a algum lugar. Não estou mais andando por um túnel escuro, com as mãos à frente, procurando a porta. A porta está bem ali, à mostra, e já passei por ela. Enfim encontrei meu lugar na vida. E estou com Shawn, o que para mim é mais importante do que tudo.

KILLER - 2 LIVROOnde histórias criam vida. Descubra agora