Capítulo 3

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Wiliam sentou-se, ansioso, fez pedido de refrigerante e água com gás à maître e estudou a elite de Los Angeles em volta. Drogas eram usadas sem sutilezas. Seu grande pesar era que enquanto a Narcóticos tentava tirar as drogas das ruas, os usuários as financiavam.
Centrou o olhar no copo em suas mãos e perguntou-se que tipo de assunto desenvolveria com uma garota até que chegasse ao seu objetivo: descobrir sobre Sebastian. Ocultaria quem era, obviamente. Teria que equilibrar mentira e objetivo.
Em sua visão periférica notou uma pessoa de vestido rosa, colado, de paitê, caminhar animada em sua direção, os cabelos castanhos e cheios balançando de um lado ao outro.
‒ Oie! ‒ a garota o cumprimentou calorosamente – como se fossem velhos conhecidos –, e inclinou-se para lhe dar um beijo na bochecha antes que ele se levantasse para recebê-la. ‒ O que é isso que está bebendo? ‒ censurou, intempestiva, o semblante curiosamente fechado, levou o copo ao nariz e cheirou. Ele olhou-a confuso.
Após um suspiro dramático, ela sorriu aliviada.
‒ Ufa, pensei que você estivesse bebendo álcool ‒ comentou e sentou-se à vontade ao lado dele, as pernas cruzadas e o pé balançando no ar. ‒ Sabia que viciados costumam recair quando ingerem álcool? Uma pesquisa disse que ex-fumantes sentem falta da nicotina quando bebem. O mesmo acontece com as drogas. O cérebro manda um recado... ‒ e explicou todo o processo de associação. Ele observou-a abismado enquanto pensava o que diabos fazia ali. ‒ Você não fala, não? ‒ Ela pressionou depois de minutos que tagarelava incansavelmente.
‒ Se você deixasse ‒ retrucou sem humor.
Ela sorriu divertida e estendeu a mão.
‒ Sou a famosa Fllor. Com dois L. Estou pensando em acrescentar o terceiro ‒ comentou, sorridente.
‒ Por que dois L? ‒ juntou a sobrancelha, curioso.
‒ Dois de linda e legal ‒ brincou, triunfante por ter ganhado sua atenção. ‒ O terceiro seria de leve ‒ e balançou os cabelos. Ele olhou-a como se ela fosse um bichinho de laboratório. ‒ Mas me chame de May. Os íntimos me chamam assim ‒ piscou, simpática.

Ele olhou-a sem ação. Ela aproximou-se mais e estendeu a mão, convidando-o.
‒ Vamos dançar? ‒ propôs.
Ele advertiu não poder expor-se. Suspeitava que Sebastian estivesse por lá. Seria facilmente reconhecido se visto em companhia dela.
‒ Não sei dançar ‒ mentiu, meio arredio, e olhou preocupado para os lados. Lidar diretamente com o crime habituou-o à precaução. Estar ali, no terreno do inimigo, aproximando-se de algo que lhe pertencia, obrigava-o a ter cautela.
‒ Eu imaginei que não soubesse dançar ‒ ela concedeu, compreensiva. ‒ Você deve ser tímido ‒ inferiu, torcendo os lábios. ‒ Não é de falar, nem sabe dançar. A introspecção costuma ser mais um dos motivos de viciados para se refugiar em estimulantes ‒ elucidou, naturalmente, como se ele não fosse o alvo da análise bizarra. Pegou o copo de água na mesa e bebeu. ‒ Argh, odeio água com gás! ‒ resmungou com uma careta. ‒ Por que você não toma água normal?
‒ Eu gosto assim ‒ respondeu seco.
‒ Gosta de coisas ruins ‒ afirmou, levou o copo novamente à boca e tomou um grande gole. ‒ Eu já sei por que você não tem amigos na sua agenda ‒ acusou, olhando para o copo. ‒ Você tem cara de sério, não sorri e não é descolado.
‒ Ah, é? ‒ perguntou incrédulo com a crítica. ‒ E como eu deveria agir para ser um cara descolado? ‒ questionou, enfadado. Aquilo não daria certo. Tinha que arrumar um jeito de livrar-se dela.
‒ Não sei... ‒ bateu os dedos no queixo pensativa. ‒ Tem um filme a que eu assisti, chama-se Nos tempos da brilhantina, com Jhon Travolta. Você assistiu? ‒ questionou animada. Ele assentiu com um esgar frio. ‒ O Danny era um exemplo de pessoa descolada. Era popular, sabia dançar, tinha um carro bacana.
‒ Os tempos são outros, garota ‒ rebateu com descaso. ‒ Eu nem sou tão velho assim para ter curtido os tempos da brilhantina ‒ rolou os olhos com uma visível carranca pela comparação.
‒ Você podia então mudar esse cabelo. Esse seu cabelo de Clark Kent tá fora de moda ‒ observou os cabelos lisos e jogados de lado.
‒ O quê? ‒ perguntou incrédulo com a crítica e passou a mão no cabelo, que estava sem corte, caindo no olho.

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