Capítulo 9

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Wiliam fitou-a detidamente, o olhar sombrio. Que interessante! Ficou com a garota, ainda podia atingir Sebastian de bônus! Com um riso misterioso, inclinou-se e beijou suavemente no lábio.
‒ Diga alguma mentira ‒ sugeriu, testando-a.
Ela balançou a cabeça energicamente. ‒ Não! ‒ negou. ‒ Eu não minto para ele.
Wiliam sorriu de canto com ar astucioso, excitado em antecipação.
‒ Diga que passeou de moto com um amigo pela rota 66, fizeram uma trilha, depois almoçaram na Carmelita ‒ propôs malicioso. Sabia que a citação despertaria a lembrança de Sebastian.
May suspirou.
‒ Eu direi a verdade ‒ sentenciou decidida.
Um minuto depois, ela virou a esquina rumo à escola. De longe, Wiliam acompanhou-a. Sentiu um calafrio de aversão quando a mão de Sebastian se alojou nos ombros da garota, conduzindo-a ao seu carro e odiou-o mais uma vez, montou em sua moto indignado e partiu.
Sebastian estava indócil com o sumiço da garota. Pediu que ela abaixasse o vidro do carro e apoiou as duas mãos na porta, ignorando Anahi que tentava administrar a situação tagarelando, incansavelmente.
‒ Onde você estava, Maite? ‒ questionou inóspito. Sabia a resposta, entretanto necessitava confirmação.
A adolescente espantou-se com o tratamento duro. Ele raramente a chamava pelo nome. Possivelmente estivesse mais zangado do que pensava, concluiu chateada.
‒ Saí com um amigo ‒ fugiu do seu olhar, tamborilando os dedos nervosos no volante.
‒ Que amigo? ‒ Aquele que eu te falei um dia que estava com problemas, lembra? ‒ perguntou como uma menininha acuada pelo pai.
‒ Qual o nome? ‒ questionou, impaciente.
‒ Wiliam.
‒ Só Wiliam? ‒ arqueou a sobrancelha.
‒ Não sei... Nunca perguntei o segundo nome.
‒ O que ele faz? De que trabalha? Qual a idade?
‒ Ele é formado em Química. Quase igual você ‒ deu um sorrisinho amarelo, bajulador. ‒ E não trabalha. Vive de uma herança que a mãe dele deixou... Não sei a idade dele... Mas acho que é mais novo que você... Er, só isso que sei dele ‒ completou com uma mordida no lábio, tensa.

Sebastian esfregou a testa e perguntou-se qual era a real intenção de Wiliam. Seria só investigá-lo, provocá-lo, ou os dois?
‒ Para onde foram? ‒ inquiriu, ainda muito sério.
Maite engoliu em seco com a pergunta, depois fez uma prece mental que sua face afogueada não a denunciasse. Que sua pele não revelasse as novidades que seu corpo experimentou.
‒ Passear de moto ‒ dispôs naturalmente, depois continuou, animada. ‒ Sabia que ele tem uma moto bem legal? Você iria gostar. É uma custom. É bem confort...
‒ Para onde foram? ‒ interrompeu, impaciente com as tentativas de manobra.
‒ Ai, Sebastian... ‒ fez um bico, contrariada com a inquirição.
‒ Maite... ‒ ele suspirou cansado, inclinou-se com os braços na janela e olhou-a mais calmo. ‒ Eu cuido de você. Tenho que saber com quem você anda... Além disso, eu tenho inimigos... Alguém pode usar você para me atingir.
‒ Ele é uma boa pessoa, Sebastian‒ garantiu.
‒ E por que ele não veio te deixar aqui?
Maite deu de ombros. ‒ Porque não queria me expor, eu acho ‒ explicou em dúvida. ‒ Mas se você quiser, o apresento a você ‒ propôs ingênua.
‒ Vamos embora, Maite ‒ balançou a cabeça com uma careta de desagrado, sem dar vazão à sugestão absurda. ‒ Vá na frente que eu sigo vocês. Espero que isso não aconteça de novo.
Maite sorriu aliviada em tudo terminar bem, pôs a mão para fora e apertou a bochecha de Sebastian, apaziguadora. ‒ Você é exagerado
...
Sábado pela manhã, Wiliam lembrou-se de que Peter passaria a manhã com ele e pegou-se apreensivo em cuidar de um menino de cinco anos. Questionou, quase arrependido, o porquê de ter se oferecido. Encontrou a resposta rápido. Gostava da criança. De graça.

Pensou em sair e comprar frutas e guloseimas para o garoto no comércio próximo, mas temeu que May chegasse nesse intervalo e inferisse que sua prévia saída fora um meio de fugir dela novamente. Terminou seu cereal e sentou-se no sofá, enquanto olhava no relógio a cada dois minutos esperando-a. Sete e meia ela bateu na porta. Ele tentou ocultar a ansiedade com seus passos lentos e displicentes para atendê-la. Passou em frente ao espelho da antessala e conferiu o visual. Internamente, irritou-se ao fazer isso. Desde quando se preocupava com sua aparência? Não era um adolescente em seu primeiro encontro, droga! Ajeitou os cabelos grandes por falta de corte e fez uma careta de desagrado. Um segundo toque mais impaciente lhe fez agir.
‒ Ai, que demora! ‒ May reclamou com um sorriso logo que ele abriu a porta. Por um segundo, ambos se entreolharam incertos, um esperando pela atitude do outro.
Tome uma iniciativa, May, Wiliam implorou mentalmente. Como se lesse seu pensamento, ela jogou umas bolsas no chão, enrolou os braços em volta do seu pescoço e o abraçou naturalmente, como todos os outros dias que chegava a sua casa. ‒ Bom dia! ‒ Deu um beijo molhado no seu rosto e esfregou seu cabelo.
Bem-vinda de volta, May. Wiliam sorriu receptivo, rodeou sua cintura e apertou-a a si, a mão na base das costas. Inclinou o rosto ao seu pescoço e inspirou seu perfume. Doce e floral.
‒ Bom dia ‒ ele sussurrou na base de sua orelha e mordiscou o lóbulo, contente em não precisar suprimir seu desejo, como fez todas as vezes que a recebeu. Ela estremeceu-se e afastou-o pelo ombro, retraída. Wiliam entrecerrou os olhos desentendido. Viu Peter logo atrás e registrou o motivo da reserva.
‒ Oi, Peter ‒ Wiliam cumprimentou-o sem jeito por ter se esquecido dele. O menino levantou o polegar no ar e deu-lhe um sorriso caloroso.
‒ Mostra para o tio Wiliam do que vocês vão brincar, Peter ‒ ela pediu, pegou as bolsas no chão e abriu caminho pela casa. O garoto levantou dois brinquedos cinzas em formato de metralhadora no ar, estendeu em direção a Wiliam e sorriu.

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