Capítulo 13

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Semanas se passaram desde que a viu pela última vez. A rotina intensa a qual se obrigou a habituar-se nos últimos dias ocupou o seu tempo. Foram cursos intensivos de reciclagem, intervenção, estratégias de combate, e, nos tempos livres, adiantava suas pesquisas que embasassem seu TCC em Química Forense.
Contudo, no mínimo espaço de tempo livre, era assaltado pela costumeira solidão. Antes era fácil viver só em seu mundo, na sua casa. Era fácil não ter ninguém... Agora...
"Na sua gaveta?" Eugenio repetiu logo que Wiliam passou as coordenadas por telefone sobre o que deveria fazer com o cartão de memória que tinha guardado em sua mesa.
"Sim. A senha de abertura da gaveta é 20E."
"Você tem pressa com isso?" Eugenio quis saber. "Eu estou bem ocupado esses dias. Como Lauro está te substituindo, está querendo mostrar serviço." Riu. "Tô tendo serviço o tempo todo."
"Não. Sem problema. Eu estou com tempo. Só preciso que você decodifique para que eu tenha certeza que o conteúdo é verdadeiro."
"Tudo bem, chefe." Concordou bem humorado, em contraste com o outro interlocutor, que se encontrava monótono.
"E o Sebastian, tem notícias dele. Ele apareceu?" "Não. Sumiu do mapa."
"Mantenha-se de olho."
"Ok." Após acertarem tudo, desligaram. Wiliam suspirou, deitou olhando o teto do apart hotel que estava hospedado em Airlington, Virginia, local próximo a academia das forças especiais da DEA, e passou um tempo assim, acompanhado pelo vazio.
Mais dias se passaram, e a sensação de perda se alastrou em seu peito. Nunca se sentiu assim. Nem mesmo quando sua família se desfez. Era como se fosse privado de ar, como se só pudesse respirar curtas tragadas. Tinha se passado alguns finais de semana sem vê-la, e aquilo foi mais que difícil. Passou quase todas as horas dos sábados subseqüentes imaginando o que estariam fazendo. Sentia falta dela, de Peter. E perguntou-se se o garoto teria sentido a sua. Merda, por que foi conhecê-la? Será que ela estava bem? Será que também sentia sua falta?

Certa quinta-feira, teve que deixar a Capital e viajar para um evento na DEA de Phoenix. Capitão Marcos, seu superior no estado da Califórnia, pediu que ele fosse em seu lugar representando a DEA da Califórnia. Coincidentemente, esse era um dia que até seis anos atrás seria duplamente comemorado. Mas hoje, não tinha motivos para comemorar. Caíra num poço de introspecção e não gos​tava do que via em si.
Muita infelicidade.
Recebeu um telefonema logo cedo do seu pai convidando-o para jantarem juntos, pois como sabia que o filho estaria em Phoenix, poderia tomar um vôo e em uma hora estaria em Los Ângeles. Mas Wiliam negou. Disse que logo que terminasse o evento, voltaria para Washington DC.
Passava das sete horas quando olhou no relógio, contemplou o céu, e o vazio familiar crepitou em suas vísceras. No fundo sabia que estava só. Poncho estaria com Maria em Nevada. Seu pai, se não estivesse debruçado sobre processos, estaria saindo com alguma mulher. Mas ele, em um dia que para muitos era importante, estava sozinho em sua solidão.
Já no aeroporto, o seu vôo apareceu no painel, olhou compenetrado para o aparelho e chamou-lhe atenção o próximo vôo que sairia em quinze minutos. Los Ângeles. Suspirou pensativo e ponderou por segundos o que poderia fazer em Los Ângeles. Enfiou a mão no bolso, trouxe o blackberry à frente, como se buscasse forças, no mesmo instante saiu da fila de embarque e se dirigiu ao balcão de check-in.
Esperando seu atendimento, continuou a vislumbrar a foto na proteção de tela e sentia a garganta queimar em antecipação. Tentou por dias não pensar nela, em vão. E só agora admitiu o que acontecia. Só existia um nome para catalogar esse sentimento que doía tanto e que lhe impulsionava a voltar atrás e ir atrás dela. Estava estupidamente apaixonado. Uma porra de sentimento que doía e machucava. Não tinha mais forças para ficar longe dela.

Demorou a aceitar porque desacreditava que um coração como o seu: frio e distante entregou-se tão fácil assim, depois de ter passado uma vida sem dar acesso a ninguém. Mas quem disse que ele teve alguma chance de lutar contra aquela erva daninha que May plantou e que foi se alastrando diariamente? Ela simplesmente ocupou um canto e ficou ali forçando espaço, cada dia mais espaçosa. Agora não sabia o que fazer.
Antes de desistir, tirou o bilhete do bolso, apresentou seu distintivo de federal e pediu que o bilhete fosse trocado, argumentando que surgiu uma emergência em outro estado. A atendente mais que imediato atendeu.
...
Uma hora da manhã daquela mesma noite entrou frustrado pela porta de seu apartamento em Malibu pela segunda vez naquela noite. Jogou-se no sofá sentindo-se um covarde, trouxe à memória o que presenciou instantes antes e fechou os olhos... Aos seus olhos, ela parecia brilhar dançando na Sky quando a viu. E ainda que quisesse muito se aproximar, decidiu permanecer observando-a do segundo andar. Pareciam anos que a tinha visto ali pela primeira vez, dançando próxima a prima. Sentiu-se sufocado de saudade, de vontade de abraçá-la, tirá-la de lá e tê-la só para ele; e amaldiçoou-se por isso.
Ela riu com a prima. E sua risada também reluzia. Ele sentiu que uma excitação atravessou sua espinha ao imaginar o som em seu ouvido. Maldita fosse May. Maldita fosse por ser tão doce, sorridente, por ter bom caráter, por ser atraente e ter embaralhado seu mundo. Como irresoluto que era quando se tratava dela, não conseguiu fazer o que foi fazer, entrou em seu carro e seguiu para casa...
Agora estava deitado no sofá, vazio, frustrado, carente.
Pulou quando um som tocou em seu celular, abriu a tela e deparou-se com uma mensagem inesperada de May. 'Só existem dois dias em que nada pode ser feito: o ontem e o amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para viver. '
Ficou quase sem fôlego ao terminar de ler a mensagem. Inferiu que ela dizia novamente que não importava a idade que tinha. Queria simplesmente viver. Seria isso?

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