Maite encontrou sua tia Barbara na área de serviço de sua casa, seu olhar preocupado.
‒ Onde estava que não atendeu meus telefonemas? ‒ questionou, de posse de algumas rosas recém- cortadas para enfeitar a casa. Maite procurou o telefone na bolsa. Doze ligações de casa.
‒ Estava passeando.
‒ Sebastian passou a tarde toda aqui nos jardins. Está te esperando em seu quarto ‒ avisou e caminhou para a sala com as rosas nos vasos.
Maite suspirou chateada por ter lhe dado preocupação, deu um lanche para Peter, em seguida foi para o quarto do garoto lhe levar para o banho. Pôs as sacolas de roupas e presentes em cima da cama e enrolou ao máximo na organização, pensando no que dizer a Sebastian.
‒ Olá ‒ cumprimentou-o carinhosa, deitou-se ao seu lado na cama e o abraçou. Ele assistia à televisão, distraidamente.
‒ Oi, Florzinha. Vocês demoraram ‒ comentou e beijou seu cabelo.
‒ Fui ver um amigo ‒ contou naturalmente. ‒ Mas não se preocupe. Não fui à Zona Sul.
‒ Hummm. É alguém da sua escola? ‒ testou-a.
‒ Não. Um novo trabalho. Eu estou ajudando-o ‒ olhou-o atenta. Ele pareceu preocupado. ‒ O que foi? Algum problema? Tia Barbara disse que você passou o dia nos jardins, cuidando das plantas. Geralmente você só faz isso quando está estressado. O que aconteceu?
‒ Só estou ansioso ‒ admitiu com os lábios torcidos. ‒ Amanhã tenho que ir á agência da Narcóticos registrar um protocolo pedindo autorização para testar uma nova fórmula.
‒ Por que precisa ir lá?
‒ Burocracia. A nova fórmula necessita de substâncias proibidas usadas comumente para batizar cocaína. Posso ter problemas com autorização devido ao estoque necessário.
‒ Posso ir com você? Bom que passamos um tempo juntos. ‒ sugeriu animada.
‒ Não. Vou pela manhã e você vai estar na escola.
‒ Eu não quero ir para a escola, Sebastian‒ resmungou, contrariada. ‒ Não gosto de ser a mais velha da turma ‒ repetiu a queixa. ‒ Queria fazer uma aceleração no México, quando você for.‒ Você já perdeu muitas fases de sua vida. Se fosse só pelo papel, eu conseguiria um falso e o problema estaria resolvido. Mas quero que você curta seus amigos da sua adolescência. Quando você completar dezoito, pode fazer um teste de conhecimento recuperando esses dois anos atrasados e depois poderá entrar na faculdade.
‒ Ah, não!
‒ Sim. É o mínimo a fazer depois de tantas responsabilidades impostas a você.
‒ Não fale assim ‒ ela fechou o semblante, lendo as entrelinhas de sua frase. ‒ Peter foi o maior presente que você me deu.
‒ Eu não te dei. Eu te impus ‒ salientou contrariado.
‒ Eu o amei desde o momento em que ele veio para o meu colo ‒ defendeu determinada. ‒ E eu sou o que sou por causa dele. Você devia parar de se culpar. Não roubou minha adolescência. Pelo contrário, você me salvou. Assim como salvou a tia Barbara e Anahi.
‒ Tudo bem ‒ sorriu. ‒ Obrigado, Florzinha. Só você consegue me colocar para cima. É minha Flor de Lótus. Tem suas raízes na lama, mas tem uma alma forte cheia de pureza e determinação ‒ declarou solene. Ela sorriu e o abraçou.
‒ Quando você vai ao México de novo? ‒ perguntou depois de um momento.
‒ Em algumas semanas ‒ mudou de canal. ‒ Depois que eu conseguir essa autorização, vou levar a nova fórmula para Tijuana.
‒ Hummm ‒ aconchegou o rosto no oco de seu braço. ‒ Sabe, fiquei tão feliz por você não estar lá dentro ontem na festa ‒ comentou carinhosa. ‒ Rezei para que a polícia não te levasse como fez com seus amigos.
‒ A polícia não vai me levar, Flor ‒ comentou sombriamente. Não enquanto eu não quiser. Adicionou mentalmente.
‒ Ainda vai trabalhar hoje ou vai dormir em casa? ‒ perguntou animada.
‒ Não vou mais voltar para o laboratório. Deixei o Iam e o David trabalhando e fugi ‒ sorriu triste.
‒ Dorme aqui comigo ‒ convidou manhosa. Ele só dormia em seu quarto quando estava muito melancólico, carente de atenção.
‒ Pode ser... Está dando certo o Peter dormir lá?‒ Não muito. Mas estamos tentando ‒ torceu os lábios desgostosa. Ele foi o primeiro a concordar com a psicóloga que Peter era muito mimado e que precisava de independência. ‒ Então vou tomar um banho, colocar o Peter para dormir, depois eu venho ‒ levantou-se. ‒ Não vai lá ver o Peter? ‒ apontou o quarto ao lado.
Ele negou, balançando a cabeça. ‒ Agora, não ‒ explicou triste. ‒ Vê-lo me magoa e aumenta a impotência e saudade.
Maite suspirou ‒ Ele sente sua falta. Não pode descontar nele suas frustrações ‒ lembrou chateada.
‒ Não é isso. Eu o amo. Mas hoje não tô bem ‒ explicou contrito. Não gostava que ela pensasse que evitava a criança.
‒ Tudo bem. Eu entendo. Espero que você consiga logo essa autorização para os remédios. Não gosto de te ver ansioso assim ‒ saiu do quarto.
Sebastian ficou mergulhado em dúvidas e questionamentos, enquanto refutava-se com o porquê de deixá-la se envolver nisso. O medo de machucá-la, como uma faca afiada em seu coração, o ameaçava.
...
Após ver a garota sair de seu apartamento, Wiliam encostou as costas na porta perdido em questionamentos, olhou distraído para o aparador e um objeto com conotação feminina lhe chamou a atenção. Tocou-o desconfiado, levantou-o no ar e leu a tarja. Flora, deusa das flores. Tocou as florzinhas vermelhas que cobriam as partes íntimas da estatueta e balançou a cabeça pela ousadia de May em trazer.
Em seu quarto, deparou-se com outra surpresa: fotos de May e Peter na cabeceira. Só faltava essa agora. Com uma expressão enfadonha no rosto, pegou o porta-retrato e avaliou-o, perplexo com o atrevimento da garota. Nem fotos da família ele expunha, por que ela achou que poderia ter a dela ali?A sombra de um sorriso se formou no canto de sua boca. Viu a foto de Peter em outro porta-retrato, e o sorriso cresceu. Gostou do menino. Uma criança fácil. Pôs os objetos de volta ao lugar e disse para si que depois devolveria. Deitou-se na cama e ligou a TV. Um sentimento estranho de contentamento e tranquilidade ocupava seu peito e abafava o vazio habitual. Por que se sentia assim? Seria por ter conversado com May?
Olhou no celular corporativo e estranhou que seus colegas não tivessem ligado. Provavelmente lhe deram espaço ao notar que não estava em um bom dia.
Mais tarde, moveu-se inquieto na cama com uma necessidade sexual intensa vibrando no organismo por causa da memória do sonho. Seu corpo reclamava, insistia que a tensão sexual fosse descarregada, mas ignorou a sugestão de autossatisfazer-se. Não agiria como um adolescente que na primeira oportunidade corre para um banheiro para se manipular sexualmente. Não. Não agiria assim.💕
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Recomeço
Roman d'amourMaite cresceu rodeada de maldade, drogas e prostituição. Emergiu íntegra em meio à lama que viveu e construiu uma nova vida em que se dedica a resgatar e encaminhar viciados em drogas à recuperação. Wiliam é um homem amargo, austero, solitário. Sofr...