Capítulo 19

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Após deixar a residência de May, Wiliam aproveitou o horário e passou na agência para queimar reservas no tatame com os agentes que treinavam após expediente. Lá, teve que ouvir resignado as perguntas de Eugenio sobre o porquê de ter faltado à reunião de relatórios naquela quinta. Ele ignorou as preocupações do garoto, só respondeu que Julian era capaz de cuidar das equipes. Ao fim, Eugenio lembrou-o do que tinham visto dias atrás, a corrupção, extorsão. Wiliam fez pouco caso, dizendo que tinha outras preocupações pessoais e seguiu com seus exercícios.
Logo que saiu, ligou para Poncho.
"E aí, vai ou não? Any vai." Deu a opção. "Deve estar um tédio ficar na casa do meu pai sem nada para fazer." Comentou e acelerou o carro, após ter parado em um semáforo.
"Até que de noite o Eugenio tem me feito companhia. No mais, estou descansando. O dia-a-dia na promotoria não é fácil. De qualquer maneira, que horas você pretende estar lá?"
"Dez e meia. Vou chegar cedo, porque as meninas têm aula amanhã." "Tudo bem. A gente se encontra."
Onze horas, Wiliam encontrava-se no mezanino com uma lata de refrigerante na mão, ansioso, enquanto observava o movimento no ambiente, tempo esse em que as meninas dançavam serelepes no térreo. Notou de onde estava, alguns garotos com idades próximas a elas borboleteando sua garota, olhando-a de cima abaixo. Seu lado possessivo foi atiçado, fazendo-o fechar o punho irado. Ainda assim, ao notar que ela nem mesmo percebia os olhares, preferiu se ater ao que foi fazer lá, no segundo andar.
Minutos antes, quando estava no térreo com elas, presenciou algo curioso. Subiu as escadas o Capitão da DEA na Califórnia, seu chefe direto, Marcos. Por isso deixou as meninas na pista, subiu e o esperou para ver o que fazia ali. Já tinha se passado mais de meia hora, e May, mesmo acompanhada por Any, provavelmente estivesse inquieta, pois olhava de um lado ao outro, de certo o procurando, já que disse que ia somente buscar um refrigerante.

Um tempo depois, Marcos saiu da sala de reuniões da disco club entretido, sorridente. Deu dois tapinhas na costa de Iam e desceu as escadas. Quando Wiliam decidiu ir até o chefe cumprimentá-lo, quem sabe descobrir sua intenção, recebeu um olhar sombrio de Iam, o capataz de Sebastian, que segurou o olhar por segundos, enquanto Marcos descia, depois virou o rosto e desceu atrás de Marcos.
Algo naquele olhar o impediu de ir adiante. Pareceu uma ameaça... Ou alerta.
Desceu as escadas, pensativo, quando Iam sumiu, encostou-se a parede próxima a pista de dança e observou May dançar, enquanto deliberava o acontecido. O que Marcis faria ali? Seria algum tipo de investigação? Não podia ser. Marcos era um dos primeiros a malograr as tentativas de investigação contra Sebastian, logo não podia estar ali para investigar. Foi ele quem sempre assinou autorizações para suas pesquisas com drogas restritas no Estado da Califórnia. Portanto, se ele esteve ali, foi por amizade, não por investigação. E o que foi aquele olhar de Iam? Pensou. Será que Marcos não queria ser exposto? Ou será que Iam não queria que Wiliam fosse visto ali? Aquele olhar foi ameaça ou alerta, afinal? E por que ele o ameaçaria? Por ser policial e namorar May, uma menor? Ou seria um alerta para que não se metesse em negócios alheios? Deus, que quebra-cabeça! Isso parecia ser maior do que imaginava. Podia ser que o protetor de Sebastian fosse seu próprio chefe, por isso Sebastian nunca foi preso. Mas qual o papel de Iam nisso?
May percebeu seu semblante distante e continuou dançando e conversando com Any, desconfiada do porquê ele ter sumido. Ainda assim, esperou que ele viesse de volta até ela.

Ele continuou observando-a e dirigiu o olhar atento ao vestido pink, com lantejoula no busto, de alças, curto e um pouco folgadinho, isso além da flor na lateral do cabelo. Ainda que o vestido realçasse suas formas, nela era natural. Nada provocante ou indecente. Provavelmente ela nem soubesse sobre seu poder feminino ainda, por isso vestia-se e maquiava-se como adolescente. A maquiagem era delicada, não fatal. Seria o tipo de menina que se apelidava de fofa, não atraente.
Fechou o punho quando um garoto passou atrás dela e puxou uma mecha do cabelo. Ela o ignorou, mesmo assim, o garoto continuou perto.
Sabia que como adulto, teria que ter segurança, por isso só observou. Adulto... Rá, outro homem adulto não daria um segundo olhar ao tipo de patricinha que dava pulinhos ao som de Kate Perry, usava rosa e sorria espalhafatosa com a prima. Outro homem feito pensaria que aquela era hora de meninas como ela ir dormir, não querer derrubá-la na cama mais próxima e colocá-la na horizontal, como ele sempre pensava quando a via, e de preferência que antes ele passasse uma hora com a cabeça entre suas pernas.
Meu Deus, como um dia pode ludibriar-se que ela era promiscua? Estava escrito na testa: virgem ou recém-iniciada sexualmente.
Incapaz de ficar mais tempo vendo os adolescentes secarem-na, desencostou-se da parede e caminhou até ela.
"Oi, florzinha." Pôs o braço em volta de sua cintura possessivamente e enrolou nos dedos uma longa mecha do cabelo, que hoje tinha cachos artificiais que o lembravam muito a Angelique. "Seu refrigerante." Ofereceu, no mesmo instante olhou de canto um dos moleques que a cercavam. Ele vazou.
"Obrigada." Recebeu desconfiada, mas preferiu não perguntar onde ele estava. "Voltou pra roubar minha prima?" Any brincou. "Ela já ficou tempo demais com você. Acho que você agora devia ficar um tempo com seu marido." Provocou e apontou em direção a Poncho, que estava no bar.
"Acho que não." Virou de lado e voltou a dançar.
"Ele veio para ficar com você."
"Quem disse que eu quero a companhia dele?" Ergueu o queixo rebelde.

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