Domingo pela manhã, após o término da missa das crianças, nove horas, Maite segurou a mão de Peter e caminhou para o estacionamento. Iria deixar o menino em casa antes de seguir para a missão pastoral na Rua Spring. Antes de chegar ao carro, foi abordada por Daniel. Ele tinha superado a fase de dramas e tentava outra maneira de convencê-la a voltar.
‒ Eu sinto sua falta, Florzinha. Precisamos conversar ‒ segurou seu rosto nas mãos e acariciou-a. ‒ Eu preciso de você.
‒ Daniel, eu... ‒ tentou afastá-lo pelo peito, mas ele a abraçou e beijou sua bochecha. Droga, enquanto ele fazia drama era fácil dizer não. Mas quando voltava a ser o carente garoto, era difícil resistir. ‒ Hã, hã ‒ ouviu-se um pigarro. Daniel afastou-se e Maite deparou-se com olhos dourados tensos, mandíbula travada. ‒ Er, tem como você me dá uma carona? ‒ Wiliam pediu e apontou para a bicicleta que segurava ao seu lado. ‒ O pneu está vazio e... ‒ encarou-a enigmático, esperando que ela compreendesse.
A verdade é que estava perto, observando-a de longe, como em todos os domingos, e seu sangue subiu ao ver o bombado acossando-a. Assustou-o a impotência que sentiu. Pior, o quão ciumento ficou.
Peter, que tinha entrado no carro e rolava os olhos para a insistência de Daniel, desceu correndo ao ver Wiliam e lançou-se em seus braços.
‒ Oi, garotão! ‒ ergueu-o do chão. ‒ Quer ficar com o tio Wiliam hoje? ‒ propôs e beijou sua cabeça loura. Peter balançou a cabeça, assentindo.
‒ Boa ideia ‒ Daniel interpôs, insolente. ‒ Assim teremos um tempo para ficarmos juntos e mais tarde conversarmos despreocupados, Florzinha ‒ pôs os braços possessivamente sobre o ombro da garota.
May olhou-o com incredulidade, mas foi Wiliam que contrapôs.
‒ Não acho que Peter seja um impedimento para conversar ‒ olhou-o com superioridade. ‒ De qualquer maneira, após voltar, May vai almoçar co-mi-go, não com você ‒ pontuou desafiador, desceu Peter e encarou-o impávido.
Ela finalmente saiu do estático ao notar a postura ofensiva dos dois. Abriu a porta do carro e entrou.‒ Daniel, daqui a pouco conversamos, mas não vou almoçar com você. E Wiliam, Peter tem que ficar com o pai hoje. Se você quer a carona, desmonte a bicicleta e coloque-a no porta-malas ‒ determinou séria, abriu o porta-malas no botão e ligou o som do carro, ignorando-os. Era absurdo ter dois brutamontes rosnando um para o outro na porta de uma igreja. Pior ainda era Wiliam trocar-se com um menino de pouco mais de quinze anos!
Capturou pelo canto do olho Daniel encarando Wiliam, que deu um bufo, irritado, tirou uma chave estrela de sua pochete e desmontou a bicicleta. Peter ficou ao seu lado, prestativo. Minutos depois, entraram no carro e May deu partida séria e calada.
‒ Qual é o motivo do bico? ‒ perguntou Wiliam logo que viraram a rua de seu prédio.
‒ Lá em cima ‒ cortou-o, tirou seu cartão da bolsinha e passou na leitora da guarita. O portão do prédio se abriu, entrou e estacionou seu Lótus Elise ao lado do Porshe preto de Wiliam.
Subiram com as peças de bicicleta na mão. May foi direto para a sala, onde ligou no canal da Disney para Peter, em seguida caminhou para o quarto de Wiliam e esperou-o lá, sentada sobre a cama.
‒ Por que apareceu lá? ‒ inquiriu logo que Wiliam entrou.
‒ Porque estava passando por lá e o pneu murchou ‒ improvisou, intimidado pelo olhar inquisitivo da garota.
‒ Não minta ‒ levantou e caminhou em sua direção. ‒ Eu vejo você naquelas redondezas todos os domingos. Por que hoje resolveu falar comigo? ‒ apontou o indicador em seu peito.
Ele deu um longo suspiro rendido, passou a mão no cabelo e deu as costas.‒ Merda... ‒ praguejou baixinho, depois a olhou com olhos intensos. ‒ Eu não gostei de vê-lo tocar você ‒ disse, entre dentes. Ela respirou fundo e segurou o ar ao ver o fogo em seus olhos. ‒ Eu não sei o que deu em mim. Esvaziei o pneu da bicicleta e atravessei a rua rápido ‒ aproximou-se e segurou- a pelos ombros. ‒ Eu não quero que mais ninguém ponha a mão em você ‒ enfatizou irado e cobriu sua boca, possessivamente, exigindo resposta imediata. Sua língua moveu-se à procura da dela e ela teve que dar o que ele queria. Ele nunca a tinha beijado assim antes. Com raiva. Sua boca exploradora fez com que calor e arrepios se atassem ao corpo da garota, ela abraçou-o e encaixou-se sutilmente ao seu corpo. Ele notou o movimento e apertou-a ao seu quadril, com urgência de pura e descarada intimidade. Sugou ferozmente a delicada língua e impôs a sua demarcando posse, enquanto praguejava mentalmente por ela tê-lo deixado tão exposto.
Maldita fosse por ter invadido sua casa, por invadir sua vida, por fazê-lo viver, sentir... Maldita fosse por ter invadido seu gélido mundo e transformado nesse inferno pessoal, uma montanha russa onde não sabia como se comportar.
‒ Calma ‒ ela ofegou e tentou empurrá-lo. Ele apoiou o braço em sua coluna e fez inclinar-se para que pudesse beijá-la no pescoço.
‒ Eu quero que fique comigo. Quero que almocemos juntos ‒ exigiu.
‒ Hoje eu não posso ‒ murmurou baixinho. Wiliam parou o que fazia, afastou-se contrariado e pôs a mão na cintura.
‒ Por que não pode?
‒ Porque, não. Quando voltar da rua vou almoçar com Sebastian, depois iremos levar o Peter para passear ‒ justificou-se tranquila.
‒ Ah, Sebastian, Sebastian, Sebastian! ‒ exasperou-se movendo as mãos no ar. ‒ Por que ele tinha que aparecer na minha vida?! ‒ gritou, descontrolado.
Ela encarou-o com olhos céticos, achando sua atitude bizarra e infantil.
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Recomeço
RomanceMaite cresceu rodeada de maldade, drogas e prostituição. Emergiu íntegra em meio à lama que viveu e construiu uma nova vida em que se dedica a resgatar e encaminhar viciados em drogas à recuperação. Wiliam é um homem amargo, austero, solitário. Sofr...