Capítulo 7

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A semana seguiu tranquila. Sem acontecimentos relevantes. Mas durante as noites, seios redondos e cheios invadiam seus sonhos, levando-o a acordar tenso e ofegante. Droga.
O tipo de mensagem que recebeu de May também mudou desde segunda. Falava agora de sonhos.
"Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por omitir!"
Ele tinha suspeita de que personificou seu sonho àquela tarde, embora a atitude posterior dela dissesse que não. Não podia ter certeza. Deus ajudasse que não.
Quarta-feira, Wiliam trabalhava a todo vapor preparando uns papéis para uma reunião importante que teria quinta à tarde, passou apressado na sala da Inteligência para falar com Eugenio e ouviu uma conversa entre Paul e Martin.
‒ Eu daria tudo para lamber suas calcinhas ‒ Martin disse. Wiliam rolou os olhos para a falta de ética profissional do novinho, mas estava bem-humorado demais para ralhar com ele.
‒ Cara, olha o modo como você fala da mulher dos outros ‒ Paul alertou. ‒ Presta atenção no jeito como Rulli segura na mão dela. Parece dono.
A conversa ganhou total atenção do chefe, que virou bruscamente o rosto e dirigiu sua vista aos visores de câmeras internas do prédio.
‒ E daí? Puta que pariu, olha que pernas longas e torneadas! Eu a comeria bem devagar sobre a minha mesa ‒ Martin comentou fazendo um gesto obsceno com o quadril para frente e para trás na cadeira. Wiliam fechou as mãos em punho.
‒ Estão sem serviço?! ‒ perguntou, irado, desligou os monitores dos dois e saiu a fortes pisadas da sala, sem concluir o que iria fazer.
Andou de um lado ao outro em sua sala, curioso em saber o que Sebastian fazia no 4o andar. Não poderia ir questioná-lo por vários motivos, mas o principal era May. Se acontecesse uma discussão com Sebastian , o que era comum acontecer entre eles, ela descobriria a mentira e deduziria estar sendo usada.
De mãos atadas, sentou-se em sua mesa e ligou no 4o andar.
‒ DEA, Ariel, bom dia.

‒ Bom dia, Ariel. Aqui é o Agente Especial Levy ‒ cumprimentou-a atencioso. ‒ A Srta. Ana Brenda está?
‒ Sim, mas ela está ocupada.
‒ Com o quê?
‒ Está emitindo autorização que foi protocolada terça-feira.
‒ Hummm. Ariel, faz um favor para mim... De um jeito bem sutil, peça para Ana Brenda vir a minha sala com o documento antes de imprimir a autorização, ok? ‒ persuadiu-a. Ana Brenda atendia Sebastian.
‒ Ok, senhor Levy ‒ concordou atenciosa, pensando que não era normal o chefe de investigações pedir algo pessoalmente.
Ele desligou e todo o papel calmo que encenara foi para o espaço quando entrou no programa que mostrava as câmeras do prédio. May estava sentada ao lado de Sebastian, vestindo o uniforme escolar, ambos em frente à mesa de Ana Brenda. Suas pernas expostas na saia curta balançavam de um modo que lhe causou arrepio ver. Lutou consigo para não ir lá tampá-la com o paletó.
A porta de sua sala se abriu e Ana Brenda entrou.
‒ Com licença. Pediu para eu vir aqui?
Ele fechou a tela e estendeu a mão sem delongas para pegar o documento que ela trazia. Ela aproximou-se sem jeito pela recepção e lhe entregou os papéis.
‒ Eu não me lembro de ter visto nada em minha mesa sobre requerimentos do Sr. Rulli ‒ comentou, logo que leu.
‒ Quem assinou foi o Coordenador Marcus Gutierrez ontem à tarde ‒ explicou calmamente, mesmo notando a hostilidade usual.
‒ Mas o responsável por esse tipo de autorização sou eu, até porque tenho que fazer uma inspeção no local antes ‒ retorquiu, sério.
‒ O Sr. Gutierrez deixou avisado que esse pedido iria chegar e quando chegasse era para ir direto para mesa dele ‒ explicou, receosa.
Wiliam terminou de ler o documento e deixou os ombros caírem impotentes ao não encontrar nenhuma irregularidade. Sebastian era bioquímico e tinha autorização para pesquisas. Frustrado, entregou de volta o documento.

‒ Obrigado, Ana Brenda ‒ resmungou e esfregou os dedos no cabelo. ‒ E desculpe pelo meu humor ‒ adicionou descontente. Ela deixou a sala surpresa. Ele voltou a atenção ao monitor, puxou o zoom e presenciou sorrisos e carinhos. Fechou as mãos em punho desejando esmagar o crânio de Sebastian.
O restante do dia não foi nada agradável. Por consequência, tentou descontar toda sua ira no tatame. O agente Julian sofreu sua fúria. À noite, Wiliam não conseguiu dormir por causa da raiva inexplicável. E o mau-humor não se aplacou mesmo no dia seguinte.
Duas da tarde de quinta-feira, uma mensagem de May vibrou em seu celular, avisando que o esperava em sua casa. Ela não lhe deixou opção de negar, ainda que tivesse uma reunião agendada para as quatro. Sem saber por que não se opôs, saiu da agência ansioso como se seguisse para um combate. Lembrou-se de tirar seu distintivo de agente federal e colocar no bolso, tirou a arma do coldre de suspensório e pôs embaixo do banco, odiando-se pela mentira. Queria saber até quando sustentaria isso. Hoje tinha que dar um basta.
Encontrou-a sentada indiana no chão em frente à porta do apartamento com dois vasos de flores ao seu lado. Ela sorriu calorosa ao vê-lo, alheia à tempestade de sentimentos negativos no homem. Ele a encarou indeciso se descontava nela sua inexplicável raiva ou se simplesmente a admirava. Ela era a imagem jovem do errado. Vestia saia curta xadrez vinho com pregas, blusa de botão branca dobrada em três quartos e tinha o cabelo amarrado em um rabo com algumas florzinhas lhe enfeitando nas laterais. Era o traje típico do Junior. Enfatizava que ela era menor de 18. Após passar os olhos, hipnotizado, por seus joelhos e evocar lembranças do dia anterior, sua fúria de novo foi acesa.
‒ O que faz aqui? ‒ perguntou ríspido e se dirigiu à porta. Ela olhou-o perdida por sua atitude. Não entendia sua atual hostilidade quando segunda-feira foram tão íntimos.
Só você que sabe que foram íntimos, May. Ela censurou-se.

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