Capítulo 23

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Em silêncio, Poncho e Wiliam passaram em um Dunkin'Donuts, Wiliam comprou algumas rosquinhas e café e voltou
reservado ao carro. Passar por reclusão foi uma das piores sensações que experimentou como homem. De repente, coisas simples como um doce ou café mocha tinham outro valor. Enquanto comia, distraia-se com a estrada árida que afluía velozmente diante dos olhos. Olhou por um segundo para o Blackberry que recebeu junto a seus itens pessoais e suspirou amargurado. Não havia uma mensagem, um recado de voz. Deparou-se novamente com a solidão interna. Não tinha nada.
Um amigo. Alguém que se importasse.
Desceu do carro absorvido em si mesmo, necessitando de um banho, cama e esquecimento. Poncho observou-o
descer, notando o estado introspectivo e preocupou-se. Nunca viu Wiliam tão apático. Ele sempre foi teimoso e revoltado.
Sempre confabulando conspirações. Agora agia conformado e distante. Nem mesmo esmiuçou os últimos acontecimentos enquanto esteve fora.
Antes de dormir, Wiliam pegou seu celular, olhou-o por horas e ousou escrever uma mensagem. "Quero ver Peter amanhã."
Direto e incisivo. Peter traria um pouco de leveza a sua vida.
Ela não respondeu. Ele mudou na cama, olhou para o porta-retratos no canto da cama, segurou-o por segundos,
depois pôs de volta ao seu lugar. Não desistiria de insistir.
No dia seguinte, acordou cedo, num horário em que sabia que ela iria para a casa de recuperação, digitou uma
mensagem e enviou. "Vou pegar Peter para passearmos." Demorou dez minutos para que uma mensagem chegasse de volta. Enquanto isso, esquentou leite no microondas,
espalhou cereal no prato e sentou-se à mesa em frente a Poncho. "O que ele é para você?" Era uma resposta dura, sublinhada por hostilidade, mas pelo menos era uma reação. "Vocês dois são importantes para mim." Escreveu de volta, aproveitando a deixa. Tinha que começar a minar seus
muros.
Não houve resposta. Ele suspirou e tentou novamente. "Você não pode arbitrar sobre nosso relacionamento. Eu e ele somos amigos."
Disse sinceramente.
Pode sentir a acusação nas letras da mensagem seguinte: "Esquece. Você não é digno de confiança."

Wiliam não se deixou vencer, esquecendo por instantes do lanche matinal e dos olhos observadores do irmão. "Cuidei dele por meses durante sábados e alguns domingos." Argumentou, digitando freneticamente. "Eu sei. Inclusive ensinou-o a nadar sem que eu soubesse. Também o ensinou a atirar. O que mais você fez?
Levou-o ao *bordel da Jane?... Não. Fique longe de nós... Já não basta o que você fez?"
Wiliam fechou os olhos, inspirou longamente e saiu da tela de mensagem, aborrecido. "Dê mais um tempo a ela." Poncho, que dormiu em seu AP a fim de não deixá-lo só com sua clara depressão,
aconselhou quando viu sua carranca. "Quanto tempo, porra?" Indagou mal humorado e levantou arrastando a cadeira. "Não sei, Wiliam." Exasperou, atingido pelo humor áspero do irmão. "Você a envolveu nisso. Droga, ela é só uma
menina assustada. Se você está reclamando que seu mundo caiu, o dela se destroçou." Atirou impaciente. "Ela está se saindo muito bem para uma menina." "May não é uma menina." Resmungou, com o coração arruinado de intensa frustração. "Ela é, Wiliam." Poncho afirmou. "Você não a vê assim, mas é isso que ela é. Uma menina, assim como Anny o é. Eu
não queria que fosse, mas é o que elas são." Wiliam suspirou e parou de costas para ele, em conflito. Devia dar um tempo. A atitude intransigente dela era
somente conseqüência de seu ato, pensou. Agia assim no calor do acontecimento. "Okay, vou agir como adulto da relação e deixá-la respirar." Wiliam consentiu relutante. "E Anny?" Desviou o assunto,
vendo se assim ocultava sua dor. "Vai deixá-la no meu pai?" "Vou convidá-la para ficar comigo uns dias." "Você gosta dela?" Quis saber. Qualquer assunto era melhor que mente vazia. "Ela é uma coisinha teimosa. Às vezes tenho vontade de apertar sua garganta. Mas no geral gosto de estar perto
dela." Confessou espontâneo, depois sorriu de si. "É assim para você? Será que eu posso me considerar apaixonado?" Wiliam sentou-se novamente a mesa e voltou a comer, retraído. "Não sei... Eu não tenho vontade de brigar com
May. Nunca tive. Se tivesse outra chance, iria fazer muita coisa, menos brigar." Explicou nostalgicamente.

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