Capítulo 5

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Wiliam atrasou-se pela primeira vez em dois anos para reunião de ordem de missão semanal. Entrou sério na sala em seu terno preto, com andar tenso, dor no pescoço e costas por causa da tensão e frustração da noite.
‒ Bom dia, chefe ‒ Eugenio o cumprimentou. Wiliam tinha a aparência de que enfrentou insônia, o olhar caído, parecia mais velho. Ignorou os cumprimentos, pegou a pauta da reunião e leu em silêncio.
‒ Bom, vocês já sabem o que fazer ‒ dispôs apático, assinou as ordens de missão organizadas pela Inteligência, entregou aos líderes de equipes e caminhou para sua sala sem despedir-se. Os presentes olharam uns aos outros confusos.
Em sua sala, Wiliam fez um alongamento para ver se a dor nas costas e pescoço passava. O telefone da sua mesa tocou.
‒ DEA, Los Angeles, Agente Especial Levy.
‒ Pensei que você iria aparecer para almoçarmos ontem depois do que aconteceu sábado ‒ Rachel cobrou direta.
Ele suspirou, impaciente. Mais essa.
‒ Rachel, aquilo sábado foi... er... ‒ mediu as palavras para não magoá-la. Não iria despejar nela seu péssimo humor.
‒ Um erro? ‒ completou.
‒ Não um erro, mas... ‒ coçou a cabeça.
‒ Sexo casual, satisfação física, prêmio de consolo, remédio para esquecer outra ‒ enumerou ressentida.
‒ Não! ‒ negou energicamente.
Houve uma pausa de silêncio.
‒ Tudo bem, Wiliam. Se não é nada disso, vou te dar mais um tempo ‒ concedeu compreensiva. Ele balançou a cabeça cético pela sua insistência. ‒ Eu não vou desistir ‒ desligou. Ele jogou-se na cadeira, cansado e pôs-se a trabalhar.
Por volta de dez da manhã, Eugenio entrou em sua sala.
‒ Cadê as nossas rosquinhas Donuts? ‒ perguntou brincalhão. Wiliam ignorou o preâmbulo, virou a cadeira frente à janela de vidro e olhou compenetrado para fora enquanto mordia distraído a tampa da caneta.
‒ O que você acha que elas são dele? ‒ murmurou introspectivo.
Eugenio sentou-se à mesa.
‒ Não sei... Sei que ontem Anahi descobriu que sou tira ‒ informou. ‒ Cuspiu no meu rosto quando fui me explicar ‒ contou revoltado.
Wiliam abriu a boca perplexo.
‒ Sebastian viu você se explicando? ‒ quis saber, preocupado.

‒ Não ‒ deu de ombros. ‒ Porém, não deve ter passado despercebido que você não parou de secar a florzinha dele um minuto ‒ insinuou divertido, mas saiu como acusação.
Wiliam girou a cadeira e encarou-o. ‒ De onde tirou essa ideia? ‒ contrapôs aborrecido.
‒ Só você não viu. Tem que tentar disfarçar essa sua obsessão por Sebastian e por coisas dele. Vai matar seu pai de preocupação assim.
‒ Meu pai protege Sebastian! ‒ jogou a caneta na mesa, irritado.
‒ Eu não o culpo por isso. São amigos ‒ lembrou calmamente.
Wiliam iria discutir e explodir sua ira, mas foi interrompido por um toque de mensagem no celular. Ele leu, inspirou profundo, mais irritado ainda, e excluiu-a. Some da minha vida, garota!
‒ Me deixe sozinho ‒ determinou sério. ‒ Não estou para conversas hoje.
Eugenio registrou o celular dele sendo violentado raivosamente pela mão. Daria o mundo para saber o que ele leu.
...
Maite acordou exausta. Não pensou que a primeira noite em que dormiria sem Peter seria tão desgastante. Há mais de cinco anos cercava-o e vigiava-o a cada resmungo na madrugada. Dormiam abraçados.
Tomou a atitude de deixá-lo dormir só porque a psicóloga do garoto aconselhou. Disse que ele ficaria menos manhoso e mais independente. Doeu muito, pois, se para o bebê era difícil desligar- se, para ela era pior. Nenhum dos dois dormiu direito. Foi ao quarto dele dezenas de vezes durante a madrugada vigiá-lo.
‒ Você não vai hoje? ‒ Anahi perguntou ao notar que ela estava desarrumada e atrasada para ir à escola.
‒ Não. Vou passar o dia com Peter, já que não dormimos juntos ‒ explicou chateada.
‒ Pelamordedeus, May... Ele precisa disso! ‒ repreendeu e parou frente ao espelho, conferindo a saia jeans curta que usava.
Maite não estendeu a discussão. Ninguém a compreendia. Caminhou arrastando o chinelo para o quarto ao lado. Anahi seguiu-a e sentou-se no puff. Maite se deitou na cama de Peter e o abraçou protetoramente. Ele agora dormia um sono tranquilo, não mais choramingando como foi a noite toda quando sentia falta dela.
‒ Como está o seu lance com aquele cara, o ex-viciado em crack? ‒ Anahi questionou.

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