Cuidado com o que diz

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— Oi — disse-me Beatrice quando nos encontramos na manhã de sexta, seu quarto era do lado do meu, mas como eu vivia me atrasando nunca realmente nos encontramos por ali. Seu tom não era nem seco nem amigável, parecia profissional.

Deus do céu, essa menina tá de TPM, só pode.

— Oi — respondi com cuidado. — Você está bem?

Ela exalou uma respiração pesada.

— Você me acha santinha? — perguntou do nada.

Cocei a orelha para ganhar um pouco de tempo.

— Não, você só é mais reservada. Isso não é ruim.

Ela mordeu o lábio. Os olhos bonitos correndo para todo lado menos para mim.

— Caleb diz que gosta do meu jeito. Diz que eu tenho o jeito certo para princesa.

Legal, quer uma medalha?

— Eu também acho isso, o problema é que você é um pouco insegura. Tipo, Pietra disse que você é santinha, agora você está preocupada com isso — expliquei, me sentindo uma idiota.

Ela remexeu a saia do vestido azul.

— Eu fui criada assim, Alexia.

— Isso não importa. Se você é feliz com o seu jeito...

— E se eu não estiver feliz com o meu jeito? — desabafou.

Hein? Eu já não estava entendendo mais nada.

— Então como você seria feliz? Faça isso.

Ela suspirou.

— E se isso vai contra o que eu fui criada para ser?

— Você foi criada para ser livre.

Felizmente chegamos à sala de jantar e pudemos sair da nossa discussão filosófica.

Todo mundo comeu em silêncio, e o rei e a rainha não estavam ali.

Georgie olhava para Caleb de vez em quando e sussurrava algo só para o irmão sacudir a cabeça e retrucar desligado.

Quando ele se levantou, todas nós aproveitamos a deixa para sumirmos dali.

— Alexia! — uma vozinha gritou do corredor. Todas nos viramos para ver Georgie correndo afobado.

Tentei parar de pensar naquele ser louro. Aquilo não ia ajudar ninguém.

— Oi, Georgie. O que você está fazendo aqui? — apesar das minhas melhores intenções, não pude deixar de ter um pouco de desconfiança na  voz. Na outra vez que me procurou assim ele praticamente me jogou aos tubarões.

— Te procurando. Eu quero ficar com você. Meu tutor não pode vir hoje e Paige está ocupada com alguma coisa do Natal — ele fez um biquinho adorável.

Infelizmente Georgie tinha uma arma secreta que me incapacitava de inventar qualquer desculpa: a temível fofura. Aqueles olhos muito azuis naquele rostinho redondo desarmava qualquer um.

Também fiz bico.

— O que você quer fazer?

— Quero tocar piano — disse com a altivez de um príncipe. — Não, eu quero que você toque piano.

— Eu?

Ele fez que sim, com aquele sorriso lindo.

— Por favor, por favor, por favor! — implorou se agarrando à minha saia.

Uma nova princesa para uma nova Illéa [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora