Trégua

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Não fui para o jantar naquela noite, em vez disso obriguei minhas criadas inventarem qualquer desculpa pela minha ausência e capotei na cama sentindo uma fúria quase homicida direcionada à duas pessoas que até poucas horas antes eu confiava.

Eu não queria ficar ali me lamentando até porque não era o meu estilo, mas depois das últimas horas eu me dei a esse luxo. Me permiti agir como uma garotinha mimada que foi chutada no baile.

Foi com esse pensamento que eu dormi na noite em que Caleb e Pietra destruíram a pouca força que eu tinha.

Nossas famílias chegaram no dia seguinte, véspera de Natal, e eu estava simplesmente um caco. Fiz uma promessa silenciosa de não deixar ninguém estragar aquele dia, nem mesmo eu.

Não consegui dormir bem pensando em cada decisão estúpida que havia tomado desde que cheguei ali. Ter aceitado dar aulas de beijo para ele, ter contado minha vida e meus medos, achado que ele se importava. Baixar as barreiras que tão cuidadosamente fiz para não me ferir novamente.

Um erro atrás do outro. Exatamente como foi com meu pai.

— Senhorita?

— Diana. — Minha voz parecia meio morta. Assim como eu.

— Está tudo bem?

Não, não está. Aquele cretino mentiroso destruiu a minha alma. Você está cega?

— Um pouco indisposta. Acho que é apenas nervosismo.

Ela concordou.

— Gabe, pegue algo para senhorita tomar. Ela precisa estar muito disposta para receber sua família.

Como um raio preto e branco, Gabe saiu.

Marcie e Diana me ajudaram com o banho, aquilo me ajudou a relaxar, claro, mas eu ainda me sentia a ponto de desmoronar.

Burra, burra, burra.

Como haveria pessoas de todo canto chegando, a recepção foi marcada para o meio dia, então nós teríamos cinco horas entre o café da manhã e eles chegarem.

Cinco horas tendo que me alternar entre olhar para Caleb e para Pietra e evitar a vontade de esganá-los e dar barraco.

Não desci para o café com o vestido que usaria na recepção, esse que eu usava era muito simples, para os padrões das minhas criadas, porém muito lindo e delicado.

O remédio que Gabe arrumou estava começando a fazer efeito, senti-me menos preocupada e provavelmente não iria acabar fazendo nada de errado, embora perder a calma não me parecesse uma má ideia.

Sentei-me como sempre ao lado de Kayla. Pela primeira vez eu não fiquei chateada de sentar longe de Pietra e Beatrice.

Kayla sorriu de forma discreta para mim antes de retomar sua conversa com Emily.

Eu parecia tão mal que até uma pessoa que vivia para me atormentar estava sendo legal comigo? Que maravilha!

No Salão das Mulheres Pietra veio falar comigo.

— Todo esse mau-humor por causa do que você viu ontem? — Havia certa malícia em sua voz. — Não fique brava comigo, o que eu posso fazer? Não era para você ter visto aquilo.

— Não estou brava. Estou nervosa esperando as pessoas que eu amo chegarem.

Pietra sorriu e saiu de perto.

Respirei fundo.

Não vou ficar brava, não vou ficar brava, não vou...

— Vocês brigaram? — Beatrice chegou bem perto de mim para não ter que elevar a voz mais do que um suspiro. Maryse ficaria encantada.

Uma nova princesa para uma nova Illéa [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora