Irmão

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Caleb ficou rígido como uma estaca e eu cobri a boca dele com as mãos porque eu tinha certeza que a próxima coisa que sairia de sua boca começaria com guar e terminaria com das.

— Henry, que diabos você acha que está fazendo aqui? — sibilei zonza para meu irmão procurando alguma coisa para jogar nele. Uma faca seria ótima. — São três da manhã! Vai embora daqui.

— Feliz ano novo para você também, Alexia — Henry bufou descruzando os braços e caminhando na direção da cama. — Vejo que aproveitou a festa muito bem — ele indicou Caleb com um gesto do queixo.

Caleb finalmente se desvencilhou de mim e se levantou. Imitei seu gesto.

— Alexia, quem é ele? — sua voz estava magoada e irritada ao mesmo tempo, não havia o menor vestígio de sono.

Abri a boca mas não saiu nada. Eu não iria mentir para Caleb, mas dizer exatamente quem Henry era estava fora de cogitação.

— Henry Piper, à seu dispor — meu irmão se apresentou com uma leve reverência e sorriu para a minha expressão que dizia com todas as letras que eu ia esganá-lo.

Caleb olhou para mim com uma interrogação nos olhos. Ele não deixou de perceber que eu e Henry tínhamos o mesmo sobrenome.

— Henry é meu irmão — admiti baixando os olhos. — Ele já esteve aqui no palácio, lembra?

Caleb estreitou os olhos, descrente.

— Pensei que você só tivesse um irmão de seis anos que se chama Patrick.

— Longa história — afirmei segurando firmemente sua mão para impedi-lo fazer alguma besteira, tipo avançar em Henry.

— Acho que tenho um pouco de tempo para ouvir — sua voz, firme e levemente rouca, me fez estremecer. Caleb estava muito irritado.

— Eu e Henry somos filhos do mesmo pai, mas só muito recentemente eu descobri que éramos irmãos — contei em voz baixa.

— Quão recentemente?

Busquei os olhos de Henry e ele inclinou ligeiramente a cabeça para a frente, assentindo de forma discreta.

Voltei-me para Caleb.

— Então... se lembra da vez em que eu supostamente fui levada por rebeldes?

— A vez em que eu quase enlouqueci? — sua voz estremeceu quase imperceptivelmente embora ele tentasse fazer piada. — Claro.

— Hum, bem... não foram rebeldes. Foram Henry e alguns outros...

— QUÊ? — Caleb me interrompeu, ele não poderia estar mais furioso.

— Caleb, fala baixo, pelo amor de Deus. Se os guardas aparecerem...

— Você disse que eles não tinham te pegado, que você acordou sozinha no meio da floresta — acusou.

— Claro, porque tudo era muito confuso, quem iria acreditar em mim quando nem eu sabia direito o que estava acontecendo? E eu te conheço, você ia tentar ir atrás deles mesmo se eu garantisse que tudo estava bem, você acharia que eu estava tentando te acalmar — expliquei muito mais ponderadamente do que imaginei possível. — E realmente não aconteceu nada. Henry e Lynn só conversaram comigo, fim.

— Alexia...

— Caleb, confie em mim, sim? — sacudi a cabeça e olhei para Henry. — O que você quer uma hora dessas?

— Te desejar feliz ano-novo, maninha — ele sorriu, aparentemente fingindo não perceber ou não se importar com a situação crítica na qual havia me colocado. — Lynn queria vir mas achei melhor evitar, ela não anda se sentindo bem.

— Lynn — bufou Caleb para mim. — É por isso que ela foi com você me procurar naquele dia, porque vocês já se conheciam antes.

— Ótima dedução, gênio — Henry falou com um pouco de sarcasmo. Depois seus olhos se estreitaram. — Agora que tudo está às claras alguém me explica o porquê de você estar na cama da minha irmã.

Opa.

Opa duplo.

— Que tal voltarmos a falar de Lynn? — ofereci, esperançosa.

Os dois me ignoraram completamente.

Caleb se inclinou para a frente e, aparentemente sem pensar, abraçou minha cintura.

— Estou aqui porque sua irmã é a garota mais incrível que eu já conheci e, como você pode constatar com seus olhos, só estava apreciando a companhia adormecida de Alexia. Nada de mais.

— Com certeza acredito que suas intenções sejam as melhores — a voz de Henry tinha tanto sarcasmo que me deu vontade de rir. Caleb ficou levemente corado sob a luz parca que vinha da varanda aberta, mas se recompôs com muita facilidade.

— Henry, você já nos desejou um feliz ano-novo, será que já não está na hora de ir? Está muito tarde. — Falei o mais sutilmente que consegui, ainda assim foi agressivo e quase "VAZA DAQUI, MOLEQUE".

— Com certeza, amanhã apareço por aqui e eu falo com você a sós. Boa noite, Lexi. Alteza. — Henry fez uma leve e sarcástica reverência e saiu por onde entrou: pela porta da sacada. Com uma última olhada irritada para nós ele se jogou de lá.

Cobri a boca com a mão e fui olhar para ver se ele estava bem. Estava, constatei ao notar um vulto escuro correndo lá embaixo.

Fala sério, que dramático!

Olhei para Caleb bem a meu lado e caí na gargalhada com sua expressão estupefata.

— Desculpe por isso, eu não imaginei que ele pudesse aparecer aqui e agir como um idiota. Deve estar meio bêbado.

Caleb segurou minha mão e levou aos lábios. Ele estava um tanto pálido.

— Tudo bem. Nem estou irritado por você ter mentido para mim, não me incomodaria com seu irmão secreto me ameaçando — engraçado, sua voz indicava exatamente o oposto!

— Eu só não te contei porque Henry é filho ilegítimo e não queria que alguém descobrisse porque isso ia dar um rolo enorme — expliquei de cabeça baixa.

Caleb ergueu meu queixo.

— Você sabe que pode confiar em mim, Alexia. Você pode contar qualquer coisa a mim e eu sempre guardarei seus segredos, eu prometo.

Fiz que sim, emocionada com a intensidade da sinceridade em seu rosto.

— Vamos voltar para a cama — chamei pegando sua mão e ele deu um sorriso travesso.

— Vou para o meu quarto — disse inclinado-se para me beijar delicadamente. — É melhor evitar que essa cena se repita.

Caleb catou seus sapatos no chão e foi para a porta.

— Durma bem, Alexia — desejou-me do batente. — Amanhã é um dia importante.


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Enganei vocês direitinho kkkkkkkk Mas o próximo capítulo vai ser treta de verdade. Preparem os corações e os calmantes

~Beijinhos de luz  <3

Uma nova princesa para uma nova Illéa [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora