Prólogo

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Alguns anos atrás...

- Tem certeza que não quer ir comigo? - insistiu a ruiva enquanto ajeitava a alça da bolsa de couro sobre o ombro, prendendo o longo cabelo cacheado, e após ouvi-la, assenti levemente com a cabeça. - Está bastante escuro lá fora. - murmurou observando o estado em que encontrava-se a rua que situava a cafeteria, através de uma fresta da persiana que cobria completamente a vidraça da grande janela.

- Sim - reafirmei num tom baixo.

"Somente preciso terminar de empacotar os doces", comentei sem desviar o foco da embalagem plástica e transparentes. "Vá! Fecharei tudo quando eu for embora", prometi, virando-me para si com um pequeno sorriso em meus lábios.

- Okay - após analisar-me por um curto período e hesitante, a mais velha suspirou derrotada. - Tenha um bom fim de noite. - aproximou-se depositando um beijo casto em uma das minha bochechas. - Por favor, volte em segurança, okay? - ordenou olhando-me nos olhos.

- Farei isso. - retribui o olhar. - Não se preocupe, unnie, já sou grandinha, posso me cuidar. - dei-lhe um peteleco no centro da testa ao acabar de falar.

A ruiva enfureceu-se, por brincadeira, afastando-se de mim. Segundos depois, escutei o som da porta sendo aberta e fechada; com isso voltei o foco da minha atenção aos doces, estes agora embalados que eu arrumava perfeitamente e por ordem de cores, dentro da sacola colorida.

Ao terminar, olhei de relance para o celular sobre a bancada ao lado, notando que havia extrapolado o horário permitido do expediente.

Sendo assim desamarrei o avental claro do tronco, pendurando-o junto aos outros do mesmo semelhantes, trocando o par de saltos e polidos, por uma simples sapatilha já gasta, logo organizando o que tinha bagunçado na cozinha para não sofrer com a consequência no dia seguinte.

Coloquei a sacola dentro da bolsa enquanto desligava as luzes pelo painel, logo saindo e em seguida trancando o estabelecimento.

Despreocupadamente, caminhei pelo percurso mal iluminado e de pouca movimentação do quarteirão, não estranhando por estar fazendo-o praticamente sozinha por causa da hora, mas algo em meu interior indagou-se com o ambiente silencioso demais para o cotidiano da região.

O meu alerta foi acionado assim que estava prestes a virar na esquina, foi quando captei sons de passos vindos pela retaguarda. Entretanto ao passar o olhar rapidamente tudo em volta, percebi que não havia ninguém atrás de mim.

Temerosa e receosa, pressionei a bolsa para mais perto do corpo, apressando os passos, outrora lentos, a fim de que ficassem mais rápidos, já com medo do que poderia vir a ser.

Um tempo após ter caminhado a quantidade necessária para chegar próximo a minha casa, a sensação de perseguição ainda me afligia, então mudei o percurso da última parte para um meio atalho, por precaução, na tentativa de desviar a atenção.

No entanto, assim que pisei os pés na entrada do beco, algo duro chocou-se de frente comigo e fazendo com que o corpo fosse impulsionado na direção do chão por causa do impacto, caindo de qualquer jeito, ralando os meus antebraços na vão tentativa de frear.

Atordoada, ergui o meu tronco para saber quem fora o causador da ação, e mesmo com a franja cobrindo metade da minha visão, eu consegui enxergar o suficiente para tornar a ter pesadelos e insônia por dias, não pior, talvez por um tempo indeterminado, porque perante a minha presença, encontrava-se um dos meus maiores medos devorando-me com o seu olhar felino, semelhante a um predador vendo a sua presa predileta e valiosa.

O loiro alto, agachou-se para que me encarasse e eu o olhasse em uma altura comparativa.

Automaticamente senti um calafrio percorrer todo o corpo ao assistir o sorriso sádico e meio macabro, fazendo-se presente em seus lábios finos e rosados, pois temo mais a essa expressão do que ver o próprio diabo em carne e osso.

The Chance | YoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora