2: Chegada de Bernardo

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Bernardo levantou da cama cedo e arrumou suas coisas. Seus olhos ardiam de cansaço, não queria acordar a essa hora da manhã, mas seu cérebro se recusava a descansar.

Droga!

Via o lado bom: estava se mudando de volta para a casa de sua mãe. Só que agora ela morava em outro lugar. Um lugar onde a cama era grande o suficiente para que ele pudesse se deitar nela confortavelmente e dormir.

Pelo menos não vou me preocupar em ter que pagar por tudo sozinho, pensou.

Levantou-se da cama preguiçosamente. Os olhos ardendo de sono. O corpo protestando para que retornasse para a maciez da cama ao qual estava deitado. O calor de novembro não ajudava muito já que ele fora feito para ambientes quentes, o que o deixava bastante irritado.

Encaminhou-se para o armário de gavetas, onde pegou a enorme mala que estava por cima e o capacete logo ao lado. Abriu as gavetas uma a uma e colocou as roupas lá dentro, ajustando-as cuidadosamente para que todas elas coubessem na mala, afinal, não havia apenas roupas. Seus sapatos, que ficavam na parte debaixo do armário, agora estavam no alto dentro da mala.

Não havia muito mais que pudesse pegar ali. Tudo o que restava agora era sua escova de dente e o celular, ambos na mesa de cabeceira ao lado da cama. Encaixados no bolso lateral da mala ao qual colocou tudo o que tinha.

Olhou uma última vez para o quarto pequeno ― para ele ― para manter na memória que um dia esteve ali. A cama de solteiro pouco maior que ele com algumas tábuas quebradas em sua estrutura, não pelo peso dele, mas pelos moradores anteriores a ele. A janela de ferro barulhenta logo ao lado de cama que escorria água toda vez que chovia. O armário de gavetas do outro lado o que deixava um estreito corredor entre o armário e cama em direção à porta.

Estava feliz em estar deixando aquele lugar, porém, sentia como se estivesse deixando algo ali também. Por isso, verificou mais de uma vez se nada havia ficado para trás. Não, nadinha! Até mesmo a chave de sua moto vermelha estava no bolso de trás da calça que vestia. Os documentos ele teve o cuidado de guarda-los no bolso da mala antes de ir dormir. A mala já pronta, sendo segurada por um braço, o mesmo do qual ele também segurava o capacete.

Fechou a porta de ferro que gritou seu rangido metálico com o movimento, até mesmo o ato de trancar a porta fazia com que ela fizesse barulho. Passou pelo corredor com o apertado banheiro em uma ponta e o portão de saída na outra.

A sua moto vermelha estava guardada no pequeno estacionamento da parte da frente das quitinetes. Primeiramente, para sair com a moto, deixou o portão aberto, então, buscou sua moto, empurrando-a até sair pelo portão. Fechou-o e desceu o pedal de apoio da moto assim que a deixou na rua ao lado do meio fio da calçada. Foi até o portão da casa ao lado, apertando a campainha duas vezes e esperou até que a Dona Laurizete, uma lontra idosa, chegasse para entregar a ela a chave do quarto ao qual se hospedou por um tempo.

Ele a agradeceu pelo quarto.

― Por nada ― ela disse de volta. Sua voz rouca devido a idade. ― Se precisar voltar você já sabe como entrar em contato.

― Sim, sim ― ele disse de volta. ― Muito obrigado por tudo.

E assim ele retornou para a moto, tirando a chave do bolso traseiro. Colocou o capacete na cabeça e ajustou a mala em suas costas como se ela fosse uma mochila. Bem ajustada, ele deu a partida na moto, recolhendo o pedal de apoio com um chute.

Pela estrada pouco movimentada, seguiu-se alguns minutos ― quase uma hora ― até chegar à casa de sua mãe, que o aguardava na frente da casa. Era uma ursa com o pelo castanho da cor de chocolate assim como o dele, pouco mais corpuda que ele, e veio lhe abraçar assim que ele desceu da moto.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora