Abner teve que arrumar um emprego e conseguiu perto de casa, em um mercado. Seu pai estava indignado por ter que cuidar de doentes e quase nenhum dinheiro entrava em casa e o que entrava logo saía.
Os tios estavam quase totalmente curados, os avós estavam na metade do processo. Um dos primos decidira ir embora por conta disso. Seu pai ficou bravo porque acreditava que já estava perdendo o controle das coisas. Tentar acalma-lo só deixava a situação pior, Abner notou isso ao falar com ele. Depois desse dia, ele mesmo ficou irritado e não quis trocar palavras com o pai.
― O que está fazendo? ― questionou ao ver o filho saindo de casa, bem arrumado. ― Vai gastar dinheiro? Pode voltar para cuidar de sua família.
― Eu vou procurar um trabalho, pois estou cansado de suas reclamações ― gritou com o pai, o que o deixou zangado e ordenou para que o filho retornasse. ― Você não disse que precisamos de dinheiro? Pois bem, estou indo arrumar um trabalho.
Quando Juca colocou a mão no filho para puxa-lo para dentro, Abner retirou a mão dele, fazendo-o solta-lo.
― Eu já tenho vinte e quatro anos. Idade mais do que suficiente para escolher o que vou fazer ― gritou.
― É mesmo? Por que não volta para sua casa lá em Campo Grande?
― Você não consegue dar conta da casa sozinho quem dirá de quem mora nela ― Abner não queria mais desperdiçar saliva se irritando com seu pai.
O jovem lobo-guará tornou a caminhar e mandou currículo para vários lugares, mas só um aceitou e foi o mercado ali perto de casa.
Começou no meio da semana, acordando cedo para ir trabalhar e voltando no meio da tarde. Encontrava a expressão de desaprovação do seu pai em vê-lo trabalhar em vez de cuidar de seus tios e avós doentes. Quando havia chegado ali, tivera medo das expressões raivosas e furiosas de seu pai, contudo, esse medo foi passando conforme convivia com ele, até que chegou o ponto em que conseguia confronta-lo.
― Pai, é o seguinte: vou embora assim que meus tios melhorarem ― exclamou, falando de forma séria e definida.
― E seus avós? Quem é que vai cuidar? ― rebateu o pai, irritado com a conversa.
― O tio e a tia, e os primos ― respondeu. ― Vai ter quatro pessoas saudáveis nessa casa. E com você serão cinco. Não precisam de mim.
― E está achando que vai para onde?
― Do lugar que eu nem deveria ter saído pra começar.
― Ah, é assim? ― o pai ergueu a voz, apontando o dedo em acusação. ― Eles são sua família, e você vai abandonar todo mundo doente, se ferrando de dor, enquanto você fica festejando.
― Você é um belo de um pau no cu ― rebateu o filho.
― Como é que é? Repete na minha orelha levantada, moleque filho da puta! O mínimo que você tem que fazer é cuidar da sua família doente. Não. Isso não é mais que sua obrigação. Já não me basta pagar as contas que são altas e sustentar esse monte de lobo aqui em casa.
― Eu vejo você enchendo a barriga de cachaça e voltando bem tarde pra casa esses últimos dias ― apontou Abner de volta. ― Estou cansado de você! E já deixei avisado para todos dessa casa que vou partir independente da opinião.
Seu pai estava ingerindo muita bebida alcoólica ultimamente, o que deixava a situação complicada em casa. Ele tinha decência suficiente para não brigar na frente dos doentes, mas, de vez em quando, ao gritar com o filho, tio Tiago aparecia para apartar a discussão e isso conseguia deixar Juca quieto por um tempo.
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Bernardo e Abner
RomanceEm busca de conseguir algum dinheiro, Abner, um jovem lobo-guará, sai à procura de um emprego e acaba fazendo amizade com seu vizinho, Bernardo, um urso adulto, que demonstra um interesse no jovem lobo-guará além da amizade e um fim de semana pode s...