28: Hiena listrada

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Pedro era jovem quando chegou à casa de Bernardo e Abner. Eles eram legais. Eram dois machos e eles tinham uma forma engraçada de conviver, notou Pedro. Os dois adultos eram muito carinhosos entre si e também recebia carinho deles, contudo, era o carinho que um pai dá ao filho e ele queria que eles fossem seus pais.

Tudo começou quando tinha dez anos e seus tios hienas não sabiam o que fazer com ele, pois não tinham dinheiro suficiente e precisavam ir para outro lugar na esperança de melhorar de vida, mas sempre que conseguiam juntar uma quantia, lembravam-se de que tinham a Pedro para alimentar, o que os impedia de viajar. Mas a culpa não era do menino.

Ele morava na mesma rua em que vivam o urso e o lobo-guará e gostava de quando os encontrava, afinal, eles eram bem legais com ele e sempre deixavam com que a pequena hiena listrada desse abraços neles. Depois de tanto insistir para os dois machos, eles deixaram com que ele fosse dormir na casa deles uma vez ou outra, mas também teve que pedir a seus tios ― que deixaram com que ele fosse.

Pedro era uma hiena gordinha, natural para uma criança da idade dele, tinha o corpo cheio de listras assim como um tigre. Ele era da espécie das hienas listradas. Sua cauda era tão felpuda quanto a de Abner.

Eles eram dois adultos altos e gostava de brincar com eles, de subir nos ombros deles e tocar o teto, de desenha-los e também de brincar no videogame velho do Seu Abner. Os dois machos sempre faziam carinho em sua nuca e sua cabeça, e às vezes o provocavam com cócegas na barriga.

Os tios gostavam que o sobrinho passasse um tempo com o casal, mesmo que o menino não entendesse que eles eram um casal diferenciado. Talvez não entender era o que mantinha tudo mágico para o menino, pois nessa idade tudo o que ele queria saber era de brincar com quem lhe dava atenção e aqueles dois eram cuidadosos o suficiente para isso.

Em determinado dia, Abner encontrou Pedro sozinho na chuva. O menino estava todo molhado e a casa dos tios estava fechada. Pensou que os tios haviam-no abandonado, mas apenas ficaram fora mais tempo do que esperado. Foi então que chamaram Bernardo e Abner para uma conversa e falaram a respeito do menino.

Pedro havia presenciado a morte dos pais quando era bem jovem: aos quatro anos. Como os tios eram os parentes mais próximos, eles tomavam conta do menino. Mas a situação que enfrentavam nos últimos meses deixou tudo mais difícil. E eles estavam tendo dificuldade de se manterem ali.

Bernardo e Abner sugeriram adotar a criança por um tempo, afinal, os dois machos ficaram apaixonados pelo filhote e, sabendo daquela situação, poderia favorecer ambos os lados. Os tios poderiam voltar e buscar o sobrinho quando tudo melhorasse, sugeriu o casal homoafetivo.

Os tios decidiram fazer um documento para transferir a guarda para que os machos pudessem tomar conta do filhote. Os quatro foram para o cartório realizar a transferência, contudo, devido as leis de adoção e guarda para casais homoafetivos, apenas um dos machos pode colocar seu nome na transferência. Isso não era problema, afinal, ambos ficariam com o filhote.

― Eu não tenho mais idade para ficar fazendo filhote ― falou o urso. ― Mas eu gosto do Pedro e eu aceito cuidar dele.

― Engraçado que você adora brincar de fazer filhotes na minha bunda, não é? ― falou o lobo-guará depois de irem embora.

O casal e os tios trocaram contatos para informarem suas situações. Para Pedro, foi informado que ele viveria com os dois machos que ele gostava de brincar, o que o deixou muito feliz. E ele passou a brincar com eles todos os dias que quisesse.

Bernardo e Abner conversaram sobre a construção de mais um quarto e decidiram dividir a sala ao meio, onde metade dela foi direcionada ao quarto de Pedro, de modo que o quarto ficava ao lado do quarto deles.

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