4: Noite de jogo

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Abner já estava ficando preocupado com o passar dos dias até que recebeu uma ligação. Era para marcar uma entrevista para um dos locais aos quais mandara seu currículo. Seja lá o que foi que Bernardo colocou em seu currículo, funcionou e muito bem. Correu até a casa de Dona Benta para contar as novidades, o urso ficou feliz com isso e deu-lhe um abraço bem forte.

Nunca havia abraçado o urso, muito menos ele o abraçado, até agora, contudo, com a felicidade que estava sentido, nem se importou e o abraçou de volta.

― Que lugar e a que horas? ― questionou o urso para que assim pudesse fazer os preparativos para levar o lobo-guará até o local de entrevista.

Abner lhe informou que empresa era e o local. ― É aqui perto ― falou o lobo-guará. ― Finalmente, depois de muito tempo vou conseguir um emprego ― falou. ― Só fico preocupado se eles vão exigir meus diplomas.

― Não fique preocupado com isso ― garantiu Bernardo. ― Eles estão preocupados com a sua experiência, não com suas notas.

No dia seguinte, logo pela manhã, Bernardo já estava com a moto preparada, o capacete sobre a cabeça e o outro sobre o tanque da moto, esperando a chegada de Abner. Assim que o lobo-guará chegou, Bernardo lhe entregou o capacete que segurava. O lobo-guará colocou-o sobre a cabeça e colocou seus braços ao redor do corpo grande de Bernardo, o urso.

Chegando no local, Abner desceu da moto, deixando o capacete com Bernardo, que estacionou a moto próximo à calçada, esperando até que Abner terminasse a entrevista.

O lobo-guará entrou na empresa. Era bem grande por ser uma fábrica, contudo, a senhora do RH, uma doninha, apareceu e pediu para que todos os candidatos esperassem em um lugar específico no pátio onde havia alguns bancos para que pudessem sentar.

Eram oito pessoas presentes, sentadas nos bancos de madeira polida, com encosto para as costas, desenhada de forma linear, parecendo um banco de praça, contudo, bem bonito por sinal.

Abner ficou preocupado se conseguiria a vaga, pois ao olhar para seus concorrentes, questionou-se se teria capacidade de ser melhor do que eles. Alguns tinham a aparência bem séria e fechada, já outros eram bem descontraídos, onde contavam suas histórias de vida e suas experiências. Ao ouvir as histórias das experiências de vida dos candidatos descontraídos, ele refletiu sobre si mesmo: ele era bem quieto, não falava muito, era fechado em certo ponto, mas não conseguia passar esse ar de experiência que os fechados passavam; e ele também não era tão descontraído a ponto de conseguir fazer novas amizades assim tão facilmente. O que estava lhe faltando?

A doninha do RH surgiu e foi chamando os candidatos um a um. Quando um terminava a entrevista, o outro era chamado. Cada entrevista demorava alguns longos minutos. Quanto tempo demorava? Em média uns trinta minutos. Como eles conseguiam falar por tanto tempo? Simples: eles eram descontraídos o suficiente para manter uma conversa fluindo. Ele próprio não tinha essa capacidade. Julgou que os mais fechados e calados conseguiam ficar durante todo esse tempo por terem muitas experiências profissionais. Quanto tempo ele levaria? Vinte minutos? Dez? Talvez cinco se conseguisse falar bem devagar.

Quando chegou a sua vez, ele estava tremendo como uma vareta verde. Suas pernas estavam meio bambas, mas teve que se forçar a mantê-las rígidas o suficiente para poder andar até a sala do RH.

A sala era pequena com uma mesa que tampava quase metade da sala. Julgou que aquele fosse o escritório dela. A doninha sentou-se atrás da mesa e pediu para que Abner se sentasse na cadeira à frente. Ele obedeceu e se sentou da forma mais cuidadosa possível. Seu cheiro estava agradável, sem o uso de perfumes fortes, suas roupas estavam apresentáveis também e seus sapatos estavam limpos. Tudo para que pudesse causar uma boa impressão.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora