23: Cuecas

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Bernardo foi ao bar com George. Era perto de casa e ele bebeu até querer perder a consciência. Antes que isso acontecesse, George o levou para a casa dele para que pudessem beber juntos sem causar um caos na rua. Tudo o que Bernardo fez foi lembrar o passado e chorar pela falta de seu lobo-guará.

George também era um lobo-guará, só que, como Bernardo explicou, mais alto que Abner. Tudo o que o velho lobo-guará pode fazer foi dar um banho no urso e coloca-lo na cama para que o grandalhão pudesse dormir. Bernardo estava bêbado demais para fazer alguma coisa consciente.

Quando o urso pardo acordou, percebeu que estava na casa de outra pessoa. O que aconteceu? As memórias vieram bem devagar à sua mente, pois sentiu que sua cabeça era um prego sendo batido por um martelo gigante; cada batida parecia que seu crânio fosse estourar e espalhar os miolos no chão.

O urso descobriu-se sem camisa e estava usando apenas o short. A cama grande sobre a qual dormia não era a dele. O quarto amplo, com janela de vidro translucido e a cortina fina de cor amarela deixava a luz da manhã entrar, transformando as paredes brancas em amarelas devido ao impacto da luz na cortina. Um armário pequeno, porém alto, para que o dono da casa pudesse guardar suas roupas e sapatos.

Levantou-se da cama e foi até a porta, encontrando um pequeno corredor. De um lado, estava a sala, do outro, a cozinha. À frente do quarto, estava uma porta que dava para o banheiro. A casa era pequena, porém, espaçosa.

Caminhou para a sala, acreditando que encontraria alguém lá e encontrou seu mais antigo amigo deitado no sofá largo de três assentos, dormindo profundamente. No canto, uma TV grande presa à parede. Uma mesa com objetos decorativos estava logo abaixo da TV. Havia outro sofá menor, virado contra a parede e onde Bernardo se sentou.

Lentamente, o lobo-guará despertou. Os olhos se abriram e ele ergueu-se sobre o sofá, se espreguiçando, bocejando e virando-se para Bernardo.

― Rapaz ― falou. ― Você bebe, hein?!

Levantou-se do sofá e foi para a cozinha. Bernardo foi logo atrás. A cozinha era ampla como a sala, em um canto havia o fogão, a pia, os armários e gavetas, uma mesa para preparar a comida. Já no outro lado havia uma mesa ampla para serem colocadas as panelas e o almoço ser servido. Mas o lobo-guará foi para lá pegar uma das várias caixas de remédios que havia em uma cestinha de vime.

― Para ressaca ― explicou, pegando dois copos de um armário. Pegou uma garrafa d'água na geladeira e colocou água nos copos.

Os dois machos pegaram um comprimido cada, colocaram na boca e o engoliram quando tomaram um gole d'água. George pegou os copos e colocou-os na pia. Levou Bernardo à mesa, onde se sentaram. A cabeça do urso martelava de dor ainda. Logo iria passar ― assim esperava.

― Rapaz, eu tive que parar ontem, porque eu não consigo te acompanhar na bebedeira ― o lobo-guará riu, o que deixou o urso envergonhado, fazendo-o se esconder atrás das próprias mãos. ― O que é isso? Você já é um adulto de trinta e...

― Trinta e seis ― completou. ― Você já deve ter uns sessenta ― zombou o urso, tirando suas mãos do rosto e dando risada. ― Já deveria estar se aposentando.

― Tenho cinquenta e quatro ainda ― corrigiu o lobo-guará rindo da brincadeira. ― Estou velho, mas nem tanto.

― Você já era velho quando eu te conheci ― disparou Bernardo, brincando. ― Está mais velho e mais barrigudo.

― Eu? Barrigudo? Olhe só sua pança e eu que sou barrigudo? ― o lobo-guará riu, cutucando a barriga larga e arredondada de Bernardo. ― Eu só tenho uma pancinha.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora