5: Café da manhã

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Abner precisou de um momento para perceber a pressão de um estômago em suas costas e de dois braços grandes ao redor de seu corpo o pressionando contra esse estômago. Mais um momento e percebeu que acima da sua cabeça havia outra cabeça deitada na mesma direção que ele. Bernardo dormia tranquilamente, sua respiração estava regular e inaudível.

De certa forma, Abner teve a estranha sensação de se sentir acolhido, querido. Contudo, o corpo do urso junto ao seu causava a estranha sensação de calor e frio devido ao suor de seus corpos que eram refrescados pelo ventilador. O lobo-guará ficou com medo das reações que o urso poderia ter ao ser acordado bruscamente, mas precisava fazê-lo para poder se libertar. Quanto tempo mais aquele urso ficaria abraçado ao lobo-guará.

Abner, primeiramente, tentou erguer um dos braços do urso, contudo, era muito forte e ele não conseguia separar-se dele. O que fez com que o lobo-guará precisasse dar cutucões no urso para que ele acordasse e o soltasse. Em vez disso, o urso o puxou para mais perto, apertando-o ainda mais contra sua barriga em formato de barril.

Ainda mais pelo urso estar sem camisa, fazia com que tudo ficasse mais quente e seus corpos suassem. O peito forte entrava em contato com a parte superior das costas do lobo-guará, que se sentia esquisito e envergonhado por estar fazendo isso com um cara. Não era uma sensação ruim, mas não era algo com o que já havia lidado.

A única forma de se libertar do urso era, então, esperando com que ele acordasse. Isso não demorou muito, pois o grandalhão deu um longo bocejo e precisou de um momento para que sua mente grogue ficasse sã e ele entendesse que estava abraçado ao seu amigo lobo-guará recém-conhecido. Assim que entendeu o que estava fazendo ― e com quem ― o urso rapidamente soltou seu amigo, pedindo milhares de desculpas.

Abner achou engraçada a forma como ele estava pedindo desculpas e resolveu deixar para lá. O urso possuía um corpo bem expressivo, onde, no pedido de desculpas, suas mãos se moviam para cima e para baixo de forma gentil. O lobo-guará aceitou seu pedido de desculpas.

A barriga do urso fez o conhecido barulho de fome, o que fez os rapazes encaminharem para a cozinha e prepararem um café da manhã. Na porta da geladeira: um papel.

Vou sair para resolver uns problemas neste fim de semana. Se cuidem!

Era de sua mãe. Enquanto isso, Abner abria a porta da sala e ia embora. Mas ele ficou apenas uma noite. Será que ficou assustado com o que Bernardo tinha feito? O urso se amaldiçoou por isso. Era um idiota. Por que ele fez isso durante a noite? Na verdade, nem fora ele. Fora o seu subconsciente. Ele tinha feito isso enquanto dormia, então, não tinha consciência de que tinha abraçado seu amigo e ficado agarrado a ele durante a noite.

Idiota, idiota, idiota!

O videogame de Abner estava em seu quarto ainda. Talvez ele fosse voltar para buscar. Ele tinha que voltar para buscar. Decidiu que pediria desculpas outra vez assim que o lobo-guará aparecesse pela porta.

Assim que o lobo-guará apareceu é que entendeu o que ele fora fazer em sua casa: buscar uma toalha. Isso lembrou ao urso que ele tinha que sair e comprar uma própria para não ficar usando a de sua mãe. Faria isso mais tarde, disse a si mesmo, enquanto preparava o café.

― Você já teve namorada? ― perguntou Abner aleatoriamente.

― Já ― respondeu Bernardo rapidamente, despreocupado. ― Quer saber como foi? ― o urso se sentou à mesa diante de Abner e começou a contar a história de seu namoro. ― Bem, ela era uma pessoa legal, no começo, só que aí tudo começou a desandar porque eu fiz uma besteira.

― Que besteira? ― Abner quis saber curioso.

― Eu preparei peixe para a família dela toda comer e ela tinha me dito que o pai dela odiava peixe ― ele revelou. ― Só que não só isso. Ele torce para o Gamengo e eu dei de presente pra ele uma camisa do Copas, que é o time rival. Nossa... ― os dois começaram a rir. ― Ela quis arrancar minha cabeça ali. O pai dela quis arrancar minhas tripas ali.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora