14: O guaxinim na sauna (primeira parte)

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Sem mais notícias de Abner, Bernardo julgou que o pai dele estivesse o limitando. Por que um pai faria uma coisa dessas com o filho? Nem seu pai urso faria isso com ele ― e olha que ele era um macho bastante tradicionalista.

Até iria com Lucas para não deixa-lo sozinho em um lugar estranho, mas não estava muito afim de ver outros machos. Imaginou a sauna como um lugar onde haveria machos mais velhos que ele, suando em uma cabine quente pra caramba. Lembrou-se do dia em que ele e Abner se beijaram pela primeira vez.

Lucas, o guaxinim, arrumou-se no quarto de Bernardo. Havia trazido uma mochila pequena para trocar de roupa caso fosse preciso. Ele continuou usando as mesmas roupas que usou no dia anterior. Ainda não exalavam nenhum odor, contudo, com o suor molhando aos poucos a camisa, logo iria.

― Tem certeza que quer fazer isso? ― questionou Bernardo, duvidoso sobre a escolha de Lucas.

― Eu quero transar ― falou o guaxinim. Ele foi até a moto roxa dele ― que era menor que a vermelha de Bernardo ―, ajustou o capacete sobre a cabeça e se despediu.

Bernardo abanou a mão, despedindo-se de seu amigo guaxinim.

Lucas, primeiro, deu uma parada em sua casa para organizar algumas coisas que havia deixado fora do lugar. Sua casa era localizada no bairro vizinho ao de Bernardo. Poderia ir até a casa do urso sempre que quisesse.

A TV pequena na sala estava cheia de poeira. Deveria limpar a casa hoje, pensou, mas faria isso amanhã. Estava animado demais para ir à sauna. A única lembrança que tinha de sauna era a que entrou junto com o leão há muito tempo. A relação sexual que tiveram naqueles dois dias fora a melhor que já tivera na vida. Queria ter essa sensação de volta.

No quarto, ele revisou as coisas que tinha na mochila: um par de roupas, uma toalha, a carteira e um par de chinelos. Poderia ter tomado banho na casa de Bernardo, pensou. Ele era muito impulsivo para pensar nas coisas.

Checou tudo uma última vez antes de trancar a porta e ir para a sauna. À primeira vista, não aparentava ser um local muito grande. Parecia uma casa bem chique com uma entrada bonita e uma placa bem estruturada, porém, discreta. O objetivo daquela sauna era ser o mais discreta possível para as pessoas ali dentro, observou.

Estacionou a moto do outro lado da rua, em frente ao local da sauna. Tirou o capacete e apoiou-o no braço. Guardou as chaves da moto em seu bolso.

Foi até a porta de entrada que era de madeira polida e decorada com grossos vidros de cor roxa, que tinha o formato interno distorcido para que curiosos não pudessem ver o que tinha lá dentro. Abriu a porta e entrou. O saguão era bem espaçoso, de piso branco e azul, as paredes tinham uma mistura de azul e branco que chegavam ao teto. As luzes eram cobertas com placas que deixavam a iluminação suave aos olhos.

Atrás do balcão, um leopardo amarelo o observava entrar. Os olhos curiosos pela chegada do cliente. O leopardo era alto e, sentado à cadeira atrás do balcão, o fez parecer que tinha a mesma altura que o guaxinim. O uniforme de cor azul combinava com ambiente ao qual trabalhava.

Lucas aproximou-se do balcão de madeira, pintado de branco. Um pequeno vaso de plantas estava na lateral do balcão, decorando-o. O computador ficava na parte de trás do balcão e abaixo, escondido da vista para deixar a parte superior do balcão mais limpo e bonito para os clientes que chegassem. O guaxinim entendia disso.

Enrolado com as palavras, o guaxinim não conseguiu se expressar muito bem e o leopardo tomou a tarefa de explicar os serviços que eram oferecidos. Ele era educado e paciente, repetindo a explicação sempre que via uma expressão de dúvida no rosto do guaxinim.

― Então, o bar é à vontade? ― o guaxinim riu. O leopardo riu e balançou a cabeça em negação.

― Receberá um cartão magnético e uma chave para seu armário ― recapitulou o leopardo amarelo. ― O cartão é uma comanda, e tudo o que consumir deverá ser passado antes no cartão. Ao final, o cartão deve ser devolvido e valor será cobrado.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora