26: Quarteto

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Bernardo e Abner demoraram-se tanto no beijo que Régis e George tiveram que ir à cozinha para saber a razão da demora e deram de cara com o jovem lobo-guará e o urso pardo envolvidos em sua paixão, tanto, que nem notaram a presença dos outros dois ali.

Régis lentamente se aproximou e nenhum dos dois pareceu perceber a chegada do urso negro. Isso até serem cutucados e perceberem que os outros dois estavam ali. Desconcertados, os apaixonados se soltaram e arrumaram a mesa circular de madeira, que estava no meio da cozinha, para que pudessem jantar.

Colocaram as panelas sobre a mesa, assim como copos, pratos e talheres. Régis e George sentaram-se um ao lado do outro e os outros dois fizeram o mesmo. Abner tinha Bernardo de um lado e Régis de outro, já Bernardo tinha Abner de um lado e George do outro.

George e Régis olhavam seriamente para seus amantes enquanto que os próprios evitavam olhares, como se tivessem sido pegos fazendo algo vergonhoso. Régis olhou para os dois, analisando-os cuidadosamente e se lembrando dos detalhes que Abner havia dito a ele sobre quem amava; e Bernardo encaixava perfeitamente na descrição: ele, o urso pardo, era o macho de Abner.

O urso negro sentia um aperto no peito mesmo tendo dito ao seu jovem amante que o deixaria livre para partir. Não era fácil, pois sentia um afeto grande pelo jovem lobo-guará. Régis não imaginava que fosse Bernardo o amor da vida do jovem lobo-guará, o seu antigo amante. Isso o deixava feliz, pois era uma pessoa que sentia afeto também, mas...

George sentiu-se deslocado naquele ambiente. O jovem lobo-guará era amado por dois machos e o urso pardo também. Mas e ele? Quem o amava? Ele sentiu que não pertencia àquele ambiente. Ver o urso pardo e o jovem lobo-guará agirem da mesma forma indicava que aquele lobo-guará era o tal do Abner. Ele não sabia como se sentir com relação àquilo; não sabia se sentia ciúmes, se sentia raiva ou...

― Você é o Abner, não é? ― questionou o lobo-guará mais velho para o mais jovem.

Abner estava distraído pela timidez e a pergunta o trouxe de volta. ― S-sim! ― falou rápido, um pouco envergonhado de ter sido pego em flagrante.

― Abner ― chamou o urso negro, fazendo com que o lobo-guará chamado virasse seu rosto em direção ao de Régis para olha-lo nos olhos. ― Você quer ir com ele, não quer? ― o lobo-guará e o urso pardo se entreolharam, surpresos, sem saber o que responder. Abner gaguejou, pois não sabia o que queria. ― Eu sei que quer. Você mesmo me disse. Eu já estou velho pra ficar pressionando um amor que não vai dar certo.

― Mas você... essa casa... ― Abner embaralhava as palavras. ― Você gastou muito dinheiro pra vir pra cá! Essa casa...

― Sim, eu gastei um dinheirão para comprar essa casa. Eu gastei um dinheirão pra vir para cá ― Abner sentiu o peso daquelas palavras, com pena do urso negro, afinal, tinha concordado em fazer tudo aquilo por ele para no final ser abandonado. ― Você não é obrigado a ficar aqui!

― Eu não posso voltar para minha casa depois do que aconteceu em Rondonópolis ― lembrou.

― Bem ― Bernardo tomou vez na conversa. ― Você pode ficar lá em casa, comigo e com minha mãe...

― Que tal fazermos o seguinte ― interrompeu George, tomando vez também na conversa. ― Faremos um churrasco no fim de semana: comer, beber e, no final, um romance entre nós quatro.

Os outros três ficaram surpresos, as orelhas levantadas de surpresa. Bernardo e Abner estavam confusos, mas Régis estava excitado com ideia e ficou se ajeitando na cadeira de ânimo, refletindo. Houve um silêncio longo de reflexão.

― Vai demorar demais ― protestou Régis. ― Melhor fazermos agora! Mas depois que a comida descer. Vamos jantar primeiro.

Eles serviram-se e comeram em silêncio, olhando uns para os outros. Os mais velhos percebiam que os mais novos se olhavam, mas desviavam o olhar, como se estivessem escondendo um segredo ― que todos ali já sabiam.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora