6: Conto do primeiro beijo

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No bairro havia um lugar onde Bernardo poderia arrumar uma toalha para que sua mãe não lhe enchesse mais a paciência sobre ele usar a toalha dela para se secar. Abner foi junto para guia-lo e, aproveitando isso, também lhe mostrou o bairro. Ambos vestiram-se com roupas leves para não ficarem suando tanto enquanto caminhavam. Para Bernardo, só foi suficiente nas primeiras duas horas, depois, a camiseta começou a ficar molhada de suor nas costas e no peito, fazendo-o tira-la.

― Desculpa ― pediu o urso ao seu amigo. ― Tá muito quente.

Abner o guiou entre um campo, levando-o a uma quadra de futsal coberta. As vigas de concreto eram grossas para poderem segurar o teto de ferro bem alto, ao passo que deixavam um enorme espaço em aberto em suas laterais, ótimos para deixar o ar passar. As arquibancadas eram de concreto também, com dois degraus grandes e largos cada uma. As vigas que sustentavam o teto ficavam logo atrás.

O urso, animado com o tamanho da quadra, questionou quais eram os dias em que se jogavam ali. Abner foi sincero e respondeu que não era muito fã de futebol. Mesmo assim, o lobo-guará o informou de que, em outro campo, havia um grupo que marcava para jogar bola aos domingos. Essa informação fez com que o urso desse um largo sorriso no rosto.

Depois, Bernardo foi a uma mercearia, onde comprou cervejas para ele e um refrigerante grande para Abner, julgando que o amigo, sendo muito mais jovem que ele, não fosse chegado a bebidas alcóolicas. Seu julgamento estava certo quando voltaram para casa. Abner preferiu beber o refrigerante do que as cervejas. O urso bebeu apenas duas latas e deixou as outras na geladeira.

Assistiram TV por algum tempo. Enquanto isso, foi a vez de Bernardo perguntar sobre os relacionamentos de Abner. O lobo-guará ficou envergonhado, tanto, que o urso pensou que seu amigo tinha mudado de cor.

― Eu contei meus casos para você e você não vai me contar nada? ― indignou-se o urso por um momento.

― Bem... ― começou o lobo-guará. ― Eu beijei uma menina uma vez. Foi legal. Foi gostoso, só que... ― ele se enrolou nas palavras que queria dizer. Não era algo que ele falava com frequência. O urso podia sentir que o lobo-guará se questionava se deveria falar e como deveria.

― Me conta do começo ― pediu. ― Comece quando você a conheceu até o momento em que você a pediu em namoro e...

― Não pedi ― interrompeu Abner. ― Bem, eu a conheci na casa de uma amiga muito próxima. Foi essa amiga que nos apresentou e todos saíamos juntos para dar uma volta nos lugares, tipo praças, orlas e algumas feiras.

"Eu sempre fui tachado como o virgem do grupo. Creio que sempre serei. Tanto boca virgem como o virjão em si. Ela sempre andava ao lado da minha amiga e, de vez em quando a gente conversava. Nós só andávamos juntos quando o grupo todo de amigos estava junto. Erámos tipo um bando.

"Uma noite, ela e a irmã precisavam pegar o ônibus mais cedo. Todos nós as acompanhamos até o ponto de ônibus. E foi quando ela me perguntou se eu era boca virgem. Fiquei envergonhado, mas respondi que sim. Todos os outros confirmaram e eu fiquei mais envergonhado ainda. Mas foi aí que aconteceu: ela chegou até mim, me segurou pelo pescoço e me deu um selinho na boca. Só que ela falou para eu fazer direito e me mostrou como era um beijo.

"Todos ficaram olhando enquanto eu e ela nos beijávamos. Foi gostoso. Foi uma sensação que eu nunca senti na minha vida. Sentir a língua dela na minha boca e a minha na dela foi... foi ótimo. E nós dois fizemos isso por mais algumas vezes, só que a nossa amiga que havia nos apresentado ficou muito incomodada e a garota que eu estava beijando veio conversar comigo e pedir para que nós dois parássemos com o que estávamos fazendo.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora