Bernardo ajudou nas coisas das quais Abner precisava que fossem feitas em sua ausência. Os colegas de trabalho estranhavam sua ausência e a sentiram com pesar, como se alguém tivesse morrido. Não havia como dizer que ele não sentia falta, pois sentia muito profundamente. Era como perder uma parte de si.
Não contou para ninguém que a relação deles era bem mais próxima e mais íntima. Ninguém precisava saber disso, afinal. Sentia falta daquele corpo esbelto o desejando, dos músculos esguios e macios se pressionando contra os dele, da boca canídea que tinha um encaixe perfeito para que sua língua se demorasse dentro dela em um beijo que deixaria ambas as bocas lambuzadas de saliva.
Antes de sair, o lobo-guará estava indignado em ter que ir contra a sua vontade e, ao chegar lá, mudou de ideia e explicou cada detalhe da situação para o urso, que simpatizou com seu lobo-guará e concordou com sua mudança de opinião. Mas mesmo assim ainda o queria de volta. Logo as tarefas do lobo-guará vão se encerrar e eles poderiam ficar juntos novamente. Sempre que possível Abner telefonava e explicava a situação.
Um mês se passou, depois outro e depois mais outro. As ligações de Abner ficavam cada vez mais curtas e demoravam mais a acontecer. Até que Bernardo tinha que ligar para ele algumas vezes, só que quem atendia eram os primos, o que fazia com que ele desistisse da ligação. O que estaria acontecendo? Ele não conseguia entender o que estava ocasionando esse laço deles ser cortado assim aos poucos.
Conseguia sentir pela voz de Abner que ele queria mais tempo ao telefone, mais tempo com seu urso, contudo, havia alguma coisa o impedindo e Abner precisava dar desculpas para desligar. Não era com o lobo-guará que ele estava irritado, mas sim com a família dele. Por que não o deixavam falar com seu urso?
Bernardo queria ir até lá visita-lo, mas sabia que não poderia. Falou para sua mãe seu desejo de ir visitar seu amigo e ela o levou até a vizinha, que era mãe do seu namorado secreto, e ela lhe disse que isso estava fora de questão e explicou os vários motivos para tal. O urso ficou chateado e retornou para casa com um peso enorme no peito.
Seus amigos no trabalho notaram que ele estava muito diferente quando jogava bola nos fins de semana. Lucas, o guaxinim, o chamou para ter uma conversa com ele. Era um amigo bem baixo, mais baixo que Abner. O guaxinim chegava à altura de seu peito.
― Parece que aquele lobão-guará mexeu com sua cabeça, não foi? ― falou o guaxinim quando estavam apenas os dois.
Bernardo ficou em silêncio, olhando duramente para Lucas. Esse ato confirmou as suspeitas que o guaxinim tinha sobre o urso.
― Ah, eu sabia, era como eu desconfiava ― disparou o guaxinim. ― Você é gay.
Aquele apontamento fez com que o urso fosse embora, mas foi interrompido pela mão do guaxinim atrás dele. A mão dele foi facilmente retirada com um puxão leve. Não era necessário aplicar muita força.
― Eu não vou contar se você realmente for gay ― insistiu o guaxinim. ― Olhe, eu não ligo se você for, eu só quero entender.
Bernardo parou para ouvir essas palavras. Ele refletiu se deveria contar ou não. Questionou-se há quanto tempo Lucas estaria desconfiado da sexualidade dos namorados secretos. Será que deveria contar alguma coisa a ele? Ele estava se sentindo sem graça e não conseguia tomar uma direção. Ir embora ou contar a ele?
― Olha, eu e o Abner somos só melhores amigos e...
― Vamos pro bar, eu pago ― cortou Lucas e levou o grandalhão para um bar onde continuou fazendo as perguntas, mas de forma mais discreta. ― Confirma pra mim então: você é aquilo que não dá pra falar?
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Bernardo e Abner
RomanceEm busca de conseguir algum dinheiro, Abner, um jovem lobo-guará, sai à procura de um emprego e acaba fazendo amizade com seu vizinho, Bernardo, um urso adulto, que demonstra um interesse no jovem lobo-guará além da amizade e um fim de semana pode s...