10: Partida

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Abner recebeu uma visita inesperada certa manhã: seu pai. O que ele estaria fazendo ali? Foi um susto vê-lo ali. O que ele queria?

Pai e filho se abraçaram de emoção. O pai e o padrasto se limitaram a apertar as mãos e terem uma rápida conversa. O pai e a mãe tiveram uma conversa sobre o filho, além do que fizeram da vida no tempo em que não se viram.

Juca, o pai, conversou bastante com o filho sobre o que fizera desde a última vez em que se viram. O lobo-guará adulto estava animado com a conversa, tanto, que quase tomou toda ela.

Assim que seu pai terminou de falar, Abner falou das coisas que fizera desde a última vez em que viu seu pai. Havia muita coisa, claro, contudo, como Abner não tinha jeito com as palavras ainda, falou tudo da forma mais resumida possível. Seu pai exigiu que falasse mais, então Abner repetiu as coisas, só que com mais detalhes, muito mais detalhes, que chegavam a irritar, mas seu pai ficou imerso na conversa.

― E o futebol? ― ele sabia que Abner não gostava, contudo, o jovem lobo-guará tinha uma carta na manga, e contou as histórias de suas partidas de futebol com os colegas de trabalho. Seu pai ficou irradiado com as palavras que eram ditas, escutando tudo, feliz em saber que o filho estava se socializando bem.

Juca se reuniu com a mãe do rapaz e o padrasto também. Deixaram Abner de fora da conversa e pediram para que ele fosse fazer alguma outra coisa. O jovem lobo-guará foi até a casa de Dona Benta para ver Bernardo. Encontrou o urso no quarto dos fundos, de cueca ― que estava molhada pelo suor de ficar ali dentro. Abner começou a suar em pouco tempo e tirou sua camiseta para que ela não ficasse molhada de suor.

― Você ― falou Bernardo ao vê-lo chegando. Aproximou-se de seu lobo-guará e colocou seu braço ao redor dos ombros dele. ― Vai estar ocupado hoje?

― Vou, infelizmente. Meu pai chegou de viagem ― informou. ― Sua mãe vai sair amanhã, não vai?

― Hoje ― corrigiu o urso.

O lobo-guará não queria perder a oportunidade de passar um tempo íntimo com o urso. Pensou em uma desculpa para dar a seu pai assim que voltasse para casa, afinal, ficar com ele era um misto de alegria e raiva. Seu pai sempre tentava incomoda-lo de alguma forma, contudo, também nunca deixou faltar nada dentro de casa, o que fazia com que fosse respeitado. Mas seu padrasto também não deixava faltar nada e, apesar de rígido, conseguia ser mais compreensível que seu pai. Juca era rígido e não gostava de compreender a situação, mesmo que fosse calmo na maior parte do tempo; agia conforme os conceitos tradicionais. Imaginou o que pensaria se descobrisse que seu filho tinha um caso com um macho e, ainda por cima, um urso. Não bastava apenas se envolver com um macho como também tinha que se envolver com alguém maior e mais velho, diria seu pai.

― Ele deve ser bem chato ― observou Bernardo. ― Sua cara de desânimo me conta isso.

― Ele é bem rude e tradicionalista ― explicou. ― Vou tentar fazer a cabeça dele para que eu possa dormir aqui hoje à noite.

― Ué?! Mas seu pai não tem poder de decisão aqui, ou tem?

― Ele acha falta de respeito sair ou fazer outra coisa quando tem visitas em casa ― explicou.

― Mas ele é a visita ― apontou Bernardo. ― Quem tem que entender é ele.

― Ele não gosta de entender ― revelou Abner. ― Ele é bem chato.

― Oh, droga ― resmungou Bernardo bem baixinho. ― Acho melhor voltar antes que ele fique irritado, certo?

― Ele meio que me expulsou da casa por uns minutos ― revelou Abner. ― Temos um tempinho.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora